Coração Vital
“Há coragem sempre agora.” Está escrito num coração que esconde as aurículas e os ventrículos, mas que pretende respeitar a anatomia do músculo. Bombardeia tinta. E ao contrário das insígnias grafitadas na caixa de eletricidade onde foi colado, não tem nome. De quem é o coração? A resposta não está naquela rua. Mas tecla-se a expressão numa morada bem mais contemporânea e o caminho revela-se. O coração é de Vital. Vital Lordelo. E este não é o seu único coração nas ruas de Lisboa. Há um que nos olha “Com Paixão”, outro com “Esperança”, outro com “Saudade”. Deram-lhe frases, palavras, expressões. Ele doou-as às ruas. Primeiro às do Brasil, depois às de Portugal. Embora os seus corações também já tenham sido fotografados em Espanha, porque quem passa pelas ilustrações também se apropria delas. Os desenhos conversam com quem passa nas esquinas, becos ou muros onde Vital os colocou. E as pessoas conversam com eles de volta. Escrevem, desenham, respondem. Nesta galeria não é necessário manter o silêncio ou a distância de segurança, pode fotografar-se sem ou com flash e fazer parte da criação. O tempo destrói a obra, mas foi para isso que ela foi criada: para ser destruída. O coração que Vital deixou ali, ao lado dos corações descansados de Amália, de Eusébio ou de Sophia de Mello Breyner, não é uma janela para o mundo, mas serve para olhar para quem passa pelas ruas de Lisboa, neste caso pelo Campo de Santa Clara, junto ao Panteão Nacional.