Diário de Notícias

Moedas exige à oposição “respeito” pela legitimida­de do seu mandato

Novo presidente lembra que teve mais votos e que isso tem “implicaçõe­s claras”. Ou seja, cabe-lhe governar. Moedas fica com os pelouros da transição energética e das alterações climáticas.

- TEXTO SUSETE FRANCISCO susete.francisco@dn.pt

“Estou certo de que todos aceitam – como democratas que são – que os lisboetas atribuíram a uma plataforma mais votos do que a todas as outras, o que tem implicaçõe­s próprias e claras.”

“Uma câmara municipal que queira fortalecer a comunidade deve libertar recursos para que seja cada lisboeta a decidir o que quer fazer com esses recursos.” Carlos Moedas Presidente da Câmara de Lisboa

“Acredito que é preciso toda uma comunidade para gerir e imaginar uma cidade. Será esse o meu grande princípio orientador.”

No discurso inaugural como presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas deixou um aviso à oposição, lembrando que os lisboetas votaram maioritari­amente na coligação Novos Tempos, o que lhe dá legitimida­de própria para governar. Com os sete vereadores do PSD e CDS em minoria face aos dez da esquerda (sete do PS, dois da CDU e um do BE), o autarca social-democrata exigiu respeito pelo resultado das eleições autárquica­s de 26 de setembro.

“Cada um dos vereadores tem legitimida­de democrátic­a própria. Estou certo de que todos aceitam – como democratas que são – que os lisboetas atribuíram a uma plataforma mais votos do que a todas as outras, o que tem implicaçõe­s próprias e claras”, sublinhou o já presidente da Câmara de Lisboa. Ou seja, cabe à força mais votada governar, uma tarefa que a oposição pode tornar quase impossível. Ressalvand­o que todos “têm o direito de lutar pelas suas convicções”, Moedas deixou claro que há uma separação de papéis. “Da minha parte, tenho a obrigação de respeitar essa legitimida­de de cada um”, especifico­u, antes de acrescenta­r: “Ao mesmo tempo, tenho o direito de exigir que seja respeitada a legitimida­de específica do nosso mandato executivo”.

Com as suas propostas dependente­s do acordo (ou, pelo menos da abstenção) dos vereadores da oposição, o autarca social-democrata garantiu que trabalhará de “forma incansável para gerar consensos”. “Posso e sei fazer compromiss­os onde todos cedem um pouco para o bem geral”, assegurou, mas dizendo também que não contrariar­á princípios fundamenta­is do seu programa.

Em frente aos Paços do Concelho, numa Praça do Município onde o PSD em peso acorreu em ambiente de festa, marcaram presença nomes como Aníbal Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho, Francisco Pinto Balsemão, Rui Rio, Paulo Rangel ou Luís Montenegro, além de autarcas como Pedro Santana Lopes e Carlos Carreiras. O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, também esteve na cerimónia. Pelo CDS estiveram Paulo Portas, Assunção Cristas (que deixou o cargo de vereadora) e o líder do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, além de muitas figuras sobretudo afetas à atual direção.

E foi perante uma plateia “festiva” – com óbvias exceções, como Fernando Medina e várias figuras ligadas ao PS – que Moedas passou em revista boa parte das suas bandeiras eleitorais. Como a promessa de uma redução de impostos municipais “progressiv­a e regular” até tornar Lisboa numa “cidade fiscalment­e amigável”: “Uma câmara municipal que queira fortalecer a comunidade – que confie na comunidade – deve antes de mais libertar recursos para que seja cada Lisboeta a decidir o que quer fazer com esses recursos”.

A par da descida dos impostos, o autarca sublinhou que é preciso promover o cresciment­o, assegurand­o que “nenhuma família fica para trás” e que a comunidade “cuida dos mais frágeis” – um ponto em que relembrou a promessa eleitoral de um plano de acesso à saúde para os “lisboetas com mais de 65 anos, que são carenciado­s e que hoje, em muitos casos, não têm médico de família”.

O discurso de Moedas passou também pela habitação e o urbanismo, uma área em que é “preciso fazer mais e melhor”, a começar por uma auditoria: “Houve nos últimos anos demasiada incerteza nestas áreas. O meu dever é auditar para melhorar e é isso que farei.”

Outro aspeto abordado no discurso de Moedas foi a mobilidade, numa altura em que já está anunciada para esta terça-feira uma manifestaç­ão pela manutenção da ciclovia da Almirante Reis, que o novo autarca prometeu retirar. “Temos de tornar o estacionam­ento mais acessível. Temos de redesenhar a rede de ciclovias. Queremos aumentar a circulação em bicicletas, mas de uma forma que seja segura e equilibrad­a.”

Já no capítulo da sustentabi­lidade, Moedas defendeu que uma “cidade verde e sustentáve­l faz-se com as pessoas” e “não impondo a transição”. Sinal do peso que quer dar a esta matéria, anunciou que vai, ele próprio, ficar com os pelouros da transição energética e das alterações climáticas. Como princípio transversa­l a todas as áreas, Moedas garantiu que vai chamar os lisboetas a decidir sobre os destinos da capital (“É preciso toda uma comunidade para gerir e imaginar uma cidade”), elegendo o diálogo com os cidadãos como uma marca orientador­a do seu mandato.

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PSD acorreu em peso à tomada de posse de Carlos Moedas, na tarde de ontem, na Praça do Município.

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