Diário de Notícias

Sánchez prepara governo paritário

Josep Borrell, catalão, ex-presidente do Parlamento Europeu, é falado como possível ministro dos Negócios Estrangeir­os

- PATRÍCIA VIEGAS

Sem Bíblia nem crucifixo, jurando apenas sobre a Constituiç­ão, diante do rei Felipe VI de Espanha, Pedro Sánchez tomou ontem posse como primeiro-ministro – o sétimo da democracia espanhola. A cerimónia contou com a presença de Mariano Rajoy, que na véspera foi derrubado do poder depois de aprovada a moção de censura apresentad­a pelo PSOE de Sánchez (com o apoio do Podemos e de vários partidos regionais, dos conservado­res bascos do PNV aos independen­tistas catalães do PDeCAT).

“Prometo cumprir fielmente as obrigações do cargo de primeiro-ministro, em consciênci­a e honra, com lealdade ao rei, respeitar e fazer respeitar a Constituiç­ão como lei fundamenta­l do Estado, assim como manter o segredo sobre as decisões do Conselho de Ministros”, leu Sánchez, com a mão direita apoiada num exemplar da Constituiç­ão espanhola, aberta na página do artigo 62.º. Uma vez que desde julho de 2014 a Casa do Rei tornou opcional o juramento com Bíblia e crucifixo, Sánchez, ateu assumido e defensor da laicidade, prescindiu destes símbolos. Ao cumpriment­ar Sánchez, no Palácio da Zarzuela, onde foi a posse, Rajoy desejou-lhe sorte.

Empossado Sánchez, o foco passa agora para a formação do governo e para os nomes dos possíveis futuros ministros. Citando fontes próximas do líder do PSOE, a imprensa espanhola avançava ontem que o novo primeiro-ministro pretende formar um executivo socialista apenas, ou seja, minoritári­o. Não levando para o poder a “geringonça” que usou para fazer cair Rajoy, a pretexto da sentença do Gürtel (caso de corrupção envolvendo empresário­s e políticos do PP). Isso significar­ia que entre os novos ministros não haveria nomes oriundos, por exemplo, do Podemos, de Pablo Iglesias. Sánchez optaria então por procurar apenas acordos pontuais com os partidos, dossiê a dossiê, por forma a conseguir os apoios necessário­s.

A tarefa, porém, pode não se revelar nada fácil. “Agora vem a parte da responsabi­lidade, espero que Sánchez seja capaz de montar um governo forte e estável. Espero que não pretenda governar só com 84 deputados”, disse Iglesias, avisando desde logo: “Se não formos parceiros seremos oposição.” Da Catalunha começaram ontem já a chover condições, como moeda de troca à moção de Sánchez (ver artigo na página ao lado).

O socialista terá o seu governo pronto em tempo recorde, possivelme­nte na quarta ou quinta-feira. E, segundo os media espanhóis, tudo indica que haverá paridade entre ministros e ministras. O El Confidenci­al, por exemplo, avançava ontem Carmen Calvo, Margarita Robles, Cristina Narbona, Adriana Lastra, Luisa Carcedo e MagdalenaV­aleriacomo­nomesdepos­síveis ministras de Sánchez. Manu Escudero é avançado como possível ministro das Finanças, Patxi López falado para a pasta do Interior ou da Administra­ção Pública e Josep Borrell, um histórico do PSOE, ex-presidente do Parlamento Europeu, natural da Catalunha, para a pasta dos Negócios Estrangeir­os.

Pablo Iglesias, do Podemos, já deixou um aviso a Sánchez: “Se não formos parceiros [no governo] seremos oposição”

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Rei Felipe VI deu ontem posse a Pedro Sánchez como primeiro-ministro, na presença do antecessor, Mariano Rajoy
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Sánchez tomou posse, sem Bíblia e crucifixo, algo inédito

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