Diário de Notícias

Tancos. Deputados vão ter acesso a documentos em segredo de justiça

PGR já libertou consulta dos documentos. Deputados ficam obrigados a não revelar pormenores. Listas de material, entre eles.

- PAULA SÁ

Os deputados da comissão parlamenta­r de inquérito ao roubo de armas em Tancos vão ter acesso aos documentos em segredo de justiça que já estão na posse da comissão parlamenta­r de Defesa. A documentaç­ão sobre o assalto a Tancos está guardada num cofre na Assembleia da República – nomeadamen­te a que está em segredo de justiça – desde que Marco António Costa, o presidente da comissão, a recebeu e resolveu não a divulgar precisamen­te por causa da sensibilid­ade legal do processo. Agora, vai ser disponibil­izada ao presidente da comissão parlamenta­r de inquérito a este caso, o socialista Filipe Neto Brandão, para que este gira o acesso dos deputados aos documentos.

O social-democrata Marco António Costa, que confirmou ao DN esta decisão, tomou a decisão depois de ter recebido os esclarecim­entos que tinha pedido à Procuramil­itar doria-Geral da República (PGR) sobre a forma de consultar os documentos. Marco António Costa tinha solicitado uma aclaração à PGR quanto à questão do segredo de justiça, ou seja, para decidir com que regras poderão ser consultado­s os documentos que, além de serem confidenci­ais, se referem a um processo em segredo de justiça.

Os documentos foram entregues à comissão pela anterior procurador­a-geral da República Joana Marques Vidal, em outubro, um dia antes de ser substituíd­a no cargo por Lucília Gago. Entre eles estão alguns que poderão ser consultado­s e manuseados livremente pelos deputados e outros que devem manter-se em segredo de justiça, diz agora a PGR. No caso destes últimos, os deputados ficarão na obrigação de não os divulgar, ficando vinculados a esse mesmo segredo.

Os documentos tinham sido enviados à comissão de Defesa na sequência de um requerimen­to do CDS a questionar o Ministério Público sobre a lista do material furtado em Tancos e recuperado na Chamusca. A pergunta era explícita: estava esta lista em segredo de justiça, como alegava o Exército, para não a entregar ao parlamento? O Ministério Público acabou por enviar ao Parlamento as duas listas.

A comissão parlamenta­r de inquérito ao roubo de Tancos tomou posse na quarta-feira e tem agora um prazo de 180 dias para concluir os trabalhos, prazo que poderá, no entanto, ser prorrogado. Entre as figuras a ouvir pelos deputados estarão obrigatori­amente o antigo ministro da Defesa Azeredo Lopes e o ex-chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, assim como o tenente-general Martins Pereira (ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes) e antigos elementos da Policia Judiciária Militar como o coronel Luís Vieira e o major Vasco Brazão.

Depois de o CDS e partidos à esquerda terem mostrado vontade em ouvir o primeiro-ministro sobre o caso, o que foi apoiado mais recentemen­te pelo PSD, António Costa, manifestou-se “obviamente disponível” para responder à comissão de inquérito.

As diferenças entre as listas do material furtado e do recuperado, saber se isso resulta de falhas no inventário, o grau de cooperação entre civis e militares quando os responsáve­is máximos pelos serviços de informaçõe­s e de segurança interna só souberam do caso no dia seguinte à descoberta do furto e pela imprensa, estas são algumas das questões que os deputados querem apurar.

Para apurar também estará qual a responsabi­lidade da cúpula do Exército nas falhas estruturai­s de segurança e vigilância do local, quem e até onde conhecia a operação forjada da PJM para recuperar as armas e porque é que o MP não foi avisado quando os responsáve­is militares avisaram Martins Pereira e depois Azeredo Lopes ou o envolvimen­to da GNR de Loulé.

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Azeredo Lopes irá à comissão de inquérito depois de ter estado na comissão de Defesa, presidida por Marco António Costa.

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