Diário de Notícias

Nuno Pinto Magalhães, chairman da Sociedade Central de Cervejas

- CHAIRMAN DA SOCIEDADE CENTRAL DE CERVEJAS O FIEL DIPLOMATA TEXTO FILIPE GIL

Acarreira profission­al de Nuno Pinto Magalhães confunde-se com a própria vida da Central de Cervejas, a dona da cerveja Sagres e da água do Luso, nas últimas décadas. A Central foi a única empresa, ou companhia, como prefere dizer, onde trabalhou. 47 anos na mesma empresa, um caso raro de longevidad­e nos dias correntes.

Conhecemo-nos há vários anos. A primeira vez que o vi – era eu jornalista no Jornal de Negócios –, foi numa apresentaç­ão do apoio da Sagres à seleção nacional de futebol. Lembro-me de o ver com a sua postura de diplomata ao lado do então CEO, Alberto da Ponte.

A última vez que estivemos juntos, há quase quatro anos, Nuno Pinto Magalhães era diretor de comunicaçã­o e relações institucio­nais da Sociedade Central de Cervejas, cargo que ocupou nos últi

mos 20 anos. No encontro que tivemos recentemen­te no Altis Belém Hotel, já me encontro com o chairman da Central de Cervejas, o novo posto para o qual Nuno foi escolhido. Mas pouco ou nada mudou. Continua afável, disponível, cortês e diplomata. A conversa começa ainda antes de nos sentarmos e perguntou-me pelos meus filhos. Retribuí a pergunta.

Escolhida a mesa, na esplanada a ver passar corredores e turistas matinais, começamos pelo início, como deve ser, de como é estar há quase 50 anos a trabalhar na mesma empresa. A acompanhar a conversa, o brunch: um café americano, um sumo de laranja e um croissant para mim, e um chá verde e uma torrada para o meu convidado.

Explica que ao longo dos últimos 47 anos – entrou em outubro de 1974 – trabalhou para seis acionistas e 18 CEO. “Ao longo destes anos, a companhia foi, no fundo, várias companhias, a capacidade de regeneraçã­o tem sido enorme”, sublinha. Relembra os donos. Os nacionais, onde se incluíram gestores públicos, colombiano­s, britânicos e agora, desde há uns anos, os holandeses do grupo Heineken. “Todos eles sempre respeitara­m as marcas portuguesa­s, sobretudo as duas que se confundem com o nosso ADN, a Sagres e a Luso.” Aliás, relembra que foram os donos colombiano­s de então que negociaram o patrocínio à seleção nacional que ainda hoje se mantém.

“Na altura negociámos o contrato com o Joaquim Oliveira que andava, ele próprio, a colocar os placards publicitár­ios nos estádios com uma carrinha, em 1993”, conta. Diz que os colombiano­s perceberam o élan agregador da seleção nacional que “está acima dos clubes e que congrega os portuguese­s, mesmo os que não gostam de futebol”.

Por falar nisso, relembramo­s uma viagem conjunta a Turim, Itália, na final da Liga Europa, em 2014, entre o Benfica e o Sevilha, em que os espanhóis levaram a melhor. Na zona onde estavam os convidados portuguese­s, excitados com o jogo que se adivinhava, cruzei-me várias vezes com Pinto de Magalhães, sempre de sorriso fácil mas, talvez, a pessoa menos entusiasma­da com o jogo que dali a minutos iria acontecer. Não que estivesse a prever o resultado negativo para a equipa portuguesa, mas porque não partilhava, e não partilha, o mesmo entusiasmo pelo futebol que os restantes.

O seu desporto de eleição é outro: o râguebi. Um legado familiar. O seu filho era o capitão da seleção até há pouco tempo e o seu pai fundou o CDUL. Daí o Pinto de Magalhães do seu pai dar nome ao Estádio Universitá­rio de Lisboa.

“Acho que o râguebi é uma escola de carácter. E tem uma grande vantagem de ser um jogo de equipa sem vedetas. Depois há um controlo da dor único, só em desespero é que se desiste. É outra coisa. Como sempre ouvi em casa, o râguebi é um desporto de arruaceiro­s jogado por gentlemen, enquanto o futebol é um jogo de gentlemen jogado por arruaceiro­s”, diz a sorrir.

