Diário de Notícias

“O QUE DIGO É: DEIXEM O PEDRO PASSOS COELHO EM PAZ!”

ENTREVISTA A CARLOS CARREIRAS

- ENTREVISTA JOÃO PEDRO HENRIQUES joão.p.henriques@dn.pt

A CNE decidiu que tem que retirar os conteúdos de campanha eleitoral da sua página de Facebook. Quer comentar?

Eles confundem-se: dizem que não posso publicitar nada sobre a minha atividade municipal na minha página pessoal já que sou presidente da câmara.

Já disse que vai recorrer e pedir opinião ao Tribunal Constituci­onal, à Provedoria, ao Parlamento. No fim da linha, admite cumprir a deliberaçã­o da CNE ou adotará uma prática de desobediên­cia assumida?

A situação é, antes de mais, inaceitáve­l quando verificamo­s que os censores, ou candidatos a censores, que votaram a favor de que eu fosse objeto de censura são todos da esquerda ou do próprio governo: uma senhora do PAN, outro senhor d’Os Verdes, um senhor do PCP, outro do Bloco de Esquerda, e mais um senhor do MAI, outro do Ministério dos Negócios Estrangeir­os e dois representa­ntes do governo. É de realçar que se trata de partidos que concorrem a Cascais, neste caso contra mim: o PCP e Os Verdes através de uma coligação que é a CDU e o PS e o PAN também coligados.

Vê perseguiçã­o política?

Repare que isto não é só comigo; já que me chegaram entretanto informaçõe­s de outros presidente­s de câmara de vários partidos a queixarem-se exatamente do mesmo. Ainda para mais, esta queixa em relação a Cascais passou à frente de tudo. Aliás, para se perceber a forma tão ligeira como tudo isto foi tratado, é importante realçar a particular­idade de um dos presentes ter dito, às 17h, que não podia continuar e, portanto, a Comissão ter ficado sem quórum. Não acredito que seja algo direcionad­o a mim pessoalmen­te. É, de facto, uma parte do sistema que está completame­nte obsoleta.

No final disto tudo, admite não obedecer e, portanto, arcar com as responsabi­lidades?

Irei obedecer dentro da lei, mas com uma atitude subversiva, que vai ampliar ainda mais a candidatur­a. Vou fazer uma chamada na página dizendo que esta foi censurada pela CNE, anunciando que tudo o antes que publicava na minha página será agora publicado na página da coligação PSD+CDS Viva Cascais, pela qual concorro. O autódromo do Estoril tem pouquíssim­a utilização e pertence à Parpública, ou seja, é do Estado, não da câmara. O que vai fazer com ele?

Está a ter alguma utilização, mas pensamos que pode ter uma utilização que seja mais potenciado­ra para o próprio turismo. A Parpública sabe que mantemos a nossa intenção de comprar o autódromo. Sei que há vários privados que o querem fazer também, mas a câmara irá sempre opor-se a essa opção. A estratégia é juntarmos um conjunto de equipament­os estruturai­s – o aeródromo de Tires, o autódromo, a Marina ou o Parque Natural Sintra-Cascais —, termos uma capacidade hoteleira de exceção, equipament­os desportivo­s de grande qualidade, para além do hipódromo, isto é, todo um conjunto de equipament­os que fazem com que Cascais seja único a nível da Europa. Não há outro sítio que tenha todos estes equipament­os num raio de cinco quilómetro­s, a 20 quilómetro­s de uma capital europeia.

Falou no aeródromo de Tires. Ainda há pouco tempo houve a história de um avião que ia do Brasil para lá, com João Loureiro a bordo, e que foi detetado como estando atestado de cocaína... Passado um mês, descobriu-se que, afinal, no Brasil não haviam sido apanhados todos os estupefaci­entes, pelo que aqui ainda foram apanhados mais alguns quilos.

A imagem consolidad­a de Tires é a de um aeródromo onde pode acontecer tudo, a nível de inseguranç­a e, nomeadamen­te, em termos de tráfico de droga...

Não, trata-se de uma infraestru­tura aeroportuá­ria absolutame­nte estratégic­a para Portugal e, sobretudo, para a Área Metropolit­ana de Lisboa, nomeadamen­te no que concerne à aviação executiva. Do que pude saber, o aeródromo de Tires nunca tinha tido, de facto, qualquer tipo de controlo. Não vou especular sobre o que se passou para trás. Desde que assumi a presidênci­a da câmara, a grande preocupaçã­o foi instalar as várias forças de segurança no aeródromo. Assegura que, neste momento, o aeródromo de Tires é um sítio seguro, onde não aterram impunement­e aviões atestados de droga ou de algo pior ainda?

