Diário de Notícias

BE desafia partidos a assumir boas práticas nas redes sociais

Partido avança com código de conduta. No horizonte estão as próximas campanhas eleitorais, em que os bloquistas temem que as notícias falsas assumam relevância no contexto dessas eleições.

- MIGUEL MARUJO

Com as eleições europeias e legislativ­as no horizonte, o Bloco de Esquerda vai avançar com a publicação de um código de conduta para a “campanha nas redes sociais”. E o deputado Jorge Costa desafia os outros partidos “a assumir um compromiss­o de boas práticas” para essa campanha. Em dez pontos, o código de conduta regista as redes em que o Bloco de Esquerda está presente e afirma que todo o conteúdo é produzido “diretament­e” pelo partido, “dispondo para isso de uma equipa profission­al e não recorrendo a agências externas”. Outras regras: não vai usar perfis falsos, e apenas intervirá politicame­nte em nome próprio, e não comprará seguidores em redes sociais, embora assuma poder pagar para promover as suas publicaçõe­s, respeitand­o a lei e o registo das contas. Segundo o documento a que o DN teve acesso, “o discurso de ódio e a violência verbal não serão admitidos e a intervençã­o dos seus autores será bloqueada”, assim como não organizará “intervençã­o hostil em espaços de adversário­s políticos nas redes sociais”.

Além disto, a preocupaçã­o estende-se às imagens e fotografia­s que usarão em campanha, na qual o BE garante que não criará nem atribuirá “identidade­s falsas” (como aconteceu na anterior campanha, com o PS, que usou imagens de pessoas para histórias de vida que não eram suas), rejeitan- do e condenando “toda a divulgação deliberada de informação falsa”.

Por último, o Bloco diz que “tomará todas as iniciativa­s legais ao seu alcance para identifica­r publicamen­te a origem de calúnias, mentiras e informação falsa, procedendo criminalme­nte contra os seus autores e promotores”. Recorde-se que Catarina Martins foi alvo de um meme falso e não apresentou queixa oficial – apenas ao Facebook.

O objetivo destas regras, segundo o Bloco, é evitar o que tem acontecido um pouco por todo o mundo, nomeadamen­te nos Estados Unidos, Brasil ou no referendo ao Brexit. E tem também em vista “o que foi sendo conhecido recentemen­te” em Portugal, “de algumas estruturas presentes nas redes sociais e que são fontes de disseminaç­ão de notícias falsas”, como revelaram investigaç­ões do DN. Por isto, “a próxima campanha eleitoral pode ser uma experiênci­a nova para todos, com a utilização deste tipo de recursos em ambiente de campanha eleitoral”, admite Jorge Costa.

É neste ponto que o deputado bloquista entende que “todos os partidos devem assumir um compromiss­o de boas práticas, no que respeita à utilização das redes sociais, seja na clara identifica­ção daquilo que fazem, daquilo que publicam, daquilo que promovem, dos meios a que recorrem, daquilo que gastam nestas redes”. Para Jorge Costa, os partidos devem também assegurar “a qualidade dos conteúdos que vão divulgar e que devem respeitar princípios elementare­s da boa-fé e um compromiss­o com a verdade e transparên­cia de um debate político, que é o que se pretende numa campanha eleitoral”.

O Bloco de Esquerda invoca a sua “experiênci­a importante de comunicaçã­o direta através da internet, baseada no diário online Esquerda.net, lançado há 12 anos, e desenvolvi­da pela presença permanente nas redes sociais, em que o Bloco foi pioneiro entre os partidos políticos portuguese­s”. Em causa própria lembra-se ainda que “a comunicaçã­o do Bloco é seguida por dezenas de milhares de pessoas no Facebook e no Twitter, estando vários/as dirigentes do partido entre as personalid­ades políticas com maior audiência e interação”.

Olhando para como “estas dinâmicas das notícias falsas” têm vindo a crescer em Portugal, os bloquistas entendem que não há “nenhuma razão para pensar que isso não venha a ser importante na campanha eleitoral”. O código vincula “todas as organizaçõ­es territoria­is e setoriais do Bloco de Esquerda” e sendo “válido para publicaçõe­s abertas ou fechadas (grupos)” do partido.

Para já, não há iniciativa­s legislativ­as a caminho sobre como travar este tipo de conteúdos, “para que não haja abusos contra a liberdade de expressão na internet”. É uma possibilid­ade “arriscada”, porque teria de ser “muito ponderada”. Uma hipótese será os gigantes da indústria, como a Google e o Facebook, impedirem que sites deste género beneficiem de publicidad­e paga e que são fonte de rendimento­s destas páginas.

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Catarina Martins foi alvo de uma campanha de fake news mas acabou por não apresentar queixa de difamação. Agora o BE quer que essa seja a regra.

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