Um novo sinónimo de exagero
Neste ano fazia dez anos que Verónica Castro, esse nome que o México nutrido aculebrón venera, não pisava um set de rodagem. “Quando eu era pequeno, o máximo a que podias aspirar era conhecê-la”, contou Manolo Caro, o realizador e argumentista que a convidou para protagonizar A Casa das Flores, desde agosto a sobressair no catálogo da plataforma de streaming Netflix. Manolo Caro entregou-lhe um papel à altura do currículo: Virginia de la Mora, a matriarca de uma família chique, dona de uma loja de flores chique, num bairro chique do México. Como costuma acontecer na ficção, no momento mais feliz – entre espetaculares bouquets de flores, dourados, roupas brilhantes e uma festa que celebra mais um aniversário do patriarca – dá-se a tragédia. A amante suicida-se dentro da loja de flores. O que se segue são tentativas desesperadas para ocultar o drama da matriarca. A Casa das Flores é uma série de 13 episódios, com sistema nervoso central de telenovela – moralista, cheia de segredos, dada à traição – disponível para abordar temas fraturantes, embalada pelas canções de Luis Miguel, Thalia, Gloria Trevi e outras vezes da canção em espanhol. Fala-se de homossexualidade, bissexualidade, transexualidade, infidelidade, negócios obscuros e drogas como (quase) nunca acontece em sinal aberto. Verónica Castro, estrela de Los Ricos también Lloran e Rosa Salvaje, quis desistir. “Não o posso fazer! Tens de encontrar outra atriz. A televisão mudou muito. Não sabia que fumava marijuana”, confessou. Manolo Caro volta à agonia desse primeiro dia de gravações. “Como podes pensar em desistir? O teu nome foi anunciado aos meios de comunicação.” O drama dentro do drama, mas com final feliz. Verónica Castro releu o guião e continuou. Descreve assim a série: “Tão exagerado o drama que acaba em comédia.” É hipérbole pura até quando se fala do sotaque de Paulinha, a filha mais velha da protagonista, dona de um sotaque, hi-per-pau-sa-do, enjoado, diriam alguns, que tem sido replicado em forma de challenge pela internet. “Não estava no papel, mas surgiu. Manolo e eu começámos a conversar. Vamos por aí? Gostamos?”, explica a atriz Cecilia Suárez, que interpreta a personagem. É assim que nasce uma das mais já célebres deixas de A Casa das Flores: “Ol-vi-dé can-ce-lar-a-los-ma-ri-a-chis!”