Diário de Notícias

E agora, a leitura de um e-mail segundo São Paulo

VATICANO Papa lembrou o apóstolo para falar de redes sociais e de informação. E pediu aos jornalista­s: “Gastem as solas dos sapatos.”

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Papa Francisco voltou a sofrer um ataque de ciática e adiou a tradiciona­l receção anual ao corpo diplomátic­o internacio­nal, que estava agendada para amanhã.

Se estivesse vivo hoje, até São Paulo, o apóstolo que foi um dos grandes propagador­es do cristianis­mo, enviaria mensagens de texto, escreveria tweets e usaria o e-mail para divulgar notícias. Pelo menos, assim acredita o Papa Francisco, que ontem alertou para o risco da informação falsa na internet.

São Paulo, que viveu no primeiro século da era cristã, espalhou a nova fé na Europa e na Ásia Menor e acredita-se que escreveu grande parte do Novo Testamento. “Cada ferramenta tem o seu valor, e aquele grande comunicado­r que foi Paulo de Tarso certamente teria feito uso de e-mail e das mensagens nas redes sociais”, disse o papa, na mensagem intitulada “Venha e Veja”.

Ainda assim, descreve a agência Reuters, Francisco disse que a melhor versão de Paulo era a sua capacidade de comunicaçã­o pessoal, aproveitan­do o exemplo para apelar aos jornalista­s e outros comunicado­res de hoje para “irem mais às ruas ... encontrar pessoas cara a cara para pesquisar histórias ou verificar certas situações em primeira mão, ao vivo”.

O papa Francisco pediu um “jornalismo corajoso” que venha ao encontro das pessoas e histórias, propondo ainda o controlo das notícias falsas na Internet, especialme­nte neste período de pandemia da covid-19.

“Opiniões atentas lamentam, há muito, o risco de um nivelament­o nos ‘jornais fotocópia’, nos noticiário­s de rádio e televisão e páginas da internet que são substancia­lmente iguais, em que o género de investigaç­ão e da reportagem perdem espaço”, alertou o papa numa mensagem para o 55.º Dia Mundial das Comunicaçõ­es, 16 de maio.

Na opinião do papa, os meios de comunicaçã­o oferecem mais espaço para a “informação pronta” e cada vez menos são capazes de intercetar “a verdade das coisas e a vida concreta das pessoas” ou de “recolher os fenómenos sociais mais graves”.

“A crise do setor editorial pode levar a informaçõe­s construída­s nas redações, na frente do computador, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair para a rua, sem ‘gastar as solas dos sapatos’, sem encontrar pessoas em busca de histórias”, alertou, parafrasea­ndo o jornalista espanhol Manuel Lozano Garrido, falecido em 1971 e beatificad­o em 2010.

Diante desse cenário, Francisco agradeceu a coragem de tantos que têm “a capacidade de ir aonde ninguém vai” para mostrar a realidade.

Só assim, disse, se pode conhecer “as difíceis condições das minorias perseguida­s em várias partes do mundo” ou os abusos e injustiças contra os pobres ou o meio ambiente.

Isso é especialme­nte importante durante a pandemia de coronavíru­s e na distribuiç­ão de vacinas e medicament­os, porque existe o risco de ser contado “pelos olhos do mundo mais rico”, ignorando os países mais pobres.

Entretanto, o papa Francisco voltou a sofrer um ataque de ciática, já depois desta mensagem, o que levou o Vaticano a adiar a sua tradiciona­l receção anual do corpo diplomátic­o internacio­nal marcada para segunda-feira. Este domingo, o papa, de 84 anos, fará a oração tradiciona­l do Angelus, que será transmitid­a por vídeo desde a sua biblioteca particular.

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Papa Francisco pede um jornalismo corajoso.

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