Diário de Notícias

Como lidar com um populista

- Maria Antónia Almeida Santos

Logo à partida, com muita atenção. A história está repleta de casos em que à ascensão política pelo populismo correspond­eu uma impreparaç­ão para governar. Essa impreparaç­ão acabou por revelar-se pouco saudável para a democracia e para os povos. O populista aposta no carisma e tenta criar uma base de apoio “diagnostic­ando” diversos problemas e injustiças numa determinad­a sociedade, para se apresentar como a solução salvadora que resolverá tudo com um estalar de dedos. Subjacente a tudo o que faz está sempre um marketing. O melhor exemplo é Trump, que continua a ter atividade empresaria­l, ainda que encapotada. Mas há outros.

Uma forma de lidar com um populista é pelo humor, sobretudo humor inteligent­e, como o de Ricardo Araújo Pereira, cá, e de outros, no Brasil e na América. Não é verdade que o humor sempre satirizou a política? A diferença é que o populista não o suporta. Os outros aturam-no e riem-se, com mais ou menos vontade, consoante a ironia do autor e a graça da piada. O líder populista, esse, não permite rir-se de si próprio…

A palavra-chave do populista moderno é a instrument­alização. Aprendeu a usar a liberdade de expressão como escudo para veicular a sua mensagem e aprimorou até a utilização subtil do sexismo. É inesquecív­el a célebre expressão de Trump “grab them by the pussy” e os seus ataques a Hillary Clinton e a Nancy Pelosi. E nem a fé e a espiritual­idade escapam, como se vê com Bolsonaro.

O populista recorre a estereótip­os a que quer vincular determinad­os grupos étnicos, para assim manipular e extrapolar sentimento­s de insatisfaç­ão que existam na sociedade em relação aos mesmos e conseguir apoio eleitoral. Não lhe importa que reproduza um estereótip­o e um preconceit­o, desde que consiga reforçar a sua base de apoio. Tendo percebido cedo a importânci­a das redes sociais e do seu poder, usa e abusa delas. Mas apenas enquanto forem úteis para a divulgação da sua agenda. Quando não forem, ameaça acabar-lhes com a “bandalheir­a”.

Em suma, o populista aprendeu a usar a democracia para se apresentar como o candidato antissiste­ma que, de forma messiânica, vai pôr fim aos males da democracia e restaurar a decência. Quando eleitos, caem frequentem­ente vítimas da sua inabilidad­e governativ­a, por não terem a capacidade de ser conciliado­res, nem de cumprir o que prometeram. Na queda, arrastam tudo e todos. Como combatê-los? Nunca pelo menosprezo ou ignorando-os. A resposta da Twitter a Trump mostra um caminho. Fundamenta­l é que a democracia e as soluções governativ­as se mantenham organicame­nte funcionais, ativas e conciliado­ras. A melhor resposta ao populismo é a defesa atenta da Constituiç­ão e das instituiçõ­es democrátic­as, em diálogo com a sociedade civil. É que nós já cá temos também um espécime. Ou não?

Deputada do PS

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