Quase 300 voos cancelados Paralisação na Groundforce gerou o caos nos aeroportos. Hoje prevê-se pior
Lisboa foi mais afetada, mas a greve no handling deverá provocar mais perturbação hoje, sem serviços mínimos.
Viveram-se ontem alguns momentos de angústia nos aeroportos portugueses, com especial incidência no de Lisboa, devido ao cancelamento inesperado de voos provocado pela greve na Groundforce, decretada pelo Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos (STHA). A paralisação prolonga-se até hoje, quando são esperadas maiores perturbações, por não estarem previstos serviços mínimos, segundo antecipou Thierry Ligonnière , presidente executivo da ANA – Aeroportos de Portugal.
Houve pessoas que se viram na necessidade de comprar novos bilhetes para companhias não afetadas pelos serviços de assistência em terra da Groundforce; outras, sem voos, depararam-se com os seus testes à covid muito próximo de esgotar a validade para os países de destino. Houve ainda os casos tradicionais da época do ano: turistas a começar mal as férias ou emigrantes impedidos de regressar ao trabalho.
Missão olímpica
Uma parte da missão olímpica nacional foi igualmente afetada no arranque da viagem rumo ao Japão. Com todas as ligações à Europa canceladas, a única solução foi fretar um charter. O presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, lamentou o sucedido e manifestou esperar que estes imprevistos “não afetem o rendimento da missão”.
Um casal de emigrantes
Um depoimento recolhido no local identificou um casal de passageiros franceses, netos de emigrantes portugueses, que disseram nunca lhes ter acontecido tal coisa. Matias Moreira e Chloé Bourroux quase sempre viajavam na AirFrance, embora ultimamente tenham usado a TAP “sem qualquer problema”. Desta vez, o voo que iria partir de Lisboa para Paris às 10h30 foi cancelado. O casal acabou por decidir comprar outra viagem, desta vez na Transavia, com partida prevista para as 19h, desembolsando mais cerca de 200 euros cada um. “É um problema porque a Chloé vai trabalhar na segunda-feira e vai também tomar a segunda dose da vacina, e queríamos chegar com tempo para preparar tudo.” O novo voo foi pago do seu bolso, mas esperam conseguir o reembolso da TAP. “Nunca tivemos medo da pandemia, por isso não é pela covid-19, mas ficar fechado no aeroporto, nove horas à espera ninguém gosta”, era uma das suas queixas, enquanto esperavam numa das filas que se iam formando no aeroporto.
O número de cancelamentos superou os 200. O Aeroporto Humberto Delgado foi o mais prejudicado, porque a Groundforce deverá assegurar 65% dos serviçode apoio a voos, mas Porto, Faro, Funchal e Porto Santo também foram afetados, embora com menos intensidade.
O que está em causa
Segundo o presidente do STHA, André Teives, a adesão terá rondado os 100% no aeroporto de Lisboa, onde apenas estiveram a funcionar os serviços mínimos. O objetivo do protesto visa repudiar a “situação de instabilidade” gerada pela falta de “pagamento pontual dos salários e outras componentes pecuniárias”, incluindo o subsídio de férias, uma situação que se iniciou em fevereiro.
Foi nesse contexto que a presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, em declarações aos jornalistas, apelou ontem à Groundforce para que “reveja a sua posição” e aceite a proposta da companhia aérea para pagamento do subsídio de férias.
Na última semana, a TAP disponibilizou-se para fazer “um adiantamento por conta de serviços prestados ou a prestar” à Groundforce (da qual detém 49,9%) para pagar os subsídios de férias, uma solução recusada pela SPdH.
“Gostávamos de apelar à Groundforce para que reveja a sua posição, porque está a colocar toda a gente numa posição difícil, não apenas os passageiros, mas também os trabalhadores e, de forma indireta, a economia do país”, disse, citada pela Lusa.
A CEO da TAP revelou ainda ter havido “durante a tarde [de sexta-feira] e noite [...] reuniões e contactos com o objetivo de que a solução proposta fosse aceite e se conseguisse evitar a greve”.
A Groundforce, liderada por Alfredo Casimiro, emitiu um comu
nicado a apelar ao cancelamento da greve, lamentando “o transtorno causado”, mas assegurando que “mantém aberto o espaço de diálogo com os representantes dos trabalhadores”.
Contactado pelo DN/Dinheiro Vivo, o Ministério das Infraestruturas declinou comentar a situação, remetendo a sua posição para o que já tinha sido transmitido pela TAP e pela ANA.
Mas a greve do STHA, além destes dois dias, deverá repetir-se nos próximos dias 31 de julho e 1 e 2 de agosto, motivo pelo qual a ANA já alertou para a possibilidade de novos constrangimentos e apela aos passageiros que tenham voos marcados para essas datas que se informem sobre a realização dos mesmos antes de se deslocarem para os aeroportos.
Em simultâneo, os trabalhadores da Groundforce mantêm uma greve às horas extraordinárias que se deverá prolongar até 31 de outubro.
TAP apela à Groundforce para que reconsidere a sua proposta para o pagamento do subsídio de férias. Companhia de handling pede o cancelamento da greve e diz que mantém aberto o espaço de diálogo com os trabalhadores.