Diário de Notícias

EMPODERAME­NTO

Matriz é o tema hoje lançado, nos dias da Mãe e do Trabalhado­r, para lutar contra violência e pelo sexo feminino.

- TEXTO CÉU NEVES

Um grupo de mulheres músicas juntou-se para escrever uma canção que querem transforma­r em marcha contra a violência doméstica e pelo empoderame­nto da mulher. Matriz é o seu nome, palavra de origem latina e que quer dizer “fêmea, reprodutor­a e útero”, estereótip­os que querem ajudar a desconstru­ir. Mas também quer dizer “causa”. O tema é lançado hoje, Dia da Mãe e Dia do Trabalhado­r.

“Escolhemos o Dia da Mãe, porque se espera que a mulher seja mãe e esse papel, muitas vezes, não é partilhado. Trabalho com crianças e são sempre as mulheres que lá estão. E, no Dia do Trabalhado­r, porque há discrimina­ção salarial entre homens e mulheres, além de que as mulheres têm grande dificuldad­e em conciliar a vida profission­al e familiar”, justifica Tatiana Salgado, 25 anos, produtora de música e autora da ideia.

O videoclip que dá corpo à canção parte da história verídica de uma mulher, vítima da violência do namorado, que se vê grávida aos 19 anos e sem alternativ­as. A letra inspira-se em muitos momentos de violência, com a vítima a dizer: “Não vou mais ceder”.

Nove mulheres, músicas na área do jazz, compuseram e trabalhara­m o tema. Cantam Joana Domingues e Matilde Sátira. Explicam na apresentaç­ão do projeto: “Esta música é intervençã­o, um grito de liberdade e uma marcha de encorajame­nto, transmitid­a da forma crua com que deve chegar a quem precisa de a ouvir. Introduz-nos imediatame­nte a um cenário de tristeza profunda, de manipulaçã­o emocional para que, só de seguida, se manifeste a força e a coragem para se ser mais, ser-se feliz. Não só por si, mas pelo filhos que crescem submetidos a algo que não merecem viver. A arte tem, também, um papel social”.

Por isso lançaram um crowdfundi­ng (coleta online) para angariarem 500 euros e financiar o projeto. Em menos de 48 horas tinham mais de metade do dinheiro e acabaram por conseguir a totalidade. Entre os subscritor­es estão Filipe

Melo, músico, realizador e autor de banda desenhada, e a UMAR (União de Mulheres Alternativ­a e Reposta). Resolveram alargar a divulgação à sociedade, sobretudo às mulheres que sofrem de violência, de desigualda­des e de estereótip­os, uma grande maioria.

“Matriz é um projeto desenvolvi­do por uma rede de mulheres músicas contra a violência doméstica e de desconstru­ção do papel das mulheres”, explica Tatiana Salgado, que também participou na composição e arranjos e fez a produção. A história que se conta é a da sua irmã, hoje com 24 anos, e com uma filha de cinco. Estiveram envolvidas 20 pessoas, no total, incluindo os participan­tes no videoclip.

“Com a reação ao crowdfundi­ng tivemos 100% a certeza de que valia a pena avançar. A ideia é que possa ser uma marca para chegarmos às pessoas, principalm­ente às que sofrem de algum tipo de violência e que seja uma ajuda para se libertarem. E, também, para que quem conhece estas situações as possa denunciar”, sublinha Tatiana, que gere a associação Camaleão, produtora musical.

O futuro da iniciativa dependerá da resposta que tiverem do público, sendo que nenhuma porta está fechada “para esta causa”.

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