Todos os regressos têm uma partida
Ao tomar conhecimento das críticas por parte da oposição ao governo às medidas anunciadas para incentivar o regresso dos portugueses que saíram de Portugal durante a crise, veio-me à ideia, inusitadamente e de assalto, o célebre Lucky Luke. E “inusitadamente” porquê? Porque não foi pela justiça, nem pela certeza da pontaria, que me lembrei da célebre figura. Foi mesmo pela questão do “disparar mais rápido do que a própria sombra”.
Sei (sabemos todos) que a democracia, enquanto regime político, há muito instituiu, no que toca ao debate público, a substituição das armas pelas palavras. E instituiu o debate para que este, perante um problema coletivo, tivesse como corolário a melhor – e necessariamente aprimorada – das soluções debatidas. Revendo as reações da oposição ao assunto em questão, é forçoso chegar à conclusão de que esta teima em não ver o país real, preferindo insistir numa realidade alternativa, sem preocupações algumas de destreza construtiva ou sequer de acuidade crítica.
Num ambiente recheado de comentadores a soldo e pistoleiros de opinião, eis que são disparadas as mais rápidas críticas, sempre na crença do “dispare-se mal, mas pelo menos dispare-se!” de Trump e acreditando que a cada crítica corresponde um melro.
No fundo, uma cultura que entende o debate político como um simples exercício de crítica, sem preocupação alguma com a qualidade da mesma, e redundando na mera coerência da futilidade e da bala que faz ricochete.
E qual a consequência de tudo isto? Uma oposição que, tendo anunciado o diabo, radica na afirmação de um presente alternativo, esquecendo-se de que ao longo deste mandato não só foram criados 315 mil novos postos de trabalho, resultando numa taxa de desemprego historicamente baixa, como foi aumentado o salário mínimo. Uma oposição que deliberadamente não vê o aumento do rendimento médio das famílias, nem a eliminação da sobretaxa do IRS, nem a criação de novos escalões para o IRS. E podia continuar a enumerar os resultados positivos.
Em suma, uma oposição que se dedica a recusar que, se na primeira hora a prioridade foi para quem cá estava, é chegada agora a hora de quem quiser voltar a estar, e com condições para tal. Devemos então desistir de atrair esta população, prescindindo deste estímulo adicional ao regresso dos emigrantes?
Creio que despercebido não passou, certamente, o apoio de S. Exa. o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, que louvou publicamente a vontade de criar condições para a volta de todos os que quiserem regressar e realçou que esta é “uma preocupação nacional”. Na esteira dessa preocupação, esta vontade do governo reflete, sobretudo, o princípio de uma solução. Cabe-nos continuá-la, assegurando democraticamente a possibilidade de retorno a todos os que legitimamente o queiram fazer. Os emigrantes só regressam se a vida melhorar por cá, e essa já melhorou e vai continuar a melhorar. A medida anunciada só acrescenta, mas como disse o primeiro-ministro, claro que não há nenhuma “bala de prata”. Deputada do PS Escreve de acordo com a antiga ortografia