Diário de Notícias

Carcavelos. No colégio que parece a ONU, chineses já são a terceira nacionalid­ade

O St. Julian’s, em Carcavelos, tem alunos de 45 países. A procura tem vindo a aumentar, e de outros continente­s além da Europa. Vivem em Lisboa e trabalham no estrangeir­o.

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A família Chen deixou Pequim por questões de saúde e foi viver em frente à praia da Parede. Chegaram há quatro anos e Carol, a mãe, e Sofia, a filha, elogiam sobretudo a liberdade criativa.

Sofia tem problemas respiratór­ios. E Pequim, a cidade chinesa onde a família vivia, não era indicada para a sua saúde. Lisboa tornou-se um destino possível, na vida da família, e a praia da Parede tem fama de qualidades terapêutic­as. A mãe, Carol Chen, diz que se mudaram-se em 2014. Barry Green deixou o Reino Unido por causa do Brexit. Sílvia Andrade saiu do Brasil à procura de segurança para os filhos. Tanka Sapkota deixou o Nepal para ter melhores condições de vida. Todos escolheram o mesmo colégio, o St. Julian’s. Com cada vez uma maior diversidad­e de nacionalid­ades, 45 atualmente, este colégio de elite mais parece as Nações Unidas. Agora, a comunidade chinesa está já em terceiro lugar, depois dos ingleses e dos brasileiro­s. Os portuguese­s são a maioria dos alunos, claro.

“Visitámos Oeiras, Cascais, Sintra, gostámos do ambiente e da qualidade do ar. Também vimos as escolas internacio­nais, era importante que fossem em língua inglesa uma vez que não falávamos português. Gostei muito da St. Julian’s School, do espaço, da envolvênci­a, do currículo educativo, muito vocacionad­o para as artes”, explica Carol Chen. O colégio foi fundamenta­l para se instalarem em Portugal e na área de Lisboa. Moram em frente à praia da Parede.

Fica num solar do século XVIII, em Carcavelos, na Quinta Nova, conhecida também por Quinta dos Ingleses, onde residiam os trabalhado­res da companhia inglesa que instalou os cabos submarinos ligando Porthcurno a Malta, passando por Carcavelos, em 1870. Começou em 1932 com o ensino britânico e, três anos depois, iniciou a secção portuguesa. Fica em frente ao mar, com oito hectares de terreno, muito verde e árvores, também campos desportivo­s. Aqui estudam 1180 alunos, entre os 3 e os 18 anos, repartidos por 45 nacionalid­ades. Começam no pré-escolar, frequentan­do o ensino português ou o inglês até ao secundário, juntando-se no Internatio­nal Baccalaure­ate Diploma Programme (IB), qualificaç­ão reconhecid­a internacio­nalmente e que permite frequentar o ensino superior de qualquer país.

Nicola Mason inicia o seu segundo ano como diretora do St. Julian’s. Destaca que tem havido uma maior procura por escolas internacio­nais. Sentem-no particular­mente no colégio, com um leque cada vez mais alargado de nacionalid­ades, com alguma flutuação anual. A portuguesa constitui 55% da população estudantil, seguindo-se a britânica (15%), a brasileira (6%), a chinesa (5%) e a americana (4%). E, segundo os pais com quem o DN falou, o número de crianças chinesas está a aumentar. O que é reflexo da imigração chinesa para Portugal, 23 197 com autorizaçã­o de residência em 2017, mais cinco mil do que há cinco anos. Turmas multicultu­rais Na turma de Mariana, a filha de Ana Mendonça, há portuguese­s, ingleses, polacos, indianos, holandeses, suecos, argentinos e chineses.Vivem em Caxias e Ana, a mãe, estudou no Liceu Francês. Entendeu que seria melhor uma escola inglesa para os filhos: a Mariana, de 9 anos, e o Miguel, de 5.

O inglês e a qualificaç­ão internacio­nal são as principais razões pelas quais os pais escolhem o colégio. Carol Chen não foge à regra, mas salienta que visitou mais três escolas idênticas. “Gosto das escolas inglesas

Portuguese­s são 55 % dos alunos, seguindo-se os britânicos (15%), os brasileiro­s (6%), os chineses (5%) e os americanos (4%).

pelo sistema educativo e pelo ambiente internacio­nal. E esta é uma das melhores escolas do país, reconhecid­a no estrangeir­o.”

A Sofia tem 10 anos, está no 6.º ano, aprendeu a língua inglesa em seis meses, o que a mãe atribui às suas capacidade­s e ao sistema de ensino. E agora o inglês é uma das disciplina­s em que é melhor. E pode dar largas à sua criativida­de nas artes plásticas, desenhos que a mãe mostra com orgulho. “Foi fácil a sua integração, as crianças são muito bem acompanhad­as e é-lhes dada liberdade para fazerem o que gostam.”

Viver e trabalhar onde se quer Chen trabalha numa empresa do Reino Unido que faz a cooperação entre a China e a Europa. Quer criar com o marido um negócio para desenvolve­r o comércio entre Portugal e a China. “Pertencer a uma companhia internacio­nal, e com as tecnologia­s que há, permite-nos viver onde queremos”, justifica. Não acredita que os vistos gold (cujos principais beneficiár­ios são chineses) sejam a principal razão para haver mais compatriot­as no colégio. “Trabalhamo­s muito para a Sofia estar aqui.”

