Como lidar com um populista
Logo à partida, com muita atenção. A história está repleta de casos em que à ascensão política pelo populismo correspondeu uma impreparação para governar. Essa impreparação acabou por revelar-se pouco saudável para a democracia e para os povos. O populista aposta no carisma e tenta criar uma base de apoio “diagnosticando” diversos problemas e injustiças numa determinada sociedade, para se apresentar como a solução salvadora que resolverá tudo com um estalar de dedos. Subjacente a tudo o que faz está sempre um marketing. O melhor exemplo é Trump, que continua a ter atividade empresarial, ainda que encapotada. Mas há outros.
Uma forma de lidar com um populista é pelo humor, sobretudo humor inteligente, como o de Ricardo Araújo Pereira, cá, e de outros, no Brasil e na América. Não é verdade que o humor sempre satirizou a política? A diferença é que o populista não o suporta. Os outros aturam-no e riem-se, com mais ou menos vontade, consoante a ironia do autor e a graça da piada. O líder populista, esse, não permite rir-se de si próprio…
A palavra-chave do populista moderno é a instrumentalização. Aprendeu a usar a liberdade de expressão como escudo para veicular a sua mensagem e aprimorou até a utilização subtil do sexismo. É inesquecível a célebre expressão de Trump “grab them by the pussy” e os seus ataques a Hillary Clinton e a Nancy Pelosi. E nem a fé e a espiritualidade escapam, como se vê com Bolsonaro.
O populista recorre a estereótipos a que quer vincular determinados grupos étnicos, para assim manipular e extrapolar sentimentos de insatisfação que existam na sociedade em relação aos mesmos e conseguir apoio eleitoral. Não lhe importa que reproduza um estereótipo e um preconceito, desde que consiga reforçar a sua base de apoio. Tendo percebido cedo a importância das redes sociais e do seu poder, usa e abusa delas. Mas apenas enquanto forem úteis para a divulgação da sua agenda. Quando não forem, ameaça acabar-lhes com a “bandalheira”.
Em suma, o populista aprendeu a usar a democracia para se apresentar como o candidato antissistema que, de forma messiânica, vai pôr fim aos males da democracia e restaurar a decência. Quando eleitos, caem frequentemente vítimas da sua inabilidade governativa, por não terem a capacidade de ser conciliadores, nem de cumprir o que prometeram. Na queda, arrastam tudo e todos. Como combatê-los? Nunca pelo menosprezo ou ignorando-os. A resposta da Twitter a Trump mostra um caminho. Fundamental é que a democracia e as soluções governativas se mantenham organicamente funcionais, ativas e conciliadoras. A melhor resposta ao populismo é a defesa atenta da Constituição e das instituições democráticas, em diálogo com a sociedade civil. É que nós já cá temos também um espécime. Ou não?
Deputada do PS