“A imagem da política é desmotivadora” PARIDADE
Não esconde a desilusão quando olha para os últimos 45 anos . Discriminação e manipulação são palavras que escolhe. A democracia está por cumprir.
Tantos anos depois das primeiras autárquicas [1976] era expectável que mais mulheres estivessem envolvidas nestas autárquicas?
Claro que sim. Em 1976 fomos cinco eleitas. Em 2017 foram 32... É facílimo fazer as contas quando neste momento a mulher representa mais de metade da população portuguesa. Continuo a achar que, para que a democracia se cumpra, é indispensável que a mulher aceda a lugares de decisão, para que possa imprimir à vida coletiva um novo sentido.
Como é que olha para a questão das quotas?
Nunca concordei com as quotas. Mas hoje penso que foi um mal menor, até porque se não fossem as quotas hoje não tínhamos a lei da paridade. É evidente que quem manipula as listas sabemos bem quem é, são as comissões políticas concelhias,
O facto de serem homens que maioritariamente lideram as estruturas dos partidos é determinante para este cenário?
Claro que sim. De um modo geral as concelhias são lideradas por homens, e por esse facto as mulheres são colocadas em lugares não elegíveis. E quando têm condições para ser elegíveis, mas incomodam, na grande maioria das vezes são afastadas.
Que causas estão na origem deste persistente afastamento das mulheres da política?
Na minha opinião há várias causas. Há causas que resultam do procedimento generalizado da parte masculina, que é uma causa e consequência da discriminação das mulheres na sociedade. Habituaram-se à ideia de que as mulheres eram para ficar em casa e não para terem envolvimento ativo na sociedade. E esta mentalidade demorará
ainda muito tempo a esbater. Depois, da parte da mulheres, também há uma causa: a conjugação da vida profissional e familiar. E, depois, a imagem que a política transfere para a sociedade é muito desmotivadora.
Nestas eleições é mandatária da lista do PS à Câmara de Coimbra. O que a levou a aceitar esse desafio? Duas razões: a primeira é ter 81 anos e ser residente em Coimbra desde 1974. É uma obrigação que tenho para com a minha segunda cidade, a primeira é a Mealhada. E depois pela capacidade que eu reconheço ao Manuel Machado e à sua equipa mais direta.
“As mulheres quando têm condições para ser elegíveis, mas incomodam, na grande maioria das vezes são afastadas.”
Eleita presidente de câmara, em 1976, chegou a ser expulsa do PS. Anos mais tarde foi homenageada e recebeu um pedido de desculpas.