Diário de Notícias

O clã Biden: do patriarca Joe ao bebé Beau

No dia da posse, o novo presidente dos EUA esteve rodeado de filhos e netos. Fique a conhecê-los.

- TEXTO HELENA TECEDEIRO

Joe Biden a dançar na Casa Branca com o bebé Beau, o neto mais novo, ao colo, ao som de Lovely Day, na voz de Demi Lovato. Esta foi uma das imagens mais ternurenta­s da tomada de posse do 46.º presidente dos EUA. Neste dia especial, o patriarca rodeou-se de toda a família, como sempre fez nos momentos felizes. E nos trágicos também, que foram muitos. O clã esteve em força em Washington, de tal forma que a senadora Amy Klobuchar, uma das organizado­ras da cerimónia no Capitólio, não resistiu a brincar com o assunto, começando por saudar “o vice-presidente Mike Pence, o presidente eleito, a senhora vice-presidente, membros do Congresso e do ramo judicial, antigos presidente­s e primeiras-damas, líderes estrangeir­os e uma data de Bidens”.

Mas afinal quem é quem na “primeira-família” da América? A história começa numa fria manhã de inverno, em 1972, numa estrada do Delaware. Neilia Biden regressava a casa com a árvore de Natal que acabara de comprar quando o seu carro chocou contra um camião. A filha Naomi, de 13 meses, e a mãe não resistiram e os dois filhos mais velhos do casal, Beau de 4 anos e Hunter de 3, ficaram gravemente feridos.

Aos 30 anos, Biden acabava de ser eleito senador e ainda na véspera de o seu mundo desabar estivera ao lado da mulher a discutir o seu futuro trabalho em Washington enquanto Neilia escrevia postais de Natal. Tudo acabou com um telefonema no dia seguinte.

Após a morte da mulher e da filha, Joe Biden perdeu qualquer interesse no Senado. “Pela primeira vez na vida percebi como alguém pode decidir em consciênci­a cometer suicídio”, confessari­a anos mais tarde num encontro do Tragedy Assistance for Survivors. Decidido a passar mais tempo com os filhos, acabou por se deixar convencer a experiment­ar o cargo durante seis meses. Foi na capela do hospital onde Beau ainda estava internado que Biden prestou juramento, com o filho mais velho a ser levado na cama até ao local e Hunter, que já tivera alta, a juntar-se a ele para assistir à cerimónia.

De volta a Washington, começava uma longa tradição: todas as tardes o senador Biden apanhava o comboio de volta ao Delaware a tempo de dar um beijo de boas noites aos filhos, que foram criados em parte pela tia Valerie, irmã de Joe.

Assim se passaram três anos, até que Joe conheceu Jill Jacobs. “Ela devolveu-me a vida. Fez-me começar a pensar que a minha família estava inteira outra vez”, escreveu Joe nas suas memórias Promises to Keep. Mas não foi fácil convencer a estudante universitá­ria a casar-se. Foram precisos cinco pedidos de casamento e um ultimato para Jill dizer o tão ansiado “sim”.

Anos mais tarde, numa entrevista à Vogue, Jill recordou o seu primeiro encontro. “Eu era finalista, namorava rapazes de calças de ganga e T-shirt. Ele bateu à porta com o seu casaco desportivo e os seus mocassins e eu pensei: ‘Meu Deus, isto nunca vai funcionar.’ Ele tinha mais nove anos do que eu! Mas acertámos mesmo... No final, subi as escadas, liguei à minha mãe à uma da manhã e disse: ‘Mãe, finalmente conheci um cavalheiro.’”

Mas se ficou rendida ao charme do senador, Jill demorou a aceitar tornar-se a segunda Sra. Biden, apesar de desde o primeiro momento ter começado a tomar conta de Beau e Hunter. “Ia buscá-los à escola quando o Joe trabalhava até tarde. Passávamos o serão a ver televisão. Começámos a construir a nossa relação independen­te do pai deles”, explicou Jill.

Recém-divorciada (casara-se aos 19 anos), começar outra relação, com um viúvo pai de dois filhos ,parecia-lhe um desafio para o qual ainda não estava preparada. Por isso foi repetindo “ainda não, ainda não” a cada pedido de Joe. “Senti que este casamento tinha mesmo de resultar. Porque aqueles miúdos já tinham perdido a mãe, não podiam perder outra figura materna.”

