PSP cria “equipas covid” e requisita Polícia Municipal do Porto
A Polícia de Segurança Pública está a dar tudo por tudo para ajudar a travar a covid-19. Da “sensibilização” passou à “ação” e só nos últimos quatro dias foram detidas 22 pessoas.
A Polícia de Segurança Pública está empenhada em ajudar a travar a covid-19. Da “sensibilização” passou à “ação”, e só nos últimos quatro dias foram detidas 22 pessoas.
APSP do Porto requisitou a Polícia Municipal (PM) daquela cidade para reforçar as patrulhas no terreno, confirmou ao DN fonte oficial da direção nacional desta força de segurança. A requisição da PM de Lisboa também chegou a ser equacionada, mas ainda não se concretizou, dando prioridade ao norte.
“Como referi aquando da minha posse como vosso diretor nacional, relembrando Martin Luther King, ‘a verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio’”, escreveu o diretor nacional da PSP, nesta quarta-feira, num despacho em que elenca um conjunto de medidas para reforçar a presença da polícia nas ruas.
Notoriamente com falta de meios para garantir toda a fiscalização no terreno nesta nova fase de confinamento, com a maior pressão de sempre desde o início da pandemia, a direção nacional da PSP tem dado tudo por tudo para aumentar a visibilidade – incluindo deixar de prevenção os polícias que estão em pré-reforma e suspender férias e folgas do efetivo, conforme escrito num despacho do diretor nacional, Manuel Magina da Silva, nesta quarta-feira (dia 20).
Segundo o porta-voz da PSP, a requisição da PM do Porto – que tem cerca de 200 elementos – “ocorreu por proposta da comandante do Comando Metropolitano do Porto (superintendente-chefe Paula Peneda), com o acordo prévio do presidente da Câmara Municipal do Porto (Rui Moreira). Destina-se a garantir e formalizar a unidade de comando e controlo da ação policial, fundamental na fase pandémica crítica que atravessamos”. Esta fonte oficial adianta ainda que a PSP dispõe “de outros mecanismos para aumentar a capacidade operacional da PSP, caso seja necessário no futuro próximo”.
Esta medida de requisição está prevista num protocolo de cooperação, assinado em 2019, entre as autarquias do Porto e de Lisboa, as respetivas PM e a PSP. Esse documento, que o DN consultou, determina que os “meios requisitados ficam na dependência e sob o comando operacional”da PSP e que, no pedido feito aos presidentes das câmaras tem de estar indicado “o número de elementos e a duração previsível da requisição”. Questionada a PSP sobre este detalhe, não respondeu.
Ao que o DN apurou, no Porto os agentes da PM (que são, de origem, agentes da PSP em comissão de serviço)estão a integrar as novas Equipas de Intervenção Covid (EICovid), acabadas de criar nesta semana. A ordem que chegou aos comandos da PSP em todos os distritos é que cada divisão tenha, pelo menos, uma equipa destas. No comando de Lisboa, por exemplo, há cinco divisões.
As EICovid são equipas móveis, que vão circular em carros-patrulha (no caso do Porto utilizarão também carros da Polícia Municipal) e podem usar megafones para difundir mensagens. A sua prioridade vai para a dispersão de aglomerações de pessoas.
Neste fim de semana a ação operacional da PSP dará uma atenção especial à fiscalização das zonas públicas normalmente utilizadas para lazer, como jardins, parques e áreas junto aos rios e mar. Para esta missão contam com as autarquias que já interditaram algumas destas zonas. Vai ser também feito controlo junto às universidades que ainda possam querer manter exames presenciais (nesta sexta-feira a PSP interrompeu um exame na St. Dominic’s International School, em Cascais).
Mais ação, menos tolerância
A pedagogia musculada” com que a PSP começou a enfrentar o novo confinamento começa a ter efeitos mensuráveis e a demonstrar que o lado do “polícia bom” dos agentes que sensibilizaram os portugueses durante meses, alertando-os para a necessidade de cumprir as regras e evitar os contágios pela covid-19, vai sendo substituído pelo “polícia mau”, ou, neste caso, “melhor”, que não está com tantas contemplações e é mais rápido a deter ou a multar.
Nos últimos sete dias (de 15 a 21) foram detidas 26 pessoas, das quais dez por desobedecerem a ordens de confinamento. Comparando com a média diária de detenções desde 19 de março até dia 15, que não chegava a uma detenção por dia (0,6), nesta semana essa média mais que triplicou (3,6). No fim de semana tinha havido quatro detenções, a que se juntaram mais 22 de segunda a quinta – mais 550%.
No Conselho de Ministros da passada segunda-feira (18 de janeiro), o primeiro-ministro exigiu que as forças de segurança tivessem mais visibilidade na via pública e que reforçassem a sua ação fiscalizadora. “Às forças de segurança, e muito especialmente à PSP, foi determinada uma maior visibilidade da sua presença na via pública, designadamente nas imediações dos estabelecimentos escolares, de forma a serem um fator de dissuasão para impedirem ajuntamentos que são uma ameaça à saúde pública”, afirmou António Costa.
