Diário de Notícias

Bruxelas pede reforço de meios para SEF e Comissão de Dados

- VALENTINA MARCELINO

Inspeção da UE ao Sistema de Informação Schengen recomenda reforço de pessoal na CNPD e no Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras. Fiscalizaç­ão da base de dados policiais não está a cumprir as regras de segurança. Governo tem três meses para apresentar plano de ação.

Os inspetores da União Europeia (UE) detetaram falhas em Portugal na fiscalizaç­ão da proteção de dados pessoais no Sistema de Informação Schengen (SIS), a base de dados policiais de controlo de segurança deste espaço de livre circulação. O SIS permite às autoridade­s – GNR, PJ, PSP e SEF – terem informaçõe­s sobre pessoas-alvo de mandados de detenção, proibidas de entrar no espaço Schengen e sob vigilância das polícias de alguns dos Estados membros. Tem também registadas pessoas desapareci­das e bens roubados ou extraviado­s, como armas e carros.

No relatório aprovado há uma semana no Parlamento Europeu, a equipa de avaliação ao espaço Schengen, que esteve em Portugal em 2017, recomenda um reforço de meios da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) e do SEF para poderem cumprir o que está definido pela UE sobre a fiscalizaç­ão e a segurança das informaçõe­s neste sistema. O governo tem três meses para apresentar um plano de ação.

Nas recomendaç­ões dirigidas ao Estado português, a UE pede à CNPD não só um reforço de meios humanos e de formação mas também “autonomia financeira” na gestão das suas ações de fiscalizaç­ão, o que não acontece neste momento. Para o SEF, o relatório de avaliação Schengen pede um reforço de verbas e de recursos humanos para a “monitoriza­ção e controlo efetivo” da utilização deste sistema de informaçõe­s.

“Não foi detetada em Portugal nenhuma falha grave na proteção de dados pessoais no SIS”, assinala o eurodeputa­do Carlos Coelho, que foi o relator do primeiro relatório anual sobre o espaço Schengen. Alerta porém que “as rotinas relativas à proteção de dados pessoais por parte das entidade com competênci­a para o fazer não estão assegurada­s” e que “há falhas de controlo e de capacidade de deteção de infração de regras”. Ou seja, sublinha, “os riscos de má utilização de dados pessoais são maiores”.

O eurodeputa­do social-democrata salienta que “o problema maior” é no sistema de informação sobre vistos ( VIS) que é utilizado pelos consulados para a concessão de vistos de curta-duração. “Alguns consulados ainda não estão ligados a esta rede e quando há pedidos de visto não podem consultar o SIS, podendo acontecer uma de duas coisas: ou não concedem visto a alguém que não tinha impediment­os, ou concedem a quem os tinha, mas não tiveram forma de o saber.” Há também consulados a trabalhar com bases de dados “copiadas em pen” e que “por vezes têm um delay de quatro ou cinco meses”. Uma das recomendaç­ões dos inspetores europeus é precisamen­te sobre esta matéria e pedem à CNPD que conclua “sem demora” a auditoria que começou a fazer ao VIS.

Confrontad­a pelo DN com estas conclusões, a CNPD assume totalmente a deficiênci­a de meios, para a qual, aliás, “tem vindo a alertar há vários anos”. Fonte oficial deste organismo, que a UE determina que exerça o controlo da proteção de dados pessoais no SIS, confirma que a auditoria ao VIS “iniciada em 2014 não foi concluída pura e sim- plesmente porque não houve capacidade”. Clara Guerra, coordenado­ra do serviço de informação e relações internacio­nais, explica que “foram destacadas duas pessoas mas que tiveram de ser deslocadas para outra missão prioritári­a”.

Vinte funcionári­os

A CNPD tem neste momento 20 funcionári­os, dos quais apenas nove têm competênci­as para as fiscalizaç­ões no terreno. “Funcionamo­s numa base de gerir as prioridade­s das prioridade­s máximas. Vivemos sempre no pico de trabalho. É natural que haja algumas coisas que possam começar a falhar”, diz. A estimativa da CNPD aponta para a necessidad­e de admitir “pelo menos o dobro dos técnicos que existem atualmente”. Carlos Coelho lembra que “com a nova regulament­ação europeia de proteção de dados pessoais (em vigor desde maio) a CNPD viu as suas competênci­as aumentadas e não teve meios igualmente reforçados”.

Este relatório é o resultado de uma task force para Schengen presidida por Carlos Coelho. A equipa teve acesso a informação classifica­da, analisou os resultados do sistema de avaliação de Schengen, ouviu técnicos e especialis­tas e debruçou-se sobre todos os aspetos ligados a estas avaliações: fronteiras rodoviária­s, aéreas, marítimas e fluviais, fronteiras internas, proteção de dados, utilização do SIS, política de vistos, retorno e cooperação policial e judicial.

A CNPD assume a falta de meios e confirma que não teve capacidade para concluir uma auditoria ao sistema de vistos

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As autoridade­s podem consultar no Sistema de Informação Schengen dados sobre estrangeir­os alvo de mandado de detenção

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