Há acordo entre Câmara de Lisboa e peticionários
Autores da petição contra fim dos brasões frente ao Mosteiro dos Jerónimos vão apresentar proposta à câmara para preservar aquela memória. Reuniram-se com Medina e Sá Fernandes.
Os proponentes da petição contra o fim dos brasões florais na Praça do Império estiveram nesta terça-feira reunidos com o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Fernando Medina, e com o vereador José Sá Fernandes e chegaram a acordo para que aquela memória seja preservada na futura requalificação da praça.
“Foi uma reunião muito longa, de mais de duas horas e meia, com muita troca de pontos de vista e muito construtiva”, garantiu ao DN o primeiro proponente da petição, Rafael Pinto Borges, líder do Movimento Nova Portugalidade.
Rafael Pinto Borges diz que obteve por parte dos responsáveis da autarquia a garantia de que “não há má vontade contra os brasões”, e da parte dos peticionários – que conseguiram reunir cerca de 14 mil assinaturas contra a remoção dos mesmos – também foi afirmado que nada os move contra a Câmara de Lisboa, “há apenas uma discordância de cidadania”.
Ficou acordado que os proponentes da petição irão apresentar ao executivo camarário uma proposta para preservar os brasões, “mesmo que não seja em formato de buxo” como são agora.
Ao DN, em plena Praça do Império, José Sá Fernandes já tinha garantido estar disponível para soluções para preservar os brasões florais das capitais de distrito, das ilhas e ex-colónias portuguesas, plantados em 1961.
Na altura, o vereador com o pelouro do Ambiente e Espaços Verdes na Câmara Municipal de Lisboa tentou desconstruir a ideia de que a requalificação daquele espaço e o fim dos tais arbustos nada têm a ver com a aversão à história do colonialismo português.
“Não tenho preconceito ideológico, nem nada, quero é arranjar isto! Deixem-me arranjar a Praça e depois se logo vê”, disse José Sá Fernandes.
Sá Fernandes admitia que a obra de requalificação pudesse acolher uma proposta de manutenção dos brasões no empedrado da calçada que circunda a Fonte Luminosa ou outra que mantivesse viva a memória dos brasões. “A minha preocupação é arranjar os muros, os bancos, o empedrado, o relvado. Mas estou aberto a discutir o que possa vir a ser feito naquele espaço, e a arquiteta também está, creio.” O vereador não fechava, assim, a porta ao diálogo com quem se batia para que aquela memória prevalecesse mesmo numa praça renovada.
Isto num dia em que tinha entrado na Assembleia Municipal de Lisboa uma petição com cerca de 14 mil assinaturas contra o fim dos brasões e com acusações de “perseguição ao passado”.
Entre as assinaturas da petição constavam várias personalidades, como António Barreto, professor e antigo ministro da Agricultura, Bagão Félix, antigo ministro da Segurança Social, Carmona Rodrigues, ex-presidente da autarquia, Duarte Pio de Bragança e Telmo Correia, deputado do CDS, entre muitos outros.
Os peticionários insurgiam-se contra o facto de a CML ter aprovado as obras de requalificação que preveem a remoção dos brasões florais naquela praça tão emblemática de Belém. “Trata-se da única praça do mundo que representa a epopeia dos Descobrimentos, maior dos feitos portugueses e elemento basilar da identidade nacional. Só por este facto merece preservação patrimonial como peça única, testemunho de uma época, símbolo formal de um período da nossa história e do primeiro império global. Tal não pode, nem deve, ser escamoteado ou distorcido. Por isso é única, e deve ser preservada fiel, autêntica e integralmente”, referia o documento.
Sugestões dos vizinhos
Os brasões foram colocados em 1961, por ocasião da XI Exposição Nacional de Floricultura, tendo sido comemorados os cinco séculos da morte do infante D. Henrique no ano anterior, e não faziam parte da configuração inicial da Praça, desenhada por Cottinelli Telmo, em 1940.
As sugestões para a preservação da memória daqueles brasões partiu de Gonçalo Matos, fundador e coordenador do Grupo de Vizinhos de Belém, que, em conversa com o DN, lembrou as propostas que têm sido debatidas na comunidade para que se integrem estes brasões na pedra da calçada ou sejam integrados num empedrado no relvado, ou então sejam reproduzidos em placas evocativas, colocadas no local onde existiam em flor.
A Praça do Império foi criada para a Exposição do Mundo Português, em 1940, que comemorou o duplo centenário da Independência de Portugal (1140) e da Restauração (1640).
Foi projetada por Cottinelli Telmo, que além de arquiteto foi também cineasta. Sofreu alterações em 1961, por ocasião dos 500 anos da morte do infante D. Henrique e no âmbito da Exposição Nacional de Floricultura, em que foram projetados os brasões florais. Aquela zona junto ao Mosteiro dos Jerónimos também sofreu fortes transformações, sobretudo com a construção do Centro Cultural de Belém ou do novo Museu dos Coches.
Os trabalhos de alteração da Praça foram adjudicados à empresa Decoverdi – Plantas e Jardins, vão durar quatro meses e têm um custo a rondar os 778 mil euros, valor que já inclui manutenção pelo período de um ano após a conclusão da empreitada. O projeto é assinado pelo ateliê de arquitetura paisagista ACB e tem como primeiro objetivo “retomar o traçado de Cottinelli Telmo, recuperando o conceito original de 1940”, e que já sofreu alterações ao longo dos tempos.
Sá Fernandes já tinha garantido ao DN estar aberto a soluções para preservar os brasões florais das capitais de distrito, das ilhas e das ex-colónias portuguesas plantados em 1961.