De volta à casa de partida: novo governo catalão quer diálogo e independência
Executivo toma posse mais de cinco meses após eleições e depois de o novo presidente deixar cair os nomes dos políticos a contas com a justiça. Quim Torra quer conversar com Pedro Sánchez, mas não abdica do secessionismo
Quim Torra ladeado pelos novos conselheiros Pere Aragones e Elsa Artadi
CATALUNHA
CÉSAR AVÓ O presidente da Generalitat, Quim Torra, apelou ao novo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, para abrir um novo capítulo nas relações entre Madrid e Barcelona, mas o primeiro gesto do novo governo foi o de exibir uma faixa a pedir a liberdade dos “presos políticos”. As declarações coincidiram com as tomadas de posse do governo espanhol e catalão. O primeiro resulta da moção de censura votada na sexta-feira no Parlamento espanhol, o segundo mais de cinco meses depois das eleições regionais.
“Primeiro-ministro Pedro Sánchez, falemos, tomemos conta do problema, assumamos riscos, você e eu”, disse Torra, alguns minutos depois de o socialista ter prestado juramento em Madrid. “Nós temos de nos sentar na mesma mesa e negociar, de governo para governo. A situação em que nos encontramos não pode continuar, nem mais um dia.”
Apesar de ter apelado para o diálogo, não se pense, contudo, que Torra tenha apresentado um discurso conciliador para com o poder central. Primeiro, ao delinear como objetivo a restituição do governo anterior à instauração do artigo 155.º da Constituição espanhola. Depois, ao lembrar o resultado do referendo (ilegal) sobre a independência da Catalunha, que se realizou em 1 de outubro, para reafirmar o compromisso de “criar um Estado independente em forma de república”, e que foi “revalidado nas eleições de 21 de dezembro”.
“Acaba-se o 155.º sem euforia porque estamos muito longe de onde queremos estar”, disse ainda.
Por fim, Torra prometeu um “governo para todos” seguindo os valores da república para alcançar a “melhoria do bem-estar dos cidadãos”. Aos 13 novos conselheiros (o equivalente a ministros), sete homens e seis mulheres, recordou-lhes a responsabilidade no cumprimento do “mandato republicano e democrático” que terá como objetivo uma “república que é a casa de todos”.
No início da cerimónia, familiares dos políticos presos – Oriol Junqueras, Jordi Turull, Joaquim Forn, Josep Rull, Raül Romeva, Carme Forcadell – e no estrangeiro – Lluis Puig e Toni Comín – leram as cartas de renúncia aos cargos que Quim Torra pretendia restituir. Um ato simbólico e emotivo, presenciado pelos ex-presidentes Pascual Maragall, José Montilla e Artur Mas. Maragall, de 77 anos, apesar do avançado estado da doença de que padece, não faltou à tomada de posse do irmão Ernest, dois anos mais novo.
Ao lado dos antigos presidentes, um lugar vazio com um laço amarelo em homenagem a Carles Puigdemont, o antecessor de QuimTorra, que aguarda na Alemanha o resultado do processo de extradição.
Madrid recusou o primeiro executivo anunciado em 19 de maio por Torra, que incluía quatro conselheiros presos ou exilados na Bélgica desde a declaração de independência de 27 de outubro.
Mas o presidente catalão divulgou na terça-feira uma nova lista sem a presença desses independentistas e o governo de Mariano Rajoy, num dos últimos atos, deu luz verde na sexta-feira ao novo executivo da Catalunha.
No final da cerimónia em que que os conselheiros juraram cumprir “de acordo com a lei” e “com lealdade ao presidente da Catalunha”, o grupo reuniu-se para a primeira reunião – a última do governo catalão realizara-se no dia 24 de outubro.
Na segunda-feira, os novos conselheiros devem ocupar os respetivos gabinetes, ao passo que Torra irá visitar os ex-conselheiros detidos em prisão preventiva. Junqueras e Forn estão no cárcere há sete meses. No final da reunião do novo governo foi afixada uma faixa no balcão do palácio da Generalitat: por baixo da bandeira catalã, pede-se a “liberdade para os presos políticos e exilados”, em catalão e em inglês.
“Ato separatista”