Marcelo promete a luso-brasileiros reconhecimento das vacinas locais
No Brasil, estão a utilizar, sobretudo, os imunizantes Covishield e Coronavac, ainda não autorizados pela UE. “Queremos garantir um acordo mútuo”, garantiu o presidente a quem se queixou de “saudades” de viajar para Portugal.
“Vamos ver se é possível dispensar a quarentena” de quem entra em Portugal vindo do Brasil, prometeu Marcelo Rebelo de Sousa. Atualmente, a circulação entre Portugal e o Brasil está limitada a viagens essenciais, com apresentação de teste PCR negativo e quarentena de 14 dias.
Marcelo Rebelo de Sousa prometeu o estabelecimento de “um acordo mútuo” em breve entre Portugal e Brasil para o reconhecimento das vacinas contra a covid-19 aplicadas no país sul-americano, ainda não aprovadas pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA). Na madrugada de ontem, o presidente português ouviu apelos nesse sentido da comunidade luso-brasileira de São Paulo, cidade onde esteve em visita por dois dias, antes de rumar para Brasília.
“Porque é que Portugal não aceita as nossas vacinas? Estou com muitas saudades de ir lá”, disse uma das portuguesas presentes no encontro na Casa de Portugal da maior cidade do Brasil, enquanto o vice-presidente da instituição, Paulo Machado, manifestava a expectativa de que os esforços diplomáticos do Governo português possam levar ao reconhecimento dos imunizantes entre Portugal e o Brasil.
O chefe de Estado adiantou que, ao longo da visita oficial, que termina hoje, em Brasília, decorrem reuniões entre representantes dos dois países com o objetivo de alcançar “um acordo mútuo” de reconhecimento das vacinas.
A ideia é, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, ver “em que termos, respeitando as regras da União Europeia”, se consegue que “quer brasileiros quer portugueses vacinados possam entrar no mesmo regime das vacinas até agora reconhecidas na Europa”. “Vamos ver se é possível dispensar a quarentena”, acrescentou.
Aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que a “solução ótima” seria o reconhecimento por acordo entre os dois países, que, teria, no caso de Portugal, de ter presente a sua integração no espaço europeu.
O Presidente português disse que a primeira reunião sobre esta matéria entre os dois Governos “correu bem” e “abriu pistas” para um processo “que se espera seja percorrido rapidamente” e “compatibilize os interesses dos dois países”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, que coordena pela parte portuguesa os trabalhos para um eventual acordo, adiantou que “se trata de avançar bilateralmente” para que a circulação entre os dois países possa ser facilitada, “mantendo sempre todos os cuidados sanitários”.
“Vamos ver qual destas restrições pode evoluir nas próximas semanas ou meses”, disse Santos Silva, adiantando que os dois países têm agendada para depois das férias nova reunião sobre este assunto.
A EMA autorizou até o momento as vacinas de Pfizer/BioNTech, AstraZeneca, Moderna e Janssen mas no Brasil estão a ser administradas, sobretudo, a Covishield, da AstraZeneca, produzida na Índia, e a Coronavac, vacina do laboratório chinês Sinovac produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo.
Atualmente, a circulação entre Portugal e o Brasil está limitada a viagens essenciais, com apresentação de teste PCR negativo e quarentena de 14 dias.
O encontro com a comunidade luso-brasileira foi um dos últimos pontos do programa de dois dias de Marcelo Rebelo de Sousa em São Paulo. Na Casa de Portugal, o chefe de Estado foi recebido com aplausos, cantou o hino, posou para selfies e recebeu de presente uma camisola da Portuguesa dos Desportos, considerado o quarto grande clube da cidade mas a passar por grave crise financeira e desportiva, com o seu nome, Marcelo Rebelo, escrito nas costas.
Bolsonaro hoje
Noutro ponto dos discursos, o Presidente da República considerou que 2022, quando se comemoram 200 anos da independência do Brasil, será “um ano em cheio da reaproximação” entre os dois países, com Portugal a associar-se às comemorações, nomeadamente, através da participação como país convidado na Bienal do Livro de São Paulo, entre outras iniciativas.
A visita de Marcelo Rebelo de Sousa ao Brasil prosseguiu ontem, em Brasília, com uma visita à exposição Oréades, na chancelaria da Embaixada de Portugal, e termina hoje com encontros com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e com o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
Lira, do Progressistas, tem estado em foco na política brasileira por ser o “guardião” do impeachment de Bolsonaro – é a ele que compete dar ou não continuação aos cerca de 120 pedidos, da oposição, de movimentos civis e outras instituições, para a destituição do presidente brasileiro.
Será, entretanto, o único encontro de Marcelo e Bolsonaro nesta visita, depois de o segundo ter faltado à reinauguração do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, por preferir participar num passeio de moto com apoiantes, onde discursou contra o sistema de voto eletrónico em uso no país.