Ex-ministro: “Bolsonaro não tem fibra para o cargo”
General Santos Cruz, que na pasta da Secretaria do Governo trabalhou no Planalto ao lado do presidente do país, saiu do Executivo desiludido com “a falta de equilíbrio, critério e método e o excesso de extremismo” do chefe de Estado. “[Razão da saída do g
Acabado de ser eleito, em outubro de 2019, Jair Bolsonaro tentou rodear-se de nomes que garantissem credibilidade e robustez ao novo governo. Como general de divisão na reserva do Exército brasileiro, ex-secretário Nacional de Segurança Pública e chefe de missão da ONU no Haiti e no Congo, Carlos Alberto Santos Cruz, 69 anos, reunia essas condições.
No entanto, o titular da Secretaria do Governo, cargo com estatuto de ministério no Brasil que se ocupa das relações institucionais do Executivo com os outros poderes e funciona ao lado do gabinete do presidente da República, saiu seis meses depois da posse alvo de ataques de Carlos Bolsonaro, o filho do presidente que comanda o chamado “gabinete do ódio”, grupo que propaga ataques à reputação de adversários e ex-aliados, e em rutura com Olavo de Carvalho, o guru presidencial, e desiludido com o “afastamento do governo do combate à corrupção”.
Desde então, Santos Cruz vem alertando para o desgaste que o radicalismo de Bolsonaro provoca na imagem das Forças Armadas – a 20 de agosto, uma sondagem do instituto PoderData mostrou que a maioria da população (52%) é contra a presença de militares no governo, pela primeira vez desde o início da série de pesquisas, e de maio a agosto a aprovação à instituição caiu 11%. “Sem dúvida, o comportamento do presidente e as tentativas de tirar proveito da boa imagem das Forças Armadas trouxeram desgaste”, comenta ao DN o general Santos Cruz.
Atualmente um dos nomes apontados pela imprensa como eventual candidato à presidência ou à vice-presidência na eleição presidencial do próximo ano, o ex-ministro é vago: “Ainda não pensei nisso...”
Quando aceitou participar no governo Bolsonaro, o que esperava dele e do presidente?
Esperava um governo de união nacional, de prática política correta e de bom nível, de atenção para todos os setores da sociedade e de combate à corrupção”.
A propósito do combate à corrupção, a sua saída precedeu em quase um ano a de Sergio Moro, mas ambos acusaram o governo de abandonar essa luta e de aparelhar órgãos de controlo e polícias. Foi a principal desilusão?
Não. Essa não foi “a principal”. Foi um conjunto de observações negativas, de falta de critérios, de falta de ações equilibradas, de falta de método de trabalho, de influência e adoção de extremismos e de afastamento das promessas e expectativas de campanha. Sondagens, como uma recente do instituto de pesquisas PoderData, revelam que a imagem das Forças Armadas sofreu desgaste por estar ao lado do governo. Acha um erro esta colagem da instituição ao Executivo?
Sem dúvida, o comportamento do presidente e as tentativas de tirar proveito da boa imagem das Forças Armadas trouxeram desgaste.
Discursos de Bolsonaro e de bolsonaristas sugerem eventual golpe de Estado ao atacar os outros poderes, e não só. Isso é ficção ou há mesmo esse risco no Brasil?
O comportamento dos extremistas deixa essa dúvida, mas o Brasil tem instituições que não permitem esse tipo de aventura.
O que sente ao ouvir Bolsonaro dizer “o meu exército”?
Isso é demagogia e populismo. Um tratamento respeitoso não é dessa forma.
Qual a sua opinião sobre Bolsonaro após a convivência com ele e o que tem visto do seu comportamento?
Eu não faço comentários sobre a pessoa. Como governante, ele mostrou-se e mostra-se com muita dificuldade de estatura para a função que ocupa.
Para a eleição presidencial de 2022, que solução pensa ser a ideal num quadro em que Lula se destaca nas sondagens, Bolsonaro vem atrás e a chamada “terceira via” ainda não achou um nome? Para 2022 temos que seguir o processo eleitoral normal e respeitar a escolha da população nas urnas. Essa é a única opção válida. É seguir a lei. Outras opções irão aparecer e a população irá optar por uma delas. A escolha tem que ser respeitada.
Pondera ser candidato a presidente ou vice numa das listas que se apresentem?
Neste momento não sou filiado a nenhum partido político e a legislação brasileira não permite candidatos independentes a nenhum cargo eletivo. Disputa de cargo eletivo para as próximas eleições é um assunto em que ainda não pensei. Foi chefe de missões da ONU no Haiti e no Congo. O que recorda, no geral, de cada uma delas?
As maiores observações foram o absurdo da desigualdade, as consequências da corrupção e a falta de responsabilização política.
Osecretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou a todas as partes envolvidas nas eleições presidenciais deste domingo em São Tomé e Príncipe para que privilegiem o diálogo e se abstenham de quaisquer atos de violência.
“O secretário-geral tem acompanhado de perto o processo eleitoral presidencial em São Tomé e Príncipe e observa que a primeira volta foi conduzida pacificamente”, afirma Stéphane Dujarric, porta-voz de António Guterres.
Esta é a primeira vez que um secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) se pronuncia sobre um ato eleitoral em São Tomé e Príncipe na véspera das eleições, segundo fonte da organização.
Na mesma mensagem, o líder da ONU congratula-se com a assinatura, pelos dois candidatos à segunda volta, de um “código de conduta” durante a campanha eleitoral.
“Encoraja todos os envolvidos a continuarem a utilizar o diálogo e a estabelecer canais legais para a resolução de disputas e a absterem-se de quaisquer atos de violência”, refere ainda a nota da ONU.
Além disso, saúda “os esforços da Comunidade Económica dos Estados da África Central [CEEAC] para ajudar a construir uma via pacífica para a estabilidade a longo prazo no país, nomeadamente através do destacamento de um enviado especial”. O antigo ministro das Relações Exteriores angolano Manuel Augusto encontra-se em São Tomé e Príncipe, numa missão de “bons ofícios”, por aquela organização regional ter entendido que existia a necessidade de “um acompanhamento mais próximo, como resultado do litígio, quase uma minicrise”.
O processo eleitoral para a escolha do sucessor de Evaristo Carvalho no Palácio da Presidência atrasou-se quase um mês, devido a um impasse no Tribunal Constitucional sobre a recontagem de votos pedida pelo terceiro classificado, o presidente da Assembleia Nacional, Delfim Neves, a que se seguiu um diferendo entre os diferentes partidos quanto à marcação da data da segunda volta.
O mandato do presidente cessante terminou na sexta-feira passada, mas Evaristo Carvalho anunciou que se mantém no cargo até à posse do sucessor.
Carlos Vila Nova (apoiado pelo partido Ação Democrática Independente, oposição) venceu a primeira volta das eleições presidenciais, realizada a 18 de julho, com 43,3% dos votos, enquanto Guilherme Posser da Costa (do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe – Partido Social-Democrata, no poder) teve 20,7%.
Secretário-geral do ONU acompanha o processo eleitoral.