Vacinas covid-19: uma maratona em equipa
Em pouco mais de um mês, 12 milhões de pessoas foram vacinadas em toda a União Europeia (UE). 18 milhões de doses foram distribuídas pelos diferentes países e, de acordo com os dados das empresas com as quais a UE tem acordos de fornecimento deste precioso bem, 33 milhões de doses serão entregues em fevereiro e outros 55 milhões até ao final de março.
O processo normal de desenvolvimento de uma vacina demora em média dez anos. No caso das vacinas contra o coronavírus, esse prazo foi encurtado para dez meses, em parte graças ao grande investimento que a Comissão Europeia e outras entidades fizeram na investigação e no incremento da capacidade de produção desde o início da pandemia.
A estratégia de aquisição de vacinas coordenada pela UE permitiu que, em apenas seis meses, e se todos os candidatos envolvidos forem bem-sucedidos, se tenham garantido dois mil milhões de doses de vacinas seguras e eficazes, que serão repartidas equitativamente e ao mesmo tempo entre todos os países da União, e quando a situação na UE assim o permitir, entre países vizinhos e outros.
A disponibilidade destas doses de vacinas resulta de um processo de negociação conjunta conduzido pela Comissão em estreita coordenação com os 27 países da UE. Porque em conjunto temos uma capacidade negocial reforçada e porque não é difícil imaginar a alternativa: uma corrida desenfreada na qual não haveria vencedores, mas onde não faltariam vencidos. Dito isto, deve ficar bem claro que há espaço para negociações diretas com os fabricantes e que cada país tem a possibilidade de dar autorização de emergência, com a responsabilidade nacional, a outras vacinas.
A União disponibilizou 2,7 mil milhões de euros que já permitiram fechar acordos com seis fabricantes de vacinas, três das quais já receberam a luz verde da Agência Europeia do Medicamento (EMA). Muitas vezes injustamente acusada por ter um processo de autorização demorado, este foi um passo de que a Comissão não quis abdicar para garantir que as vacinas disponíveis são eficazes, mas também seguras. Além disso, este é um processo que, ao contrário das aprovações ditas de “emergência” adotadas por outros países, assegura que a responsabilidade final pela qualidade das vacinas pertence aos respetivos fabricantes e não às entidades públicas.
Não se trata de efetuar balanços prematuros nem de celebrar uma qualquer vitória ainda longínqua. Trata-se apenas de colocar alguns elementos em perspetiva numa altura em que, compreensivelmente, se multiplicam as vozes preocupadas com o ritmo de um processo que terá um papel crucial para pôr um ponto final numa pandemia que tanto sofrimento tem provocado.
Dizer tudo isto não é dizer que não haja lições a retirar e coisas a melhorar. Mas é constatar que dificilmente teríamos chegado aqui se, em vez de uma estratégia coordenada e solidária, tivéssemos deixado cada país entregue à sua sorte. Como disse recentemente a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a luta contra a pandemia é uma maratona, não um sprint. É um processo longo e em que não devemos perder de vista o objetivo final, apesar das inevitáveis vicissitudes que se nos atravessarão ao longo do caminho.
Francisco Rodrigues dos Santos com Adolfo Mesquita Nunes no congresso de Aveiro.