AFONSO CRUZ A ALEGORIA DO MUNDO NA CERVEJA
Música, ilustração e escrita. Esta é a “divina” trindade na qual o escritor Afonso Cruz se move entre projetos e trabalhos. Mas há mais uma vertente que rivaliza com as demais, e que pode ser adjetivada de lado B: o fabrico de cerveja artesanal – que faz há mais de 20 anos. Tudo começou quando leu um livro de um monge alemão sobre a compreensão do mundo através da cerveja. “Fiquei curioso como seria possível perceber o mundo à minha volta ao fabricar cerveja. Na altura decidi comprar equipamento e passei a fazer cerveja em casa”, conta ao DN o escritor, ilustrador e também músico. O fabrico artesanal de cerveja começou no seu apartamento em Lisboa e agora continua no interior do Alentejo, para onde se mudou há 12 anos. A pergunta é óbvia. Será que já percebeu a que se referia o monge? “A alegoria do monge tinha muito que ver com a religião. Na altura desconheciam-se as leveduras responsáveis pela fermentação e consideravam o processo como quase mágico, como uma fecundação espiritual de um mosto que aos olhos deles começava a ferver e a deitar fumo. Remete para a frase que está no livro de Génesis ‘no início o espírito de Deus pairava sobre as águas’. E se a compreensão do mundo ainda está por responder, há “segredos” já desvendados sobre o tipo de cervejas que gosta de fazer. “São as Ale belgas, um tipo de cerveja feita com a mesma levedura do pão. São complexas e exigem um pouco mais do bebedor.” Fabrica-as com vários ingredientes do Alentejo: “Uso as leveduras locais, e o mel daqui e sementes dos coentros, que são daqui.” Não tem pressa nem metodologia para a cerveja, e vai fabricando conforme a disponibilidade que a escrita o permite. E, por vezes, escreve acompanhado por uma cerveja. Das suas.