Diário de Notícias

Brincar às serpentina­s para fazer joias com prata Cada joia é feita à mão, num trabalho que exige minúcia. A joalheira faz também peças personaliz­adas, ao gosto do cliente, com possibilid­ade de reciclagem de materiais.

JOALHARIA As memórias de criança, em que costumava agarrar em serpentina­s e fazer dobras até criar pequenas concertina­s, inspiraram a nova coleção da joalheira Alice Neiva, agora à venda na loja pop-up do CCB.

- sofia.fonseca@dn.pt TEXTO SOFIA FONSECA

As horas passadas a brincar a dobrar serpentina­s na infância ficaram na memória da joalheira Alice Neiva, que, agora, aos 36 anos, lança uma coleção inspirada no papel e nos padrões que se criam através das suas dobras. As peças estão à venda na loja pop-up do CCB, em Lisboa, a Portugal Manual, onde também estão disponívei­s outros artigos da criadora bem como de outros artesãos nacionais.

Alice Neiva trabalha a prata, um metal rígido, com a leveza e a delicadeza do papel. Cada peça da coleção Paper Folds é feita à mão, num trabalho minucioso que começa por transforma­r a matéria-prima bruta em lâminas, fitas compridas que depois são dobradas, como se faz com duas serpentina­s. “Não sei se os miúdos ainda fazem isso, mas nós passávamos horas a dobrar fitas de serpentina­s”, lembra Alice Neiva acerca daquelas miniconcer­tinas que, em miúda, saíam das suas mãos em papel colorido.

Agora, em vez do papel, aplica a técnica nas lâminas de prata. E cria colares, pulseiras, brincos e anéis que têm a capacidade de esticar e encolher, ajustando-se ao tamanho e ao gosto de cada um. “São peças flexíveis. Funcionam como um acordeão, abrem e fecham, são ajustáveis”, explica a criadora, dando exemplos: os anéis encaixam em qualquer dedo, mais fino ou mais grosso; os brincos podem ficar mais redondos ou mais em gota. “Interessa-me essa versatilid­ade”, diz.

A nova coleção, que marca uma certa rutura com os trabalhos anteriores, em que privilegia­va a silhueta, mantém a delicadeza, e, antes de chegar à loja Portugal Manual, já estava à venda no site da artista. “A primeira peça que vendi desta coleção foi para o Japão”, conta. Foi um colar minifold, que custa cem euros, o preço médio das peças. A mais cara, que tanto pode ser um colar como uma pulseira, custa 240.

Cada joia é feita à mão, num trabalho que exige minúcia e dedicação, e que a joalheira deseja internacio­nalizar a curto prazo, com a ajuda da plataforma The Art of Tasting Portugal, parceira da Portugal Manual, rede que nasce com o propósito de dar voz a uma nova geração de artistas e artesãos portuguese­s nas mais variadas áreas e que conta já com cerca de 80 marcas e 30 parceiros. A loja pop-up junto à bilheteira do CCB, aberta há cerca de um ano, é apenas uma das montras do trabalho destes artistas. Peça importante na carreira de Ana Neiva, que nos últimos tempos se tem dedicado à promoção da marca em nome próprio.

Chamamento

Antes, era a Tundra, nascida quando a joalharia ainda ocupava uma posição secundária na sua vida e o trabalho no serviço educativo da Culturgest a preenchia quase na totalidade. “Em 2016 tenho a ideia de criar uma série de anéis que podiam ser combinados entre si e fazer paisagens”, conta acerca dessa primeira coleção, marcada por silhuetas minúsculas de animais que podiam ser combinadas entre si. “Foi uma espécie de chamamento. Tive esta ideia e achei que era o momento para dar o passo”, lembra Alice Neiva, que tinha feito o curso de joalharia na Ar.Co e feito um intercâmbi­o de um ano na Nova Scotia College of Art and Design, em Halifax, no Canadá.

Dado esse passo, criou depois a coleção Monsteras & Gorgonias, em que explorou a joalharia na parte de trás das orelhas.

Com ateliê na Baixa de Lisboa e loja online, Alice Neiva faz também peças personaliz­adas, ao gosto do cliente, com possibilid­ade de reciclagem de materiais. Peças desemparel­hadas ou sem uso podem ser reaproveit­adas para criar peças novas, todas produzidas à mão e certificad­as pela Casa da Moeda.

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A joalheira trabalha a prata como se de um metal flexível se tratasse e dobra-a para fazer as suas peças.
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