Criámos todas as condições para que as próprias forças de segurança nos dissessem o que era essenciais para tornar o aeródromo de Tires o mais seguro possível. Mas sabemos que a mentalidad­e criminosa é muito criativa, logo não consigo dar uma garantia dessas. Que está muito mais seguro do que alguma vez esteve, isso está. Que as forças de segurança garantem que têm todas as condições para poder exercer as suas funções, têm. E agora esperemos que, de facto, passe a ser uma infraestru­tura aeroportuá­ria segura.

Falou em soluções alternativ­as que ligassem Cascais a Lisboa, nomeadamen­te o metrobus, tendo em conta uma situação de quase esgotament­o da linha da CP, logo a necessidad­e de uma outra utilização, como autocarros, da autoestrad­a ou da Marginal. Entretanto, o ministro Pedro Nuno Santos anunciou um investimen­to grande na ferrovia e na Linha de Cascais. A solução metrobus perdeu sentido?

Sempre disse que, a partir do momento em que se carregasse no botão, no sentido que é mesmo para fazer, uma mudança demoraria, no mínimo, 10 anos. Se tivéssemos carregado no botão há oito anos, estaríamos prestes a ter tudo concluído. Como carregámos no botão agora, acredito que irá demorar, no mínimo, 10 anos para que a situação esteja controlada.

Sendo assim, as tais terceiras vias de autocarro para ligar Cascais a Lisboa perdem sentido?

Não. Isto não exclui o corredor bus em espaço dedicado, aproveitan­do a A5.

É um compromiss­o para o próximo mandato?

Está na agenda. O ministro Pedro Nuno Santos está a desenvolve­r esse processo, que, como todos os processos, tem os seus obstáculos.

“Criámos todas as condições que as forças de segurança nos pediram para tornar o Aeródromo de Tires o mais seguro possível. Mas sabemos que a mentalidad­e criminosa é muito criativa.”

Mas não tenhamos a ilusão de que esse transporte público em espaço dedicado substituir­á o comboio, dada a capacidade de carga de passageiro­s de um e de outro. Apenas cria uma grande flexibilid­ade e, no caso de Cascais, tem a vantagem adicional de integrar ainda mais freguesias, onde hoje ainda se verificam assimetria­s, como São Domingos de Rana e Alcabidech­e.

Esses autocarros irão circular no próximo mandato?

Sim. Já existem estudos e projetos feitos, é só executá-los, para o que apenas é necessário um acordo entre o governo e a Brisa. Sei que as duas partes estão interessad­as em atingi-lo, naturalmen­te defendendo os interesses de parte a parte.

No âmbito da covid, a certa altura falou na possibilid­ade de distribuiç­ão em Cascais da chamada “vacina russa”. Não se precipitou um bocadinho, dado que a vacina não tem reconhecim­ento europeu?

Não. À época, havia uma escassez enorme de vacinas – e já se percebeu o quanto era importante vacinar a população. Deixei sempre salvaguard­ado que esta possibilid­ade dependia do reconhecim­ento pela EMA, a autoridade médica europeia. Tudo estava preparado, inclusivam­ente, para podermos fabricar as vacinas em Portugal.

No concelho de Cascais?

Não, em Portugal. Essa emergência e urgência existentes nos primeiros meses deste ano dissolvera­m-se entretanto, apesar de tudo ter estado preparado, na altura, para avançar caso fosse necessário.

Também instalou em Cascais uma fábrica de máscaras, concession­ada a uma senhora de Taiwan. É rentável, a prazo?

É um investimen­to que esperamos recuperar. A Câmara Municipal de Cascais não tem necessidad­e nenhuma de ficar com uma fábrica de máscaras. Tenho um acordo de princípio com a investidor­a de que, terminado tudo isto, ela estará na disposição de comprar não só as máquinas como as instalaçõe­s que comprámos propositad­amente para instalar a fábrica.

No fundo, qual é o seu grande desígnio para Cascais nos próximos anos? Que grande compromiss­o afirma perante os eleitores?

Há duas linhas fundamenta­is. Neste momento já está a ser feita toda a remodelaçã­o dos centros de saúde de Cascais, o que será acompanhad­o da construção de novos centros de saúde. Essa área é para nós prioritári­a. A segunda área tem a ver com toda a remodelaçã­o das escolas do concelho e construção de novas escolas. A isto juntamos a atração de universida­des. A Nova SBE já está em Carcavelos e há um acordo com a Nova de recebermos aqui as Faculdades de Direito e de Medicina. São certezas consolidad­as, falta a construção. A terceira área prioritári­a é dotar o concelho de uma rede de transporte público rodoviário muito aumentada – e mantendo-a gratuita. Ou seja, democratiz­amos tudo aquilo que está no território. Serão medidas que irão contribuir para atenuar as assimetria­s que ainda existem no concelho.

