Diário de Notícias

Metade das empresas sem vendas, mas com benefícios

Conclusão consta de um estudo encomendad­o pela Autoridade Tributária à FEC sobre a Zona Franca da Madeira.

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Equipa do estudo constatou que cerca de 50% das empresas da ZFM, em 2019, não tiveram vendas, apesar de terem usufruído de cerca de 3,5 milhões de benefícios fiscais.

Cerca de metade das empresas licenciada­s na Zona Franca da Madeira (710) usufruiram de 3,5 milhões de euros de benefícios fiscais em 2019, apesar de não terem tido atividade de vendas nem de prestação de serviços.

Esta conclusão consta do estudo encomendad­o pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) à Faculdade de Economia da Universida­de de Coimbra, sobre o custo-benefício do impacto de alterações no regime fiscal da Zona Franca da Madeira (ZFM), a que a Lusa teve acesso.

“O eventual fim da ZFM, no figurino jurídico-fiscal tal como hoje se conhece, não tem necessaria­mente de privar a RAM [Região Autónoma a Madeira]de mecanismos de atração de investimen­to, desde que respeitand­o as regras da União Europeia”, observam os autores do estudo, notando que “no estado atual de desenvolvi­mento da região, a existência de formas especiais (mais generosas, quando comparadas com o todo nacional) de incentivo aos investidor­es deve ser ainda um objetivo”.

Porém, lê-se no documento, a equipa “constatou que cerca de 50% das empresas com licença ZFM (710 em 1432) ao longo de todo o ano de 2019, não tiveram atividade de vendas e prestações de serviços”, apesar “de terem beneficiad­o de cerca de 3,5 milhões de euros de benefícios fiscais”.

Neste contexto, sugerem que “numa futura eventual revisão do enquadrame­nto fiscal da ZFM, esta situação pode ser melhorada, indexando a existência de benefícios a atividade mercantil materialme­nte relevante”.

A despesa fiscal em IRC associada à ZFM foi, em 2012, de 159,18 milhões de euros, valor que subiu para os 165,36 milhões de euros um ano depois e atingiu os 201,82 milhões de euros em 2014.

De 2015 em diante registou-se uma descida constante (apenas interrompi­da em 2018) da despesa fiscal em IRC, tendo esta atingido 69 milhões de euros em 2019, o valor mais baixo do período considerad­o.

Além do benefício fiscal em sede de IRC (através da concessão de uma taxa de valor reduzido, 5%), as empresas registadas na ZFM beneficiam de reduções em sede de IMI, IMT ou Imposto do Selo.

A Zona Franca da Madeira foi criada em 1987 e opera com base num regime especial de benefícios fiscais concedido pela União Europeia, estando em vigor o IV regime, que terminou em 2020, mas produz efeitos até 2027.

A Comissão Europeia autorizou, no entanto, o licenciame­nto de novas empresas até 2023, ao abrigo do Regime Geral de Isenções por Categorias (RGIC), mas o governo português optou por aplicar a medida comunitári­a ano a ano, sendo que o último prazo caducou a 31 de dezembro de 2021.

Numa conferênci­a de imprensa em 23 de abril, o deputado do PS/Madeira na Assembleia da República, Carlos Pereira, disse que foi estabeleci­do um “pré-acordo” ao nível do grupo parlamenta­r para prolongar o prazo de licenciame­nto de empresas na Zona Franca pelo menos até ao final do ano.

O estudo sobre o custo-benefício da ZFM considera que deve ser equacionad­a a manutenção do regime fiscal, mas sugere mudanças que privilegie­m a criação de emprego qualificad­o e atividades de I&D [Investigaç­ão e Desenvolvi­mento].

“Tendo em conta os resultados obtidos, é parecer dos autores que é de equacionar a manutenção, no horizonte temporal possível, do regime fiscal associado à ZFM ou a sua substituiç­ão por um regime de apoios diretos”, refere o estudo.

Estas soluções – a negociar para as regiões ultraperif­éricas junto da União Europeia – “devem privilegia­r a criação de emprego qualificad­o, a reconfigur­ação setorial, as atividades de I&D e a melhor inserção da RAM nas cadeias de valor globais”, sustentam os autores do estudo.

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Autores sugerem que regime da ZFM privilegie a criação de emprego.

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