HÁ SETE, OU MAIS, VIDAS NA COMPANHIA

Voltando à “companhia”, conta que muitas vezes lhe perguntam o que mais gostou de fazer na vida empresaria­l em todos estes anos de Central ao peito. “Gostei de fazer tudo o que me pediram para fazer, porque sempre me habituei a gostar de tudo o que me pediam, e assumi isso com paixão.”

Não consigo deixar de lhe perguntar se teve convites para sair da empresa. Anui com a cabeça e revela que ao longo das quase cinco décadas teve vários convites para sair, mas… há sempre um mas, “como mudei tanto e percorri quase todas as áreas da companhia com exceção da área de produção e financeira, encontrei sempre um mundo novo. Quando fundei a logística na empresa era como se fosse uma nova empresa, o mesmo aconteceu quando fui diretor de compras ou diretor do canal HoReCa (Hotéis, Restaurant­es e Cafés). E nunca andei à procura de sair”. Ao longo destes anos, e dos 18 CEO com quem trabalhou, diz que Alberto da Ponte – que morreu em 2017 – foi o que mais o marcou. “Foi o CEO que esteve mais tempo, oito anos, e que me marcou por várias razões, entre as quais por ter levado a Sagres de novo à liderança de mercado em Portugal e ter celebrado isso num anúncio. O que foi muito interessan­te uma vez que nem sequer acionista da companhia era. Foi um homem que olhou para a empresa e disse: o foco não pode ser a fábrica mas sim o consumidor. A partir daí a cultura instalou-se e transformo­u uma empresa que tinha um cariz muito industrial até então.”

A pergunta seguinte é quase óbvia: o que vai mudar com as suas novas funções de chairman? “É um lugar não executivo, mas que é a mesma coisa que ser presidente da administra­ção, e vou atuar de uma forma mais institucio­nal. Mas, como costumo dizer, não vendemos Central de Cervejas, vendemos Sagres, Heineken e água do Luso.”

Pergunto-lhe se vai ter um papel mais ligado com a diplomacia, que lhe assenta como uma luva. “Sim, vou ter todas as funções que o conselho de administra­ção me pedir para fazer.”

Foi, conta, desde jovem formatado para ser diplomata. Por familiares, tios, ligados à diplomacia mas também pelo fascínio do relacionam­ento com as pessoas, da subtileza das negociaçõe­s, dos bastidores e das viagens, explica. “Gosto de negociar consensos, não tenho ruturas, posso ter momentos de maior afirmação, mas não tenho ruturas.” E para quem desconhece, Pinto de Magalhães é também presidente da Fundação Luso, presidente da Auto Regulação Publicitár­ia e ainda presidente da Câmara do Comércio Portugal-Holanda.

O LADO MAIS PESSOAL

Para além da paixão já mencionada pelo râguebi, pergunto-lhe sobre o que mais gosta, a nível pessoal. A resposta é pronta: “Gosto imenso de arte, fui antiquário durante muitos anos, em paralelo com a companhia, e gosto muito de ir a exposições.” Vermeer e Rembrandt, Van Dyck, os retratos e as cenas do dia-a-dia criadas por estes mestres da pintura são as preferênci­as. Revela ainda que é colecionad­or, ou “amontoador” como prefere dizer, de retratos antigos em miniatura. E explica do que se trata. “Antes de existir a fotografia as pessoas mandavam-se pintar, para usarem esses retratos nos casamentos à distância ou levar uma lembrança para viagens ou para a guerra. Tenho uma parede cheia com esses retratos.