À quinta foi de vez, confrontad­a com o ultimato de Joe – se não lhe desse resposta positiva, não voltaria a perguntar –, Jill aceitou casar-se. A cerimónia aconteceu em 1977, a lua-de-mel foi a quatro e em 1981 nascia Ashley, a única filha em comum. Pelo meio, Jill terminou o mestrado em Ciências da Educação e em 1988 Joe fez a primeira tentativa de chegar à Casa Branca. Avessa à ribalta, a mulher não deixou de estar ao seu lado, tal como o resto da família na campanha, mas o senador acabou por desistir, suspeito de ter plagiado um discurso.

Mas a tragédia voltaria a bater à porta dos Biden. Pouco meses depois, Joe sofria um aneurisma e quando estava a ser operado teve uma embolia pulmonar. Recuperou, mas alguns meses depois voltou a sofrer outro aneurisma. Tempos difíceis que obrigaram Jill a desenvolve­r o seu estoicismo. “Recusei-me a mostrar fraqueza. Estava sempre a manter o controlo. Os miúdos nunca me viram chorar enquanto Joe esteve numa cama no hospital.” Pelo meio, ia dando aulas – um trabalho que recusa deixar, mesmo agora que se tornou primeira-dama – e completou o doutoramen­to, assumindo no nome um “Dra.” que até hoje mantém até na sua conta de Twitter.

A morte volta a atacar

Depois da rebeldia normal da adolescênc­ia – Ashley foi detida em Chicago por agredir e tentar intimidar um polícia, Hunter reconhecer­ia mais tarde os problemas com as drogas –, os filhos dos Biden tornaram-se adultos e começaram a constituir as suas próprias famílias.

Em 2008, Barack Obama escolhia Joe para seu vice-presidente e os dois rivais das primárias encetaram uma boa relação de trabalho, além de uma forte amizade. Mas a morte voltaria a bater à porta dos Biden. Beau, um militar de carreira que recebeu uma Estrela de Bronze por bravura em combate tornado procurador-geral do Delaware, anunciou a intenção de se candidatar a governador do estado nas eleições de 2016. Mas um cancro no cérebro matou-o em março de 2015. Tinha 46 anos e deixava mulher e dois filhos: Natalie e Robert.

Mas não foram só as suas ambições políticas que a morte de Beau

Durante a campanha para as presidenci­ais de 3 de novembro, foram os netos os grandes impulsiona­dores da candidatur­a de Biden nas redes sociais.

interrompe­u: apesar dos apelos do filho antes de morrer, Joe decidiu não avançar como candidato às presidenci­ais de 2016.

Mas, quatro anos depois, avançou mesmo contra Donald Trump, derrotando o republican­o e tornando-se presidente. Para tal contou, mais uma vez com a família e com a “data de Bidens” de que falava Klobuchar. Beau, claro, não ficou esquecido. Já em janeiro, numa entrevista ao programa Morning Joe da MSNBC, o então presidente eleito lembrou que era o filho que se devia ter candidatad­o e garantiu: “Todos os dias acordo e penso: será que ele está orgulhoso de mim?”

O resto do clã teve participaç­ão ativa na campanha. Hunter até de forma involuntár­ia. Aos 50 anos, os seus negócios com a Ucrânia estiveram na origem do primeiro impeachmen­t de Trump, acusado de pressionar Kiev para investigá-lo e tornaram-se uma ameaça às ambições de Joe. Já Ashley, de 39 anos, veio dizer que não vai ter qualquer papel na administra­ção do pai.

Mas foram os netos os grandes impulsiona­dores do avô nas redes sociais. A começar pelas filhas mais velhas de Hunter: Naomi, de 27 anos, uma advogada que herdou o nome da tia, Finnegan (nome da mãe de Joe), de 24, estudante de Direito tal como a irmã mais nova, Maisy, de 22. As três destacaram-se no dia da posse ao lado dos primos Natalie, de 16, e Robert Hunter, de 14, filhos do falecido Beau. Todos surgiram juntos num vídeo exibido na Convenção Democrata em que prestavam o juramento de fidelidade ao candidato/avô.

Mas a estrela da companhia foi Beau, o filho mais novo de Hunter que tem o mesmo nome do tio e que do alto dos seus 10 meses e meio não só acompanhou toda a cerimónia de posse como ainda acabou a noite a dançar com o avô na Casa Branca.

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