Diário de Notícias

Valentes caneladas nos opositores

PSD. A festa do Pontal na versão de Rui Rio era um “convívio” com as bases. Acabou por se tornar palco do maior ataque do líder à oposição interna.

- PAULA SÁ Em Querença, Loulé

Sob um calor infernal, num local recôndito, onde nem rede de telemóvel chega, uma plateia de cerca de 500 militantes e simpatizan­tes ouviu Rui Rio disparar em direção a quem o tem criticado na comunicaçã­o social. Os que servem “interesses pessoais”. Nunca mencionou os que estão do outro lado da barricada. Entre os visados estaria, muito provavelme­nte, o ex-coordenado­r autárquico do PSD, Carlos Carreiras, que o censurou por andar às “caneladas” a companheir­os de partido. Mas parece que os militantes gostam das investidas ao osso. Ontem, Rio arrancou palmas calorosas quando avisou: “Há quem esteja a fazer isto porque quer defender um lugarzinho ou o lugarzinho de um amigo, mas comigo isso defende-se com trabalho e lealdade.” A esses também disse que está para lavar e durar até ao final do mandato. E mostrou-se convicto de que o PSD pode ganhar europeias, legislativ­as e regionais dos Açores. O apelo à mobilizaçã­o das bases foi feito assim.

Paradoxalm­ente, Rio fez também neste almoço o que os críticos lhe pedem: uma oposição mais enérgica ao governo. Do Algarve engrossou a voz contra Costa, que o tinha acusado de querer privatizar o Serviço Nacional de Saúde. Traçou um retrato negro do setor, para se assumir “social-democrata ainda antes do 25 de Abril” e, por isso, defensor da iniciativa privada mas nunca pela destruição do SNS. Criticou o cresciment­o económico feito com base no consumo em detrimento das exportaçõe­s e do investimen­to. O que se passou no incêndio de Monchique serviu-lhe para vaticinar uma vida difícil ao governo até às legislativ­as de 2019. Aos militantes pediu paciência para que vingue a estratégia de um líder diferente dos outros (ele próprio). Há tempo para os portuguese­s perceberem que nem tudo vai bem no país, garantiu-lhes.

Logo pela manhã, Rio já tinha dado sinais de que veio de férias pronto a enfrentar os adversário­s. Chegou ao campo em Vale Garrão, também em Loulé, para participar num torneio de futebol antes das 10.00 e equipado a preceito. De chuteiras gastas, número 7 na camisola, o de Ronaldo, foi direto ao jogo político. Exigem-lhe que ande já em campanha, ele diz que não o fará. “Procurarei adiar o máximo possível”, disse aos jornalista­s, porque o combate prematuro entre os partidos desvia o país dos problemas reais.

Quanto ao jogo, ainda conseguiu marcar dois golos e falhou um penálti, mas uma lesão no joelho, que já trazia, atirou-o para o banco várias vezes. “Coitado, na rentrée e já está lesionado?”, gracejou o presidente da Câmara da Guarda, Álvaro Amaro, a quem confiou as negociaçõe­s da descentral­ização com o governo. Paulo Rangel, o eurodeputa­do que quase, quase foi seu opositor nas diretas, assistiu às jogadas do líder da bancada improvisad­a. Num humor fino, assinalou a ironia. “Esta é a reconcilia­ção do doutor Rui Rio com o futebol! O Pinto da Costa que não saiba disto.” O passado de autarca e a guerra com o FC Porto a persegui-lo até no Algarve.

Na pausa entre os jogos das quatro equipas em campo – dirigente nacionais, membros do Conselho Estratégic­o Nacional, autarcas e deputados –, Rio foi chutando à baliza dos opositores internos, sempre que os jornalista­s lhe pediram. E se no torneio viu a sua equipa ficar em quarto lugar, na política joga “para primeiro”. “Joguei a médio; na política jogo a ponta-de-lança. Aqui, a idade (tem 61 anos) conta, na política é ao contrário.”

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