Os jornalistas da Gazzeta dello Sport perguntaram-lhe se tinha pensado em escrever uma encíclica sobre o desporto. Francisco: “Explicitamente não, mas há muitos elementos dispersos nas minhas intervenções, sugerindo, por exemplo, como o desporto pode ajudar ou pelo menos dar um contributo para a globalização dos direitos. A cada quatro anos há os Jogos Olímpicos, que podem servir de farol para os navegantes: a pessoa no centro, a pessoa orientada para o seu desenvolvimento, a defesa da dignidade de todas as pessoas. Contribuir para a construção de um mundo melhor, sem guerras nem tensões, educando os jovens através do desporto praticado sem discriminações de nenhuma espécie, num espírito de amizade e de lealdade.”
“O lema olímpico Citius, Altius, Fortius (Mais veloz, Mais alto, Mais forte) é belíssimo. Com os cinco círculos e a chama olímpica é um dos símbolos dos Jogos. Não é um convite à supremacia de uma equipa sobre a outra, ainda menos a uma espécie de incitamento ao nacionalismo. É uma exortação aos atletas, para que tendam a trabalhar sobre si mesmos, superando de modo honesto os seus limites, em ordem a construir algo de grande, sem se deixar bloquear por eles. Tornou-se uma filosofia de vida: o convite a não aceitar que alguém assine a vida por nós.”
Dos Jogos Olímpicos fazem parte integrante “os Paralímpicos, uma das formas mais altas de igualdade, dignidade, redenção”. Francisco: “No desporto, agrada-me a ideia de inclusão. Aqueles cinco anéis entrelaçados, com cores diferentes e representando as cinco partes do mundo, são uma imagem fantástica de como o mundo poderia ser. O movimento paralímpico é preciosíssimo: não só para incluir a todos, mas também porque é a oportunidade para contar e dar direito de cidadania nos media a histórias de homens e mulheres que fizeram da deficiência a arma da redenção. São histórias que fazem nascer histórias, quando todos pensam que já não haveria nenhuma história para contar.”
Mas os negócios rondam a maravilha e a beleza do desporto, fazendo-lhe perder a alma. “O atleta é um mistério fascinante, uma obra-prima de graça, de paixão. Mas é facílimo transformá-lo num objecto, uma mercadoria que gera lucro. Na Fratelli Tutti, quis tornar claro que o mercado só não resolve tudo, embora a cultura de hoje pareça fazer-nos crer a todo o custo neste dogma de fé neoliberal. Isto acontece quando o valor económico faz lei, tanto no desporto como em tantos outros sectores da nossa vida.Vimos, nos últimos meses, como a pandemia tornou claro que nem tudo se resolve com a liberdade do mercado.”
Aqui, nesta crise, permita-se-me uma reflexão pessoal. A nossa palavra escola vem do grego scholê, que significa ócio (do latim otium), não no sentido de preguiça, mas de tempo livre para pensar, pesar razões, reflectir sobre o essencial. Desgraçadamente, hoje parece que tudo se transformou em negócio (do latim nec otium, negação do ócio). O resultado está à vista. Até o desporto, que pode e deve ser uma escola de vida, se tornou negócio, um gigantesco espaço de negócios, com imensa corrupção pelo meio.
Por detrás de um campeão há um treinador. Treinar é um pouco como educar? Francisco: “Sim. No momento da vitória de um atleta, quase nunca se vê o treinador. Mas, sem treinador, não nasce um campeão, um treinador que invista tempo, que saiba entrever possibilidades que nem o atleta imaginaria. Não basta, porém, treinar o físico; é preciso saber falar ao coração, motivar, corrigir sem humilhar. Quanto mais genial for o atleta mais delicado tratar com ele: o verdadeiro treinador, o verdadeiro educador, sabe falar ao coração de alguém que nasce campeão.”
O segredo para competir no campeonato da santidade? Francisco: “Que faz um jogador quando é convocado para um jogo ou um atleta antes de uma competição? Deve treinar, treinar, treinar um pouco mais. A cada um Deus deu um campo no qual jogar a sua vida; sem treino, até o mais talentoso continua a ser um perdedor. Para treinar – até um Papa tem de continuar a treinar –, perguntar a Deus todos os dias: ‘Que queres que eu faça?, que queres da minha vida?’ Pedir a Jesus, confrontar-se com ele como treinador.”
Francisco: “Penso que, se perguntássemos a qualquer desportista o segredo último das suas vitórias, mais de um nos diria que vence porque é feliz. E a felicidade é a consequência de um coração em ordem, em estado de graça, pronto para o desafio.”