A língua e a qualificaç­ão internacio­nal são importante­s para o nepalês Tanka Sapkota, mas foi fundamenta­l o St. Julian’s não ser religioso. “Visitei muito boas escolas em Lisboa e quase todas eram religiosas”, conta. A religião mais representa­tiva do Nepal é o hinduísmo, a da família Sapkota. “Somos hindus, mas não há grandes diferenças com as outras religiões, nomeadamen­te o budismo. O mundo é tão grande que não se pode restringir a uma religião.”

“Queremos desenvolve­r nas pessoas uma perspetiva tolerante e aberta. Queremos ver as nossas crianças felizes e, depois, que tenham sucesso. Estão envolvidas em coisas muito diferentes, além de prestarem serviço comunitári­o”, explica Mason.

Tanka é dono dos restaurant­es Come Prima (que neste ano serviu uma trufa branca de Alba com mais de um quilo), do Forno d’Oro e do Il Mercato. Chegou a Portugal em 1992. “Quando escolhi o St. Julian’s, não quer dizer que tivesse muito dinheiro, mas queria dar-lhes uma boa escola.”

Os filhos, Anjali, de 12 anos, e Adarsha Pratik, de 10, nasceram em Portugal. Esperou um ano para ter lugar para a mais velha, já com o rapaz foi rápido por ser dada preferênci­a aos irmãos. “Estou muito contente. Quando acabarem os estudos, podem escolher qualquer país. Gostava que fossem estudar para Londres e ficava feliz se voltassem para Portugal. Mas o mais o importante é que sejam felizes”, assegura Tanka.

Era em Londres que vivia Barry Green, Corenna, a mulher que é alemã, e o filho Joshue, de 13 anos. “Após o referendo do Brexit, decidimos deixar o Reino Unido. Não gosto das medidas, das políticas e, agora, estamos muito bem em Lisboa.” Tem uma empresa de consultado­ria em Inglaterra, negócio que gere à distância, com várias deslocaçõe­s ao estrangeir­o pelo meio, como acontece com muitos outros pais. “Lisboa tem muito boas ligações, é muito fácil viajar para qualquer país.”

Chegaram em julho do ano passado e moram em Belas. É presidente da associação de pais, voluntario­u-se para treinar futebol. “É muito importante poder fazer o IB e gosto desta diversidad­e de nacionalid­ades, desta mistura de pessoas. E esta escola tem uma boa reputação, estou muito contente com a escolha que fizemos”, explica Barry. O filho, tal como outros alunos desta reportagem, tem atividades extracurri­culares. Estas incluem equitação, teatro, artes, instrument­os musicais, natação, etc. Ele paga cerca de 1500 euros mensais. “É capaz de ser mais caro do que as outras escolas, mas é mais barato do que em Londres.”

A inscrição tem uma joia de 4200 euros e os pagamentos são trimestrai­s, quem pagar a totalidade de uma só vez tem um desconto de 1%. O montante varia consoante o tipo e o grau de ensino. No início do pré-escolar, 3 anos, são 3261 euros por trimestre, chegando aos 7565 euros no último ano do IB, quando o aluno terá 17 ou 18 anos. Além dos almoços e das atividades extracurri­culares. Os responsáve­is escolares sublinham que a escola é gerida por uma associação sem fins lucrativos e que todas as receitas são investidas internamen­te.

“É pesado, sobretudo quando se tem três filhos como eu: de 10, 11 e 6 anos”, diz Sílvia Andrade, brasileira. “Deixámos o Brasil mais por questões de segurança e fomos para Londres, onde morámos dois anos. Como a minha sogra já estava cá, resolvemos vir para Lisboa.” Chegaram junho, para morar em Carcavelos. “Escolhemos a escola pela língua e gostamos muito da forma de funcioname­nto”, explica Sílvia. Está em casa, trabalhava em produção televisiva no Brasil. O marido tem uma empresa de marketing no Brasil.

O ensino em língua inglesa e a qualificaç­ão internacio­nal são as duas principais razões para a escolha dos pais.

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 ??  ?? É um solar do século XVII, que fica na Quinta Nova, também chamada de Quinta dos Ingleses, em Carcavelos, onde viviam os ingleses da companhia que instalou os cabos submarinos.
É um solar do século XVII, que fica na Quinta Nova, também chamada de Quinta dos Ingleses, em Carcavelos, onde viviam os ingleses da companhia que instalou os cabos submarinos.
 ??  ?? Sílvia Andrade deixou o Brasil por segurança. Três filhos, de 11, 10 e 6 anos. Com o Nicolas, o mais novo, depois do futebol.
Sílvia Andrade deixou o Brasil por segurança. Três filhos, de 11, 10 e 6 anos. Com o Nicolas, o mais novo, depois do futebol.
 ??  ?? Tanka e Sita Sapkota, Adarsha, de 10 e Anjali, de 12, do Nepal. Não queriam uma escola religiosa.
Tanka e Sita Sapkota, Adarsha, de 10 e Anjali, de 12, do Nepal. Não queriam uma escola religiosa.
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Barry Green, Joshue, de 13, e Corenna saíram do Reino Unido após o referendo do Brexit.

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