Diário de Notícias

Coração Vital

- Rita Rato Nunes Jornalista

“Há coragem sempre agora.” Está escrito num coração que esconde as aurículas e os ventrículo­s, mas que pretende respeitar a anatomia do músculo. Bombardeia tinta. E ao contrário das insígnias grafitadas na caixa de eletricida­de onde foi colado, não tem nome. De quem é o coração? A resposta não está naquela rua. Mas tecla-se a expressão numa morada bem mais contemporâ­nea e o caminho revela-se. O coração é de Vital. Vital Lordelo. E este não é o seu único coração nas ruas de Lisboa. Há um que nos olha “Com Paixão”, outro com “Esperança”, outro com “Saudade”. Deram-lhe frases, palavras, expressões. Ele doou-as às ruas. Primeiro às do Brasil, depois às de Portugal. Embora os seus corações também já tenham sido fotografad­os em Espanha, porque quem passa pelas ilustraçõe­s também se apropria delas. Os desenhos conversam com quem passa nas esquinas, becos ou muros onde Vital os colocou. E as pessoas conversam com eles de volta. Escrevem, desenham, respondem. Nesta galeria não é necessário manter o silêncio ou a distância de segurança, pode fotografar-se sem ou com flash e fazer parte da criação. O tempo destrói a obra, mas foi para isso que ela foi criada: para ser destruída. O coração que Vital deixou ali, ao lado dos corações descansado­s de Amália, de Eusébio ou de Sophia de Mello Breyner, não é uma janela para o mundo, mas serve para olhar para quem passa pelas ruas de Lisboa, neste caso pelo Campo de Santa Clara, junto ao Panteão Nacional.

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