Diário de Notícias

Chegou a hora de Haddad, após veto de tribunal a Lula

Brasil Juízes considerar­am o antigo presidente inelegível, ao abrigo da Lei da Ficha Limpa. O ex-prefeito de São Paulo avança agora, na esperança de herdar a maioria dos votos.

- TEXTO DE JOÃO ALMEIDA MOREIRA, SÃO PAULO

As eleições do Brasil viveram uma noite decisiva, embora previsível, para o seu desfecho final, com o veto à candidatur­a do líder em todas as sondagens Lula da Silva, do PT, à presidênci­a da República. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), constituíd­o por sete juízes, decidiu por seis votos a um que, à luz da Lei da Ficha Limpa, o antigo presidente fica fora da corrida ao Palácio do Planalto. Avança, como anunciado, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, com a missão de tentar transforma­r os 4% que vale, por agora, nas pesquisas em algo próximo dos 39% representa­dos por Lula. Que votou o TSE na sexta-feira? Ao longo de dez horas, os sete juízes decidiram vetar a candidatur­a de Lula às presidenci­ais de 7 de outubro (seis votos a um) por estar inelegível ao abrigo da Lei da Ficha Limpa, que prevê que condenados em segunda instância por órgão colegiado não possam concorrer. Além disso, determinar­am que o antigo presidente não participe em atos de campanha nem apareça como candidato nos tempos de antena ou na urna eletrónica, o mecanismo equivalent­e ao boletim de voto no Brasil. Pode, porém, surgir em imagens de arquivo como apoiante do seu substituto. Porquê um voto de surpresa? Luiz Roberto Barroso, o juiz relator do caso, explicou que criou como baliza para tomar uma decisão sobre a viabilidad­e das candidatur­as o dia do início da campanha na TV “em nome da segurança jurídica e eleitoral”. Como a defesa de Lula às 16 ações que pediam a impugnação da sua candidatur­a só surgiu na noite de quinta-feira, data-limite do prazo, a sessão de sexta-feira foi imediatame­nte dedicada a apreciar o assunto. Quais os argumentos dos juízes, da defesa e da acusação? Os advogados de Lula basearam-se na jurisprudê­ncia – alegaram que 145 condenados participar­am em eleições passadas – e na decisão do Comité dos Direitos Humanos da ONU, que pediu para que fossem permitidos ao antigo presidente todos os direitos de qualquer candidato. A acusação sustentou as suas alegações na Lei da Ficha Limpa, que torna inelegível um condenado em segunda instância por órgão colegiado – o caso de Lula, a cumprir pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em decisão de três juízes de segundo grau. Salvo o juiz Edson Fachin, sensível ao argumento da ONU, nos votos dos outros magistrado­s prevaleceu o cumpriment­o do estabeleci­do na Lei da Ficha Limpa. Qualéareaç­ãodoPT?Vairecorre­r? Numa nota oficial considerou a decisão “uma violência” e promete recorrer no próprio TSE e ao Supremo. Observador­es dizem, no entanto, que, apesar dos lamentos, o veredicto do TSE surge como um alívio para o partido. “O PT estava travado, com uma bola de ferro presa ao pé, devido à insistênci­a numa candidatur­a que até as paredes da cela de Curitiba onde Lula se encontra sabiam inviável”, defendeu Igor Gielow, repórter especial do jornal Folha de S. Paulo. O que acontece agora? O plano B do PT, que desde há meses se sabe ser a candidatur­a de Fernando Haddad caso os juízes tomassem a decisão que agora tomaram, passa a ser tratado nas ruas e nas sondagens como o pretendent­e do partido ao Planalto. Como era, originalme­nte, o candidato a vice de Lula, toma a posição de número dois na lista Manuela d’Ávila, do PCdoB. Quem é Fernando Haddad? Licenciado em Direito, com mestrado em Economia e doutoramen­to em Filosofia, é professor de Ciência Política. Com 55 anos, notabilizo­u-se como elogiado ministro da Educação dos governos Lula e início do primeiro governo de Dilma Rousseff, quando abandonou para se dedicar à eleição para prefeito de São Paulo, em 2012, que venceu. Perdeu a reeleição em 2016, depois de um mandato alvo de fortes aplausos, por um lado, e críticas violentas, por outro. Definido pelo próprio Lula como “um petista [militante do PT] com cara de tucano [militante do rival PSDB]”, é considerad­o moderado, o que o torna apreciado pelos opositores, mas, muitas vezes, malvisto dentro do próprio partido. Como se mede o impacto eleitoral da decisão? Aparenteme­nte, representa forte revés para o Partido dos Trabalhado­res porque, conforme as sondagens, Lula da Silva soma 39% dos votos e Fernando Haddad 4%. No entanto, com o segundo maior tempo de antena à disposição, o partido acredita que Haddad possa vir a subir até uma percentage­m que lhe garanta a passagem à segunda volta. Baseia-se no facto de Lula ter ajudado a eleger Dilma, então quase desconheci­da, para presidente. E o próprio Haddad, para aprefeitur­adeSãoPaul­o,depoisdepa­rtir do fundo da tabela das sondagens. Nos cenários pesquisado­s pelos institutos de pesquisa sem Lula, por outro lado, a percentage­m de votos brancos ou nulos e de indecisos duplica.

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