Sei quem são algumas das pessoas mas outras não. E tenho imensa relação com os colecionad­ores deste tipo de retratos em todo o mundo. Gosto muito porque todas as pessoas são diferentes e no fundo gosto muito de pessoas.” É por isso que gosta de ler biografias. Mas fala no último livro que o marcou, do escritor Amor Towles, “uma história extraordin­ária de um aristocrat­a russo apanhado pela revolução de 1917 que depois passa a viver num hotel como criado. É um livro muito bom e símbolo de resiliênci­a”. E o gosto pelas pessoas leva a uma pergunta recorrente nestas conversas mais intimistas: tem ídolos? Não, responde. Mas tem uma pessoa que lhe serve de modelo, o irmão Vasco Pinto de Magalhães, “jesuíta, um homem de uma grande serenidade, uma grande espiritual­idade, uma grande abnegação. É o atual prior da Igreja da Encarnação, no Chiado. Engenheiro, doutorado em Filosofia e em Teologia, e grande jogador de râguebi. É uma pessoa inspirador­a para mim que me dá uma grande paz de espírito e me puxa para as coisas boas”.

Com a conversa a chegar ao fim, uma ligeira provocação. O gosto pela cerveja que já lhe tinha ouvido dizer não ser o que mais gosta. Nuno Pinto de Magalhães sorri e responde, diplomatic­amente, claro. “Gosto de cerveja, mas não sou um grande consumidor de cerveja. Aliás, não bebo muito álcool, não gosto de bebidas espirituos­as e só de vez em quando bebo um copo de vinho. Mas recentemen­te descobri as cervejas sem álcool e passei a beber mais. Aliás, também nunca bebi café mas sou conhecido como um chazeiro, o chá foi sempre a minha bebida preferida.”

Quando nos despedimos, nos cumpriment­os habituais e com promessa de não passar tanto tempo até ao próximo reencontro, falamos de uma máxima que Nuno Pinto Magalhães tem para a vida e que vai continuar a seguir nas suas novas funções: “Nunca percam uma boa conversa! Nunca rejeitei uma conversa mesmo com pessoas muito diferentes. Aprendi sempre alguma coisa com as pessoas que querem conversar comigo. Somos o espelho das nossas relações.”

“ACHO QUE O RÂGUEBI É UMA ESCOLA DE CARÁCTER. E TEM UMA GRANDE VANTAGEM DE SER UM JOGO DE EQUIPA SEM VEDETAS. DEPOIS HÁ UM CONTROLO DA DOR ÚNICO, SÓ EM DESESPERO É QUE SE DESISTE. É OUTRA COISA. COMO SEMPRE OUVI EM CASA, O RÂGUEBI É UM DESPORTO DE ARRUACEIRO­S JOGADO POR GENTLEMEN, ENQUANTO O FUTEBOL É UM JOGO DE GENTLEMEN JOGADO POR ARRUACEIRO­S”, DIZ A SORRIR.

Pedro Pinto é diretor no Corpo Santo Lisbon Historical Hotel, um dos mais premiados hotéis de luxo de Lisboa. Com mais de 20 anos de trabalho na área da hotelaria, descobriu o seu lado B nas motos quando tinha apenas 16.

Ao DN, conta que a paixão pelo motociclis­mo começou depois de ter andado pela primeira vez numa acelera. Desde então têm sido muitas as motos com que fez (muitos) quilómetro­s. Desde a Honda CBF 600 à que se tornou a sua predileta: uma Ducati Monster – que afirma ser “a melhor moto do mundo”.

Pedro Pinto acredita que “as motos são uma marca da nossa personalid­ade”. A sua Ducati, ou “Ferrari das motos” (como lhe chama), é um reflexo da sua atenção aos pequenos pormenores. As caracterís­ticas estéticas da moto em conjunto com o som específico do motor causam-lhe uma “sensação de adrenalina inexplicáv­el”, daí não a trocar por nada.

Quanto às aventuras na estrada, relembra a viagem que fez em direção à concentraç­ão motard de Faro com amigos e o ambiente de todo o evento – “foi a viagem mais engraçada e divertida que fiz”. Porém, alerta para os cuidados a ter na estrada e a importânci­a de uma condução segura.

Ao comparar a sua profissão na hotelaria com o seu lado B, diz que “as duas paixões são exigentes e perigosas, mas dão-me uma satisfação própria de realização”.

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