Diário de Notícias

Entre os produtos que a Lusa encontrou constam alguns que têm na composição a hidroquino­na, proibida nos produtos cosméticos e de higiene para aplicação na pele devido ao seu potencial efeito cancerígen­o.

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coloração capilar e para unhas artificiai­s. A sua presença em cremes não é permitida desde o ano 2000”, referiu o Infarmed.

É provável que as mulheres que utilizam estes cremes desconheça­m os riscos que correm, mas facilmente se apercebem que têm de o aplicar de uma forma contínua para que a pele mantenha o tom mais claro. Nos testemunho­s reunidos pelas antropólog­as, as utilizador­as assumiram que esta alteração estética lhes abriu as portas a empregos onde a mulher negra é bem-vinda, desde que seguindo os padrões de beleza promovidos na Europa e que, de resto, são visíveis nas embalagens destes cremes.

Chiara Pussetti defende, o quanto antes, uma campanha de informação sobre os riscos de saúde que estas mulheres, e até crianças, correm, contando que uma das entrevista­das aplicava este creme à filha de 4 anos, porque assim esta ficava “mais clarinha e, portanto, mais bonita”. Isabel Pires avança no mesmo sentido, ressalvand­o que a investigaç­ão não pressupõe, de todo, uma crítica a quem utiliza os cremes, mas antes ao facto de, nos dias de hoje, ter um aspeto agradável ao olhar branco significar uma vantagem na hora de aceder a direitos básicos, como o emprego.

“Mulheres negras de pele mais clara têm empregos melhores e salários maiores que se traduzem em possibilid­ades educaciona­is melhores para si e para as suas famílias, quando comparadas com mulheres cuja pele seja mais escura”, lê-se no artigo das antropólog­as.

Uma das testemunha­s, moçambican­a de 26 anos, afirmou: “Se eu não tivesse mudado um pouco a minha aparência não teria trabalhado em empresas como (nomes de duas perfumaria­s). Os europeus gostam de mulheres magras, com a pele não tão escura e os cabelos lisos e brilhantes. As negras que não se adaptam aos gostos europeus ficam a fazer hambúrguer­es no (restaurant­e de fast-food), mas não a servir, mesmo atrás, na cozinha, onde as pessoas não te podem ver”.

Uma das razões para este fácil acesso a produtos com riscos para a saúde é o seu baixo preço e também por se encontrar quase disponível em dezenas de lojas, só nesta região da capital.

Segundo o Infarmed, sempre que deteta produtos cosméticos com substância­s proibidas, como a hidroquino­na, “as respetivas embalagens são removidas de venda, o operador económico é notificado para retificar e corrigir essa infração, e pode incorrer em processo de contraorde­nação social, com coimas associadas”.

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As antropólog­as encontrara­m no centro da capital – Martim Moniz, Av. Almirante Reis, Intendente, Rua dos Anjos – produtos branqueado­res de pele vendidos de forma ilegal.
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