Brincar às serpentinas para fazer joias com prata Cada joia é feita à mão, num trabalho que exige minúcia. A joalheira faz também peças personalizadas, ao gosto do cliente, com possibilidade de reciclagem de materiais.
JOALHARIA As memórias de criança, em que costumava agarrar em serpentinas e fazer dobras até criar pequenas concertinas, inspiraram a nova coleção da joalheira Alice Neiva, agora à venda na loja pop-up do CCB.
As horas passadas a brincar a dobrar serpentinas na infância ficaram na memória da joalheira Alice Neiva, que, agora, aos 36 anos, lança uma coleção inspirada no papel e nos padrões que se criam através das suas dobras. As peças estão à venda na loja pop-up do CCB, em Lisboa, a Portugal Manual, onde também estão disponíveis outros artigos da criadora bem como de outros artesãos nacionais.
Alice Neiva trabalha a prata, um metal rígido, com a leveza e a delicadeza do papel. Cada peça da coleção Paper Folds é feita à mão, num trabalho minucioso que começa por transformar a matéria-prima bruta em lâminas, fitas compridas que depois são dobradas, como se faz com duas serpentinas. “Não sei se os miúdos ainda fazem isso, mas nós passávamos horas a dobrar fitas de serpentinas”, lembra Alice Neiva acerca daquelas miniconcertinas que, em miúda, saíam das suas mãos em papel colorido.
Agora, em vez do papel, aplica a técnica nas lâminas de prata. E cria colares, pulseiras, brincos e anéis que têm a capacidade de esticar e encolher, ajustando-se ao tamanho e ao gosto de cada um. “São peças flexíveis. Funcionam como um acordeão, abrem e fecham, são ajustáveis”, explica a criadora, dando exemplos: os anéis encaixam em qualquer dedo, mais fino ou mais grosso; os brincos podem ficar mais redondos ou mais em gota. “Interessa-me essa versatilidade”, diz.
A nova coleção, que marca uma certa rutura com os trabalhos anteriores, em que privilegiava a silhueta, mantém a delicadeza, e, antes de chegar à loja Portugal Manual, já estava à venda no site da artista. “A primeira peça que vendi desta coleção foi para o Japão”, conta. Foi um colar minifold, que custa cem euros, o preço médio das peças. A mais cara, que tanto pode ser um colar como uma pulseira, custa 240.
Cada joia é feita à mão, num trabalho que exige minúcia e dedicação, e que a joalheira deseja internacionalizar a curto prazo, com a ajuda da plataforma The Art of Tasting Portugal, parceira da Portugal Manual, rede que nasce com o propósito de dar voz a uma nova geração de artistas e artesãos portugueses nas mais variadas áreas e que conta já com cerca de 80 marcas e 30 parceiros. A loja pop-up junto à bilheteira do CCB, aberta há cerca de um ano, é apenas uma das montras do trabalho destes artistas. Peça importante na carreira de Ana Neiva, que nos últimos tempos se tem dedicado à promoção da marca em nome próprio.
Chamamento
Antes, era a Tundra, nascida quando a joalharia ainda ocupava uma posição secundária na sua vida e o trabalho no serviço educativo da Culturgest a preenchia quase na totalidade. “Em 2016 tenho a ideia de criar uma série de anéis que podiam ser combinados entre si e fazer paisagens”, conta acerca dessa primeira coleção, marcada por silhuetas minúsculas de animais que podiam ser combinadas entre si. “Foi uma espécie de chamamento. Tive esta ideia e achei que era o momento para dar o passo”, lembra Alice Neiva, que tinha feito o curso de joalharia na Ar.Co e feito um intercâmbio de um ano na Nova Scotia College of Art and Design, em Halifax, no Canadá.
Dado esse passo, criou depois a coleção Monsteras & Gorgonias, em que explorou a joalharia na parte de trás das orelhas.
Com ateliê na Baixa de Lisboa e loja online, Alice Neiva faz também peças personalizadas, ao gosto do cliente, com possibilidade de reciclagem de materiais. Peças desemparelhadas ou sem uso podem ser reaproveitadas para criar peças novas, todas produzidas à mão e certificadas pela Casa da Moeda.