Diário de Notícias

Paulo Pisco

Um museu nacional que honre a emigração portuguesa

- Paulo Pisco Deputado do PS.

Um museu nacional que saiba valorizar a emigração portuguesa será a melhor forma de homenagear milhões de portuguese­s de todas as gerações que levaram a sua energia e criativida­de aos quatro cantos do mundo.

Existem em Portugal vários museus de dimensão nacional, que são importante­s para se compreende­r o passado, o presente e, eventualme­nte, o futuro. Mas, muito provavelme­nte, nenhum deles tem a dimensão humana que teria um museu que mostrasse a extraordin­ária história da emigração portuguesa em todas as suas dimensões, ao longo de séculos e nas mais variadas geografias.

A ideia de criar um grande museu da diáspora é uma aspiração antiga das comunidade­s portuguesa­s, ansiosas que estão por este importante gesto de reconhecim­ento do seu país.

Até agora, porém, apenas foram criados alguns museus de âmbito municipal, que basicament­e mostram a relação que o concelho teve com a emigração, como é o caso de Fafe, Melgaço, Ribeira Grande,Vilar Formoso, Fundão ou Sabugal. São importante­s pelo que mostram, mas nenhum tem a vocação nem os recursos para fazer uma abordagem global do fenómeno migratório português.

Em outubro de 2017 foi aprovada na Assembleia da República uma iniciativa legislativ­a, de que fui o primeiro subscritor, que recomendav­a ao governo que apoiasse a criação de um museu nacional da emigração. Este museu teria de ser moderno, digital, interativo, um lugar de estudo, debate e reflexão, e, acima de tudo, que tivesse apostado em fazer uma abordagem positiva da emigração portuguesa, despindo o tema dos preconceit­os e de uma visão passadista da mala de cartão e da emigração como sofrimento. E, claro, teria de estar ligado aos outros museus existentes no país e no estrangeir­o que retratasse­m o mesmo tema.

Ou seja, a abordagem de um museu desta natureza deverá ter também como objetivo fazer o devido reconhecim­ento e a valorizaçã­o da emigração portuguesa, de forma a honrar todos aqueles que um dia decidiram deixar o país, independen­temente das razões por que o fizeram. Abordar tudo, sem esconder nada, as partes de luz, tal como as de sombra, como é o caso do que aconteceu durante o período da ditadura até à revolução de Abril.

A exemplo do Epic Museum, em Dublin, que retrata a emigração irlandesa de forma extraordin­ariamente positiva, deve ser um museu essencialm­ente digital, que mostre o contributo que os portuguese­s deram para a transforma­ção das sociedades onde se instalaram, como influencia­ram o curso da história com o seu importante legado humano, cultural, patrimonia­l, linguístic­o, económico.

Embora a região centro, por também conhecer uma emigração muito expressiva, tenha potencial para acolher um museu nacional da emigração, a verdade é que é a norte que as coisas estão mais avançadas. Com efeito, o município de Matosinhos, que tem também a grande vantagem de ter fácil acesso por avião, carro e comboio, tem já um percurso feito, com alguma reflexão sobre o tema e um local, que é a antiga fábrica de conservasV­asco da Gama e o respetivo anteprojet­o, da autoria do arquiteto Souto Moura.

Mas, acima de tudo, existe vontade política e a ambição de levar o projeto por diante por parte da atual presidente da câmara, Luísa Salgueiro, que até já poderia ter as portas abertas não fosse a pandemia obrigar a suspender tudo e a alterar as prioridade­s. Luísa Salgueiro conhece bem a importânci­a deste projeto e o seu significad­o para milhões de portuguese­s e lusodescen­dentes.

Com efeito, um museu nacional da emigração, ou da diáspora portuguesa, com uma estrutura sólida e recursos humanos e financeiro­s adequados, com o indispensá­vel corpo técnico e científico, seria certamente um poderoso instrument­o de dinamizaçã­o económica para o concelho e para a região, devido à sua enorme capacidade de atração turística, muito particular­mente para os milhões de portuguese­s residentes no país e no estrangeir­o e lusodescen­dentes ansiosos por saber mais sobre as suas raízes e origens. Seria, por isso, também um importante polo de interesse cultural e uma referência no domínio das migrações em termos nacionais e internacio­nais.

Um museu nacional que saiba valorizar a emigração portuguesa será a melhor forma de homenagear milhões de portuguese­s de todas as gerações que levaram a sua energia e criativida­de aos quatro cantos do mundo, constituin­do-se assim, como dizia o genial Eça de Queiroz, como uma enorme força de transforma­ção civilizaci­onal.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal