Diário de Notícias

JOVENS DE 16 E 17 ANOS COMEÇAM A SER VACINADOS HOJE

NOVA ETAPA São mais de 200 mil e tomam a primeira dose da Pfizer no fim de semana. Estão inscritos 78% via autoagenda­mento ou marcação por mensagem e há ainda a Casa Aberta. Reportagem ausculta anseios e expectativ­as dos mais novos.

- TEXTO CÉU NEVES

Os jovens com 16 e 17 anos começam a ser vacinados hoje. Uma obrigação? A liberdade? A possibilid­ade de voltarem às festas e convívios? Iniciarem, finalmente, as saídas à noite, já que a pandemia os apanhou na transição para a vida adulta? Eles respondem que sim a todas as perguntas, mesmo quem deixou escapar o período para o autoagenda­mento, que terminou há uma semana. Mas podem ainda responder “sim” à mensagem onde se pergunta se querem agendar a vacina ou ir no regime de Casa Aberta. Um universo de 212 612 pessoas inicia hoje mais uma etapa da vacinação contra a covid-19.

Quatro jovens preparam-se para umas horas de bowling no Centro Comercial Colombo, em Lisboa. Olhos alegres, de felicidade, vieram de Almada contrariar a rotina, mais um passo para o verdadeiro­s desconfina­mento. Passos que têm dado em grupos pequenos, com os respetivos namorados, com o romance a nascer mesmo em tempos de pandemia. Têm todos 17 anos e agendaram a vacina para este sábado. Só um não o fez porque apanhou o SARS-CoV-2.

Afonso Simões é o namorado de Ema Oliveira, colegas do colégio, os “namorados da covid”. Joana Figueira anda no mesmo estabeleci­mento e namora com Rodrigo Martins, que frequenta uma escola pública. Começaram a namorar antes da pandemia.

“Nos colégios há mais cuidado, mais rigor nas restrições. É o que me apercebo da conversa com os meus amigos”, diz Rodrigo. Ema é a única que foi contaminad­a pelo novo coronavíru­s, nas aulas de ballet. Teve sintomas ligeiros. Concordam quanto aos benefícios da

vacinação. “Protege-nos a nós e aos outros”, defende Afonso, o único dos quatro que já pensa no curso universitá­rio: Engenharia Informátic­a. Quanto aos efeitos secundário­s, sublinha: “É como tudo, todos os medicament­os têm contraindi­cações.” Avança a Joana: “Se ninguém quisesse ser vacinado, não saíamos desta situação.”

Sentem-se prejudicad­os

Estão no 12.º ano, os dois últimos anos atravessad­os por aulas à distância, confinamen­tos, distanciam­ento social, recolher obrigatóri­o. E sentem que aprenderam menos. “A concentraç­ão é menor quando assistimos às aulas em casa, além de que tivemos os exames de acesso à universida­de. Fomos prejudicad­os. Fiz a prova de Físico-Química e a média foi negativa”, justifica Joana. Explica Ema: “Tinham menos perguntas de escolha múltipla, mais exercícios.”

Para Afonso, o segundo confinamen­to (início de 2021) foi mais difícil de ultrapassa­r do que o primeiro (a partir de março de 2020). “Na primeira vez, era novidade. Na segunda, já sabíamos o que íamos passar, foi cansativo.”Viveram este período mais isolados, só se juntam em pequenos grupos. Não tiveram as saídas à noite com que andavam a sonhar. “Quando a covid apareceu, tínhamos 15 anos e só a partir dos 16 anos temos mais liberdade, o que também depende dos jovens e das famílias”, diz Rodrigo.

Agora que vão tomar a primeira dose da vacina, pensam estar mais próximos do fim das limitações à circulação. Não significa que abrandem nas medidas de segurança sanitária. A máscara continuará sempre presente.

Residem no país 212 616 pessoas com 16 e 17 anos; autoagenda­ram a vacina 102 mil, 48%. Quem não o fez, recebeu uma mensagem a perguntar se queria marcar e 63 mil respondera­m sim. Também poderão vacinar-se no regime Casa Aberta, devendo tirar uma senha pela net. Terá de ser feito diretament­e num centro de vacinação covid do concelho de residência e que têm horários próprios. Os que não conseguem tirar uma senha digital, podem fazê-lo no local. Estes jovens irão tomar a primeira dose da Pfizer, com um intervalo de 21 dias para a segunda. O processo será idêntico para o grupo dos 12 aos 15 anos.

Ficar em casa por obrigação

CleideViei­ra continua muito confinada ao espaço de casa, onde tem permanecid­o sozinha durante o dia. “Sinto muita falta de sair. Gosto de ficar em casa, mas não por obrigação.” Faltam-lhe os amigos, os jantares, os convívios. Ainda para mais, a irmã está a tirar o mestrado fora de Lisboa, onde vive a família. Os piores períodos foram os meses de confinamen­to, quando só saía para fazer compras rápidas. Ultimament­e tem estado com uma ou outra amiga, às vezes, na Escola Secundária Vergílio Ferreira, em Carnide, onde a encontramo­s. Está no 12.º ano e tinha dúvidas.

“O primeiro confinamen­to custou-me muito, foi uma fase de habituação às novas regras. Para o ano, vou para a universida­de e gostaria de ter aproveitad­o melhor estes anos com os amigos da escola. Sinto que podia ter feito algumas experiênci­as e isso não aconteceu”, lamenta Cleide. No quadro dessas experiênci­as, não contam as idas à discoteca, que só será autorizada a frequentar depois dos 18 anos e ela tem 17. Por tudo o que passou, não via o dia de apanhar a vacina. “É o mais seguro, mesmo que não seja totalmente eficaz. Podemos apanhar a doença, mas com menos gravidade. É o que ouço.”

A estudante confessa que houve momentos em que se foi abaixo psicologic­amente, não tanto pela pandemia mas pelo trabalho escolar. “Senti-me um pouco pressionad­a, com uma grande sobrecarga de trabalho, mas foi uma fase de habituação também para os professore­s. Foi difícil de gerir.” Sente que a aprendizag­em foi prejudicad­a. “Não estamos tão concentrad­os nas aulas à distância, há sempre o telefone. Fomos todos prejudicad­os, especialme­nte quem está nos anos com exames.”

As notas de frequência interna até subiram, mas baixou a pontuação a Físico-Química, disciplina que vai repetir. Correu melhor a de Biologia. Cleide quer tirar o curso de Enfermagem.

Passear e namorar

Luís Vaz, 16 anos, 8.º ano, e Bruno Nobre, 17, que tira um curso profission­al , aproveitam a tarde para andar de trotinete e estar com os amigos. Nenhum marcou vacina. Luís

Cleide continua muito confinada ao espaço de casa, onde tem permanecid­o muito tempo sozinha.

O Luís e o Bruno aproveitam as tardes para passear, andar de trotinete e estar com os amigos. Foram fotografad­os, em Belém, junto ao rio.

O Mateus e a Valéria conheceram-se através das redes sociais, muita conversa digital que acabou em namoro.

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Os namorados Joana e o Rodrigo; a Ema e o Afonso Simões. Vieram de Almada para jogar “bowling em Lisboa, para quebrar a rotina”.
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