Será que os portugueses vão ser moderados para sempre?
“Ocentro é um espaço um pouco estranho. Tem muita gente e ao mesmo tempo não tem ninguém”, diz o politólogo Pedro Magalhães, na entrevista DN/TSF desta semana. A maior parte das pessoas, não tendo respostas simples para problemas complexos, situa-se a si própria no terreno das dúvida s–é o que indicamos dados que este cientista social está habituado a analisar. Imigração. Segurança. Peso da União Europeia. Impostos. O que fazer? Que opção tomar? No inquérito social europeu de 2016 a maior parte das pessoas demonstraram essas dúvidas, permaneceram no meio, declararam-se na posição cinco numa escala de um a dez. E quando se dividiram, por exemplo, na aceitação da adoção homossexual, fizeram-no em partes iguaisà direita eà esquerda.
Esteéocent rã o do bom sen soque ainda domina avida eleitoral portuguesa. Equevo ta maisà esquerda ouà direita, não porque mude de opinião, mas sobretudo segundo os partidos que mais se aproximam desse centro. Isto seria um bocejo, não fosse o que parece continuar a resguardar Portugal de posições mais radicais. Talvez seja esta, aliás, a resposta definitiva à pergunta que tantos fazemos por estes dias sobre o que nos protege dos populismos, radicalismos e outras tendências mundiais perigosas, sobretudo na sua vontade de dividir para reinar. Enquanto a maior parte de nós concordar no básico e tiver as mesmas dúvidas sobre as mesmas questões complexas não haverá massa crítica para quem queira convencer-nos em respostas simplistas ao que é difícil. Talvez a nossa bonomia continue a salvar-nos da radicalização.
Mas é bom não contar que isto dure para sempre. Precisamos de não esquecer que Bolsonaro não foi eleito por radicais de direita, e que muitos dos que elegeram Trump foram os que até aí votavam democrata, a classe média branca, a classe trabalhadora. Nos EUA e no Brasil, as coisas tornaram-se perigosas quando o centro se radicalizou – quando as pessoas deixaram de ter bom senso. Ou simplesmente o desprezaram, pressionadas por problemas sérios nas suas vidas, que pareciam sem solução. Porque o que é a vantagem do centro é também o seu maior perigo: a falta de ideologia, a ausência de convicções profundas.
Em Portugal, os partidos políticos têm sabido lidar com isto, com um discurso responsável e integrador. Mesmo o PS, quando abriu a governação à esquerda outsider, foi o que fez. Ao contrário do que diziam as piores previsões, o governo manteve no redil do controlo orçamental os devaneios mais esquerdistas, e no do bom senso as opções sociais mais radicais no sentido do politicamente correto (esperemos que a luta contra as touradas seja rapidamente recentrada). Manteve, no fundo, o statu quo. Rui Rio está a tentar levar o PSD para o caminho do centro – quando o partido nunca esteve tão associado à direita.
Há sinais, no entanto, de que o caminho pode estar a inverter-se. Segundo os dados do Estudo Eleitoral português de 2015, a opinião dos membros de um partido sobre os outros estão cada vez mais afastadas. Rio não está a ter grandes efeitos – o PSD continua fraco nas intenções de voto, e o pequeno entusiasmo com a sua liderança desvaneceu-se rapidamente. E, ao contrário do que aconteceu com Trump, houve muitas reações positivas à vitória de Bolsonaro – eo apoio declarado de muitas pessoas com voz e atividade política.
A onda que elegeu Trump ou Bolsonaro, dois outsiders desconsiderados pela elite culta dos media, não nasceu nos habituais canais políticos. Nasceu nas redes sociais, propícias a arruaceiros do verbo e radicais de ideias, suportados por canais que funcionam como câmaras de eco. Nunca foi tão fácil como no ciberespaço da opinião sermos afastados dos que não pensam como nós e agrupados aos que concordam connosco. E isso, apesar de parecer reconfortante, não é bom para a democracia.