China e África, a maioridade
Em 2000, o “mundo desenvolvido” parecia ter voltado as costas ao continente africano. Foi nesse contexto que a China – um velho amigo das lutas de libertação – iniciou um novo caminho, criando o Fórum de Cooperação China-África (FOCAC). Ao longo dos últimos 18 anos, foram realizadas seis conferências ministeriais do FOCAC, três cimeiras, as trocas comerciais aumentaram 17 vezes, os projetos de infraestruturas financiados e construídos pela China multiplicaram-se, o investimento galopou, os programas de cooperação alargaram-se a todas as áreas possíveis e imaginárias e dos oito Estados africanos que em 2000 tinham relações diplomáticas com Taiwan resta apenas um.
Pequim tem reafirmado os eixos para este relacionamento: “A China não impõe a sua vontade aos outros, não interfere nos assuntos internos e promove benefícios partilhados, sempre numa dinâmica de jogo de soma positiva.” Obviamente que a realidade tem tonalidades bem mais complexas do que a narrativa oficial. Os interesses nem sempre são convergentes e a presença súbita e significativa chinesa em alguns países africanos trouxe inquietude.
Nos últimos anos passou a ganhar forma e força um discurso bastante crítico que, tendo alguma base local, em África, é ecoado sobretudo nos EUA e na Europa: o envolvimento da China como porta para um “novo imperialismo ou colonialismo”, uma retórica, em certas vozes, plena de ironia histórica.
Os problemas salientados dizem respeito a “endividamento predatório”, “obtenção” em larga escala de terras, fraca qualidade da construção ou cumplicidade com regimes pouco respeitadores dos direitos humanos. Tendo estes fenómenos expressão real, são frequentemente alvo de exageros e distorções. O que sobressai é todo um outro lado que tem passado pelo papel crucial que a China desempenha de alavancagem de economias que eram vistas como incapazes de crescer e sociedades que não seriam capazes de se desenvolver.
Vale a pena perguntar aos africanos o que pensam. Estudos do instituto norte-americano Pew Research Center em 11 países africanos indicam uma média de 67 por cento das pessoas com uma opinião favorável face à China.
Na altura da cimeira em Pequim, e numa altura em que o FOCAC atinge a maioridade, o caminho está à vista. Passa não somente pelos números de encher o olho, mas por um foco maior na qualidade, transparência, sustentabilidade ambiental e uma relação cada vez mais entre iguais cujos frutos sejam recolhidos e vividos pelas populações. O século XXI será também o século da África. A China viu isso bem no dealbar do milénio. E não se enganou.
Diretor da Plataforma/Macau