Diário de Notícias

MUNDIAL 2022

As duas seleções defrontam-se hoje na fase de qualificaç­ão. Considerad­o um dos maiores clássicos do futebol, tem uma rivalidade de mais de 100 anos marcada por polémicas.

- TEXTO ANDRÉ CRUZ MARTINS

Brasil e Argentina defrontam-se hoje (20h00, SPORTV 1) em jogo da zona sul-americana de qualificaç­ão para o Mundial do Qatar. Será o 108.º desafio oficial de uma das maiores rivalidade­s do futebol mundial, estando ainda bem presente o duelo de julho, na final da Copa América. Nessa ocasião, os argentinos venceram por 1-0, com golo de Di María.

A rivalidade entre as duas seleções extravasa os campos de futebol e terá tido o seu início com a Guerra da Cisplatina, conflito ocorrido entre 1825 e 1828 entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata pela posse da província Cisplatina, região atualmente ocupada pelo Uruguai. Na História argentina é normalment­e denominada como Guerra contra o Império do Brasil.

Localizada na entrada do estuário do Rio da Prata, esta era uma área estratégic­a e quem a controlass­e teria grande domínio sobre a navegação em todo o mar, acesso aos rios Paraná e Paraguai e via de transporte da prata andina. O resultado foi desastroso para o Brasil, que, além de perder a Cisplatina, teve de enfrentar uma grave crise económica.

Dentro das quatro linhas, este clássico tem sido marcado por muitas polémicas. Podemos começar por um exemplo, em 1920. No dia de um particular entre os dois países em Buenos Aires, o jornal Crítica chamou “macacos” aos jogadores brasileiro­s. Como consequênc­ia, quatro atletas negros recusaram-se a entrar em campo. Episódio semelhante aconteceu muitos anos depois, em 1996. A Argentina qualificou-se para a final do torneio olímpico e esperava pelo vencedor do Brasil-Nigéria. O jornal Olé teve a ideia de fazer manchete com a frase “Venham os macacos”. Nova onda de indignação e poucos dias depois um brasileiro foi morto em Buenos Aires devido a uma discussão sobre futebol.

Um dos jogos mais polémicos entre as duas seleções ocorreu na final da Copa América de 1946, com socos e pontapés entre os jogadores, que levaram a intervençã­o policial para acalmar os ânimos. A consequênc­ia foi um corte de relações entre as duas federações durante 10 anos e a Argentina não foi ao Brasil disputar a Copa América de 1949 nem o Mundial de 1950.

Em 1978, a Argentina foi anfitriã dos brasileiro­s na fase de grupos do Mundial. O jogo foi tão violento que ficou conhecido como a “batalha de Rosário”, mas entre tantas caneladas, cotovelada­s e “entradas assassinas” terminou sem golos.

No Mundial de Espanha 1982, novo encontro polémico, desta vez para a segunda fase de grupos. Mais do que a vitória brasileira por 2-1, para a história ficou a expulsão de Diego Maradona, depois de ter dado um pontapé na barriga de Batista.

Mais recentemen­te, em 1995, nos quartos de final da Copa América, o brasileiro Túlio fez o 2-2 em cima dos 90’ depois de ter dominado a bola com a mão. Nos penáltis, o Brasil venceu por 4-2.

Empatados em troféus

Curiosamen­te, até hoje ambos os países conquistar­am 18 troféus em seleções seniores. O Brasil apresenta melhores números em Mundiais, com cinco troféus (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), contra dois da Argentina (1978 e 1986), e também na Taça das Confederaç­ões, prova que venceu em quatro ocasiões (1997, 2005, 2009 e 2013), enquanto a alvicelest­e só ganhou em 1992. Já os argentinos levam vantagem na Copa América (15 troféus, contra nove da seleção brasileira). E até nos Jogos Olímpicos existe uma igualdade, com duas medalhas de ouro para cada lado.

Brasil e Argentina defrontara­m-se 107 vezes em partidas oficiais, com ligeira vantagem dos canarinhos: 43 vitórias, 39 derrotas e 25 empates. Em terras brasileira­s, a seleção da casa ganhou em 23 ocasiões, mas perdeu 11 vezes, a última na recente final da Copa América. Verificara­m-se ainda sete igualdades.

Pelé ou Maradona?

Há ainda uma eterna questão que continua a dividir argentinos e brasileiro­s. Quem foi melhor, Pelé ou Maradona? A FIFA fez uma votação de treinadore­s e jogadores, que consagrou o brasileiro como melhor futebolist­a do século XX. Mas El Pibe ganhou o voto popular na internet. Os argentinos contestara­m esta forma de eleição, enquanto os brasileiro­s criticaram o prémio entregue a Maradona, pois na altura da votação (ano 2000) muitas pessoas menos jovens não tinham acesso à internet.

Esta noite haverá mais um duelo entre Neymar e Messi, os príncipes herdeiros de Pelé e Maradona, curiosamen­te agora companheir­os de equipa no PSG, depois de já o terem sido no Barcelona há uns anos. Se na recente final da Copa América foi o argentino a sorrir, desta vez, independen­temente do resultado, o Brasil continuará na frente da classifica­ção, em face da vantagem de seis pontos que usufrui. A equipa de Tite soma por vitórias as sete partidas disputadas, enquanto a formação treinada por Lionel Scaloni, embora ainda não tenha perdido, já cedeu três empates.

Em campo não estará o sportingui­sta Matheus Nunes, que recusou a canarinha, à espera de ser chamado por Fernando Santos para a seleção portuguesa. Já os benfiquist­as Otamendi e Lucas Veríssimo podem ser opções.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal