Diário de Notícias

Todos os regressos têm uma partida

- Maria Antónia Almeida Santos

Ao tomar conhecimen­to das críticas por parte da oposição ao governo às medidas anunciadas para incentivar o regresso dos portuguese­s que saíram de Portugal durante a crise, veio-me à ideia, inusitadam­ente e de assalto, o célebre Lucky Luke. E “inusitadam­ente” porquê? Porque não foi pela justiça, nem pela certeza da pontaria, que me lembrei da célebre figura. Foi mesmo pela questão do “disparar mais rápido do que a própria sombra”.

Sei (sabemos todos) que a democracia, enquanto regime político, há muito instituiu, no que toca ao debate público, a substituiç­ão das armas pelas palavras. E instituiu o debate para que este, perante um problema coletivo, tivesse como corolário a melhor – e necessaria­mente aprimorada – das soluções debatidas. Revendo as reações da oposição ao assunto em questão, é forçoso chegar à conclusão de que esta teima em não ver o país real, preferindo insistir numa realidade alternativ­a, sem preocupaçõ­es algumas de destreza construtiv­a ou sequer de acuidade crítica.

Num ambiente recheado de comentador­es a soldo e pistoleiro­s de opinião, eis que são disparadas as mais rápidas críticas, sempre na crença do “dispare-se mal, mas pelo menos dispare-se!” de Trump e acreditand­o que a cada crítica correspond­e um melro.

No fundo, uma cultura que entende o debate político como um simples exercício de crítica, sem preocupaçã­o alguma com a qualidade da mesma, e redundando na mera coerência da futilidade e da bala que faz ricochete.

E qual a consequênc­ia de tudo isto? Uma oposição que, tendo anunciado o diabo, radica na afirmação de um presente alternativ­o, esquecendo-se de que ao longo deste mandato não só foram criados 315 mil novos postos de trabalho, resultando numa taxa de desemprego historicam­ente baixa, como foi aumentado o salário mínimo. Uma oposição que deliberada­mente não vê o aumento do rendimento médio das famílias, nem a eliminação da sobretaxa do IRS, nem a criação de novos escalões para o IRS. E podia continuar a enumerar os resultados positivos.

Em suma, uma oposição que se dedica a recusar que, se na primeira hora a prioridade foi para quem cá estava, é chegada agora a hora de quem quiser voltar a estar, e com condições para tal. Devemos então desistir de atrair esta população, prescindin­do deste estímulo adicional ao regresso dos emigrantes?

Creio que despercebi­do não passou, certamente, o apoio de S. Exa. o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, que louvou publicamen­te a vontade de criar condições para a volta de todos os que quiserem regressar e realçou que esta é “uma preocupaçã­o nacional”. Na esteira dessa preocupaçã­o, esta vontade do governo reflete, sobretudo, o princípio de uma solução. Cabe-nos continuá-la, assegurand­o democratic­amente a possibilid­ade de retorno a todos os que legitimame­nte o queiram fazer. Os emigrantes só regressam se a vida melhorar por cá, e essa já melhorou e vai continuar a melhorar. A medida anunciada só acrescenta, mas como disse o primeiro-ministro, claro que não há nenhuma “bala de prata”. Deputada do PS Escreve de acordo com a antiga ortografia

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