Seis desafios para Rui Rio numa rentrée de lutas internas e difícil oposição a Costa
O PSD tem por hábito cilindrar líderes num ápice quando o cheiro a poder ainda vem longe. Agora, a geringonça que não dá sinais de avaria, o efeito Santana e um líder que teima numa estratégia
low profile estão a deixar o partido à beira de um ataque de nervos. Os desafios de Rio são muitos.
Rui Rio mostra-se impávido e sereno, mas tem desafios complexos pela frente na rentrée que começa hoje, com outro nome. Primeiro convencer os militantes de que está no trilho certo – para mobilizar as bases para os combates eleitorais. Uma vitória nas europeias, dizem os que lhe são próximos, ajudaria muito a dar um empurrão nas legislativas. A oposição interna vai exigir que vença António Costa, mas todos sabem que a tarefa é hercúlea. Se conseguir impedir uma maioria absoluta do PS, sobreviverá ao ímpeto dos que o querem arredar do poder? A maratona do ano político começa agora. 1. “Credibilidade” ou silêncio Nas conversas que teve com algumas figuras do partido Rui Rio foi claro, depois de Costa ter reconfigurado o xadrez político em Portugal, o poder só cairá no colo do PSD (ou melhor do centro-direita) em três circunstâncias: uma crise de Estado (com uma tragédia como a dos incêndios no ano passado); uma crise internacional forte; ou uma crise na estabilidade da geringonça. “O poder perde-se, não se ganha”, terá dito numa reunião do grupo parlamentar.
Sem controlo sobre nenhuma das variáveis, o líder social-democrata joga no que tem como seguro: o património da seriedade que ganhou como autarca no Porto e na ideia de que é um político que está acima do interesse partidário. Por isso fez acordos com o governo para a descentralização e os fundos comunitários; agora quer um para a reforma da Justiça.
Mesmo os que lhe são próximos admitem não ser tarefa fácil convencer o PSD. “Ele quer mudar comportamentos e atitudes, moralizar a política, mas seria mais fácil se estivesse no poder. Assim é muito difícil para partido e eleitores entenderem”, admite uma fonte. 2. Como comunicar Sobretudo porque Rui Rio é avesso a uma grande exposição mediática. “Um partido na oposição obviamente tem de arriscar uma presença comunicacional forte”, diz o politólogo António Costa Pinto. A imagem de seriedade “não chega só por si”, quando há outros líderes fortes no espaço público, a começar por António Costa e a passar por Assunção Cristas (CDS) e Catarina Martins (BE). Ainda assim, Carlos Jalali, outro politólogo, diz que um excesso de exposição de Rio não seria “consistente com a sua persona política”. Sobre este assunto não se calam as vozes críticas, como a de Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais e ex-coordenador autárquico do PSD: “O PSD tem de acordar rapidamente porque está em estado de letargia e isso até é perigoso para o sistema político! Cabe ao PSD apresentar um projeto nacional mobilizador no mais curto espaço de tempo.” 3. A prova de fogo das europeias Nos bastidores, as tendências contra Rio estão a mover-se e a preparar-se para o dia em que o líder fraquejar. Poucos acreditam que seja antes das europeias de maio. E mesmo depois “o tempo é curto”, diz uma fonte, mas “se o resultado for catastrófico, as coisas podem mudar”. Luís Montenegro está na pole position para avançar e conta com o apoio de Miguel Relvas, um fazedor de líderes e primeiros-ministros (Durão Barroso e Passos Coelho). O antigo líder da JSD Pedro Duarte (que o anunciou no Expresso) e Miguel Pinto Luz, ex-líder da distrital de Lisboa do PSD, também. O vice-presidente da Câmara de Cascais recusa: “Temos um líder legitimamente eleito, está a fazer o seu percurso e tem de apresentar de forma clara o seu programa, dizer ao que vem. Contará comigo como um soldado militante do PSD há 20 anos para fazer campanha pelo partido.”
Vencer as europeias pode ser a chave para aquietar o partido, mas é um desafio. Rui Rio ainda não falou com Paulo Rangel, mas o DN sabe que voltará a apostar nele para encabeçar a lista ao Parlamento Europeu. 4. O efeito Santana Lopes Dizem que joga também a favor do PSD o facto de Pedro Santana Lopes, que saiu do partido com grande estrondo, não ser o candidato da futura Aliança nas europeias – o que poderia dividir o eleitorado de centro-direita. Carlos Jalali relativiza: “Se a Aliança tiver maus resultados nas europeias, vai diminuir o impacto nas legislativas.” E lembra que historicamente as cisões nos partidos “têm valido muito pouco eleitoralmente”.
Na direção de Rio desvaloriza-se igualmente o papel que terá nas legislativas. Mas a “dissidência” de Santana, como lhe chama o politólogo António Costa Pinto, deve ser motivo de preocupação. “Estamos na presença do principal opositor de Rui Rio nas eleições internas e, mesmo que tenha pouco sucesso na atração de quadros do PSD, é um veterano da política muito associado ao partido. A sua candidatura atingirá fundamentalmente o PSD.” 5. Controlar o grupo parlamentar Não estando no Parlamento, onde vai decorrer muito do debate, já a começar pelo Orçamento, o líder social-democrata tem mesmo de afinar as agulhas com o presi- dente do grupo parlamentar, numa bancada que foi construída por Passos Coelho. Novas fricções – como aconteceu com a taxa sobre os combustíveis – só irão criar ruído na mensagem do partido.
Acresce que Rio já deu a entender que não conta com muitos dos atuais deputados nas listas às legislativas. Os “descartáveis” sabem que o são e não irão colaborar. Fonte do PSD frisou ao DN que joga a favor de Rui Rio o facto de ter privilegiado os principais líderes distritais. “Mesmo os que não o apoiaram nas diretas não se vão mobilizar para levantar as bases contra ele”, assegurou ao DN um ex-dirigente distrital. 6. Estancar o sucesso de Costa Ninguém internamente considera que a discussão do Orçamento do Estado para 2019 seja um momento crítico para Rio. Mesmo que continue a não assumir como votará o documento, a verdade é que já deu sinais de que a bancada se levantará para o “não” às propostas do governo. “Costa terá de ser enfrentado em continuidade” no caminho para as legislativas, argumenta um membro destacado do partido, “porque não se vislumbra nenhuma crise na geringonça até lá”.
E este é outro dos grandes desafios do líder do PSD, conseguir estancar o sucesso do hábil António Costa, numa “conjuntura económica e social” que lhe é muito favorável”, diz António Costa Pinto. E remata: “Não é tarefa nada fácil.” Quem conheceu por dentro a ação de Rio no Porto diz que ele “é um ótimo gestor de timings”. Os timings que o partido não está a compreender. A prova dos nove se a estratégia funciona talvez se comece a tirar nas europeias.