Mirko Stefanovic
A nova Casa Branca e o Médio Oriente
Só depois de as coisas arrefecerem, o Médio Oriente voltará às prioridades da Casa Branca. Portanto, Israel tem de esperar, o Irão tem de esperar, os palestinianos têm de esperar, assim como todos os outros que esperam algo do novo presidente americano.
Poucos dias antes da mudança na Casa Branca em Washington, o governo israelita reconheceu a construção de 780 mais 2600 novos apartamentos para os colonos judeus na Cisjordânia. Em 2020 eles decidiram construir cerca de 12 mil novos apartamentos e durante a administração do presidente Trump foram construídas 27 mil novas casas no total.
Não é uma surpresa ouvir em Israel que Trump foi o líder americano mais pró-israelita de todos os tempos, não apenas por ter mudado a Embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém, mas também por causa da sua posição sobre a ampliação dos colonatos na Cisjordânia.
A última decisão sobre os 780 apartamentos soa como um gesto de despedida do governo do primeiro-ministro Netanyahu ao atual governo americano, em antecipação aos problemas que virão com a nova administração. Todos esperam que Joe
Biden e os seus associados no Departamento de Estado não encorajem a política atual dos israelitas na Cisjordânia. Mas a única questão é até que ponto eles estão dispostos a ir na reversão do que foi feito pelo governo anterior. Mesmo que pareça fácil cancelar o que o presidente Trump aprovou no Médio Oriente, é demasiado otimismo acreditar que isso vai acontecer.
O novo presidente americano estará sobrecarregado de problemas na política interna dos EUA. Existem danos, deixados pela administração Trump, que têm de ser resolvidos imediatamente, antes de se olhar para o exterior. O momento é extremamente difícil para a equipa de Biden e a prioridade não estará focalizada muito longe da Casa Branca. Os israelitas sabem que depois de 20 de janeiro não devem “fazer ondas” com frequência e é por isso que a decisão sobre os novos apartamentos é tomada antes.
O primeiro-ministro Netanyahu encontrará certamente uma maneira de se conectar com o novo presidente americano, mas ele tem de ficar fora do seu foco por um certo período de tempo, para deixá-lo trabalhar na “unidade da nação” e na pandemia da covid-19, o que vai ser extremamente difícil. Se, ao mesmo tempo, Israel se tornar um problema, isso poderá ser demais até para o aliado tradicional.
Só depois de as coisas arrefecerem, o Médio Oriente voltará às prioridades da Casa Branca. Portanto, Israel tem de esperar, o Irão tem de esperar, os palestinianos têm de esperar, assim como todos os outros que esperam algo do novo presidente americano.
A questão é se eles saberão como fazê-lo.