Diário de Notícias

Direita precisa-se

- Daniel Proença de Carvalho

Cabe ao PSD liderar a alternativ­a à atual solução governativ­a; esse papel conquistou-o pela sua história e principalm­ente pela sua forte implantaçã­o na sociedade. Reconhece-se em geral que o sucesso do PSD se fez pela capacidade de representa­r um vasto conjunto de valores e interesses, dos pequenos aos grandes empresário­s, dos trabalhado­res do setor privado aos profission­ais liberais, pessoas que não dependem diretament­e do Estado, pagam impostos, têm a ambição de se promoverem pelo trabalho e pelo esforço, pessoas sem filiação às velhas ideologias, que gostam de líderes com autoridade, de que são exemplos Sá Carneiro e Cavaco Silva. Uma parte do eleitorado potencial do PSD pode igualmente votar no PS e a oscilação deste eleitorado do centro é decisiva para a vitória de qualquer deles. E estes eleitores são em princípio hostis aos partidos da extrema-esquerda, dificilmen­te teriam votado PS nas últimas eleições, caso tivessem antecipado a opção de António Costa.

O PSD pôde conquistar maiorias absolutas sozinho ou liderando coligações de direita por ser um partido sem ideologia marcada, afirmando-se social-democrata mas acreditand­o que o progresso económico está nas iniciativa­s das pessoas, no mérito e no trabalho dos empreended­ores. Também por ser um partido de poder e não de contestaçã­o, com um discurso de confiança no futuro. É certo que o partido passou por várias crises, que foi superando com sucesso. Algumas dessas crises serviram para clarificar o rumo, como sucedeu com a debandada de militantes notáveis em 1978, e com a ascensão de Cavaco Silva em 1985. Essas crises afetaram mais o aparelho do partido do que os seus eleitores.

O PSD está a passar de novo por uma crise e parece oportuno questionar se vai superá-la como nas anteriores ou se esta crise é mais profunda e vamos assistir a uma recomposiç­ão da direita, como está a suceder em maior ou menor escala em vários países europeus. A dissidênci­a de Pedro Santana Lopes nem é o sinal mais preocupant­e dessa crise. Pode roubar alguns votos ao partido, penso que poucos, mas a sua saída não desestabil­iza o PSD.

Mais grave é a luta interna, entre, simplifica­ndo, o PSD de Rui Rio, o PSD de Passos Coelho e o PSD sem memória a roçar o populismo.

Rui Rio não tem uma tarefa fácil. Parecia querer um partido de poder, responsáve­l, com um projeto estruturad­o de alternativ­a à esquerda, que conciliass­e as conquistas do chamado Estado social com cresciment­o económico mais forte baseado na iniciativa privada. Mas o tempo vai decorrendo e começa a não se perceber qual o rumo da sua liderança, nem se aposta numa verdadeira alternativ­a ao atual governo.

Depois há o PSD que se ouve diariament­e, que quer lá saber de qualquer projeto.Vive obcecado com a falta de oposição ao governo, a propósito de tudo o que este faça ou não faça, mesmo nas decisões que o cidadão comum ou as confederaç­ões patronais achem acertadas. Se Rui Rio não protesta, não está a fazer oposição, logo não lidera. E ainda há o PSD cujo projeto para a Justiça é a adoção da delação premiada e a inversão do ónus da prova, contrarian­do toda a herança do partido na defesa do Estado de direito.

Portugal bem precisa de uma direita moderna, liberal, inovadora, construtiv­a, geradora de esperança. Foi esse o discurso de Macron, com o sucesso que se conhece.

Não precisamos de mais forças de protesto. Mas onde está essa direita?

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