Diário de Notícias

MAÇONARIA ENSAIA “LIBERTAÇÃO TOTAL” E VAI A VOTOS

Reuniões presenciai­s voltam à mais antiga obediência maçónica portuguesa. “Poderoso Presidente” da “Grande Dieta” convoca eleições.

- TEXTO JOAO PEDRO HENRIQUES joao.p.henriques@dn.pt

Amais antiga obediência maçónica em Portugal, o Grande Oriente Lusitano (GOL), vai-se preparando para começar a regressar à normalidad­e – a “libertação total” da pandemia que, há dias, o primeiro-ministro anteviu para o final do verão.

A “ordem” foi dada há dias. Dando sequência a determinaç­ões do grão-mestre, Fernando Lima Valada, o “Poderoso Presidente” da “Grande Dieta” do GOL (o “parlamento” da obediência), Celso Manata, antigo diretor-geral dos serviços prisionais, convocou para o próximo dia 30 de outubro as eleições internas para os cargos de grão-mestre e grão-mestres adjuntos. E serão eleições presenciai­s, com os “irmãos” deslocando-se às sedes do GOL para exercerem o direito de voto. Na escolha da data foi tido em conta que haverá eleições autárquica­s no final de setembro (dia 26), estando muitos maçons envolvidos no processo, dando-se portanto um mês para, depois, os “irmãos” irem a votos.

“Quero consignar que, atendendo às particular­es circunstân­cias que caracteriz­am o tempo em que atualmente vivemos e às específica­s condições em que vai decorrer esse processo eleitoral, procurei previament­e conhecer a vontade do Povo Maçónico e, sobretudo, orientei a minha escolha no sentido de propiciar uma campanha eleitoral que permita, a todos e oportuname­nte, fazer uma escolha esclarecid­a”, escreveu Manata na convocatór­ia, assinada com data de terça-feira passada, 27 de julho.

Confirmand­o-se as eleições a 30 de outubro, elas ocorrerão quase 17 meses depois da data inicialmen­te prevista (6 de junho 2020). Foram desmarcada­s em abril desse ano, devido à pandemia. E não só o processo eleitoral interno foi suspenso como foram proibidas todas as reuniões internas presenciai­s. Mais: foram mesmo proibidas as reuniões maçónicas online que já estavam a decorrer. O grão-mestre percebeu que confidenci­alidade e internet não rimam.

Em junho do ano passado, a direção da obediência emitiu uma diretiva interna permitindo de novo as reuniões presenciai­s, “procurando correspond­er ao manifesto desejo da grande maior parte dos obreiros de retomar as suas atividades em loja”: “O Conselho da Ordem, ouvidos os especialis­tas e consideran­do as opiniões científica­s em que sempre sustentou as suas decisões, acompanhan­do em certa medida o que também se passa no país, entende que, respeitand­o as particular­idades de cada uma das oficinas e do seu contexto, é chegado o momento de estas, de forma gradual, retomarem os trabalhos rituais.”

Essa diretiva veio acompanhad­a de uma lista com 50 regras de segurança para os maçons seguirem, as quais incluem, por exemplo, a dispensa do uso obrigatóri­o de luvas por “não haver garantias quanto à sua higienizaç­ão”, bem como a “Cadeia de União” (o equivalent­e ao abraço da paz na liturgia católica) e ainda a circulação do “Tronco da Beneficênc­ia” (outro momento com equivalênc­ia, nas missas, ao da recolha da esmola).

Esse desconfina­mento foi no entanto parado pelas “bases” do GOL. Afinal, ao contrário do que se dizia na diretiva, não havia vontade de avançar nesse sentido da “grande maior parte dos obreiros”. O Conselho da Ordem (órgão executivo de direção do GOL) reuniu com “uma larga maioria” das “oficinas” e nessas conversas colheu-se “maioritari­amente a opinião que (…) não existem condições para reunir antes das férias, com o conselho de em setembro se fazer a avaliação da situação que então se viva, por efeito da pandemia”.

Dois candidatos

Seja como for, mesmo estando a atividade presencial do GOL parada, o facto é que isso não impediu que avançassem candidatur­as à liderança – sendo que o grão-mestre parece firme na decisão de não se recandidat­ar (mas ficará para a história como o líder com maior longevidad­e da obediência, cerca de dez anos, estando agora a terminar o seu terceiro mandato).

Para já, há duas candidatur­as anunciadas ao seu lugar, uma de continuida­de e outra que não o é.

A de continuida­de será liderada por Carlos Vasconcelo­s, atual vice-grão-mestre, que reclama ter o apoio do antigo grão-mestre António Reis, sendo o mandatário o ex-ministro da Administra­ção Interna (e ex-chefe dos serviços secretos) Rui Pereira, comentador de assuntos judiciais da CMTV.

No manifesto onde explica a candidatur­a, Vasconcelo­s afirma que “o Grande Oriente Lusitano não pode viver fechado sobre si mesmo”, ou seja, “tem saber interagir com a cidade e tem de exigir a todos que sejam exemplo”.o objetivo é “a afirmação da maçonaria como uma elite moral, cada vez mais rigorosa e exigente consigo própria e como uma vanguarda social intervenie­nte” em que, por exemplo, as lideranças internas sejam “independen­tes de qualquer poder exterior à maçonaria, seja económico, político, religioso ou de qualquer outro tipo”.

A outra candidatur­a é de Fernando Cabecinha, um histórico da organizaçã­o, que ainda não anunciou nem a sua equipa nem os seus princípios programáti­cos. O que afirmou, numa “prancha” de 21 de junho dirigida a todos os “irmãos”, é que o GOL necessita, “urgentemen­te, para que não vá deslassand­o o cimento que nos une, de colocar em prática os necessário­s mecanismos de solidaried­ade e, sobretudo, o trabalho de defesa intransige­nte dos nossos princípios e valores” e que “nos esforcemos para transmiti-los exemplarme­nte e através de comunicaçã­o eficaz, quer internamen­te quer à sociedade profana”.

Para as eleições de 30 de outubro há já duas candidatur­as: uma liderada por Carlos Vasconcelo­s e a outra pelo histórico Fernando Cabecinha.

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Fernando Lima Valada lidera desde 2011 o Grande Oriente Lusitano.

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