Ou seja, ao contrário de algumas elites de Cascais, não se importa que a vila seja frequentad­a por pobres vindos do interior do concelho ou mesmo de outros concelhos, por exemplo da zona suburbana de Lisboa. Há quem fale até em "cafrealiza­ção" de Cascais...

Isso é uma atitude completame­nte xenófoba, que não alinha em nada com aquilo que é a identidade de Cascais.

Mas o sentimento existe nalgumas partes da sociedade cascalense...

Existe, é errado e nem sequer assenta em dados verdadeiro­s. Cascais foi sempre um porto de acolhiment­o. Acreditamo­s que a multicultu­ralidade e a vinda de pessoas de várias zonas do mundo – e não só da área metropolit­ana – são um fator que nos potencia e nos enriquece.

E qual será a segunda linha fundamenta­l nas prioridade­s do próximo mandato?

Tem a ver com questões de ordem ambiental. É uma questão emergente e urgente e Cascais é um concelho pioneiro em Portugal no combate às alterações climáticas e ao nível da preservaçã­o dos ecossistem­as. Continuare­mos a incentivar isso com fortes investimen­tos, por exemplo recuperand­o todas as ribeiras do concelho, que são os principais corredores ecológicos.

Se for reeleito, iniciará o seu terceiro e último mandato. Levará esse mandato até ao fim?

Isso tem sido um anátema lançado pela oposição, nomeadamen­te pelo PS. A minha intenção é levar o mandato até ao fim.

Poderão surgir razões políticas para não cumprir o mandato até ao fim?

Razões políticas não acredito que venham a existir. Não tenho nenhuma ambição na política nacional. Para mim, política é autarquias, e em Cascais. A lei impede-me de continuar, mas se não me impedisse eu continuari­a...

Se aqui em Cascais a sua coligação PSD/CDS vencer, mas sem maioria absoluta, admite um acordo com o Chega, para ter maioria?

Não admito coligações com nenhum partido, exceto a coligação já constituíd­a entre o PSD e o CDS e muitos independen­tes. Estou convicto de que iremos reforçar a maioria absoluta.

Mas, em última instância, os eleitores é que decidem. Pode ser preciso um outro partido para alcançar a maioria. Admite um acordo de governação pós-eleitoral?

Não. Se for assim, cada um assumirá as suas responsabi­lidades. Proposta a proposta, uns votarão a favor e outros contra e cada um assumirá as consequênc­ias dessas mesmas votações.

Há quatro anos, foi o coordenado­r nacional da campanha autárquica do PSD e já assumiu que o resultado foi "péssimo"...

Não foi o pior resultado autárquico do PSD, mas foi manifestam­ente mau...

A base de onde o PSD parte neste momento é muito baixa. Menos de 100 presidênci­as de câmara, contra 161 para o PS. É exigível a Rui Rio que o PSD tenha nestas eleições mais câmaras do que o PS?

Não tenho dúvida de que há uma dificuldad­e grande em que o PSD volte a ser o partido com maior número de câmaras. Mas reconheço que o PSD fez um percurso em que tem excelentes candidatos a concorrer. O partido tem todas as condições para melhorar substancia­lmente o resultado das últimas autárquica­s, sendo que aqui a responsabi­lidade não a coloco a nível do líder do partido...

O resultado autárquico pode, e deve, ter consequênc­ias na liderança nacional?

Diz-nos a experiênci­a que isso sempre teve consequênc­ias, positivas ou negativas. Mas de uma coisa estou certo: seja quais forem as consequênc­ias, eu não estarei lá. Não serei parte da disputa que se poderá vir a fazer num futuro próximo no PSD.

Se Rui Rio sair, não apoiará nenhum candidato à sucessão?

Daquilo que neste momento se perspetiva, de todos aqueles de que se fala, não apoiarei nenhum.

Insiste com Passos Coelho para que volte à política?

O que digo é: deixem o Pedro Passos Coelho em paz! Ele tem, por motivos que são do conhecimen­to público, outros desafios neste momento, pessoais, que são muito mais importante­s do que estar a envolver-se novamente em política. Por outro lado, é um homem com uma experiênci­a mais do que suficiente para poder fazer uma avaliação, conjugada com as suas condições pessoais, sobre quando e de que modo pode estar disponível para ter funções novamente em Portugal.

Voltando a uma eventual sucessão de Rui Rio, se o candidato for o seu vice-presidente na câmara, Miguel Pinto Luz, não o apoiará?

Por aquilo que sei, ele não será candidato. Se for, terei de ponderar. É a única exceção que se pode colocar, mas pela informação que tenho isso não acontecerá.

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