Um nome para o futuro que pode só durar meses
Cerimónia é hoje às 11.00, mas teoricamente o primeiro mandato só acaba no dia 13. É nessa altura que deverá ser conhecido o nomeado – ou a nomeada – para substituir Jean Castex. Atual chefe de governo terá recusado ficar até às legislativas, onde a esque
A lei não obriga, mas todos os chefes de governo da V República no cargo durante as presidenciais apresentaram a demissão após a segunda volta. Essa é também a intenção de Jean Castex. Mas o facto de as legislativas serem já em junho faz com que o mandato de quem o substituir possa ser de curta duração, apesar de Emmanuel Macron querer escolher alguém “comprometido com a questão social, ambiental e produtiva” que mostre aos eleitores que pensa no futuro. Diz-se que também quer escolher uma mulher, mas já o queria em 2017 e acabou por ter dois primeiros-ministros. Estes são alguns dos nomes de que se fala.
Odia é de Emmanuel Macron, que toma hoje posse numa cerimónia sóbria no Palácio do Eliseu para o segundo mandato como presidente de França – o primeiro em duas décadas a conseguir a reeleição. Mas a pergunta que muitos se fazem não tem nada a ver com o chefe de Estado, mas com o próximo chefe de governo. Quem irá substituir Jean Castex? E será que voltará a haver uma mulher à frente de Matignon, mais de 30 anos depois de Édith Cresson?
A demissão do primeiro-ministro não era obrigatória. Contudo, foi o próprio Castex que, ainda na campanha para as presidenciais, revelou que iria sair para dar um “novo impulso” ao segundo mandato de Macron. Apesar disso, quase duas semanas depois da segunda volta das eleições, Castex e o seu governo continuam em funções, e o silêncio é total no Palácio do Eliseu. Diante da pressão, o porta-voz do executivo,
Gabriel Attal, lembrou na quarta-feira que o mandato de Macron só termina oficialmente na próxima sexta-feira, 13 de maio, e que não haverá remodelação governamental até lá.
Mas o que é que está a atrasar a saída de Castex? A escolha do próximo primeiro-ministro e governo são importantes tendo em vista as eleições legislativas de 12 e 19 de junho, com o presidente a querer manter a maioria na Assembleia Nacional que lhe permita implementar as suas reformas. Terá contudo que mostrar também que ouviu os franceses, que votaram como nunca na extrema-direita. E apresentar um nome capaz de ajudar a travar a esquerda, que fez uma aliança pré-eleitoral para tentar conquistar a maioria e impor o líder d’A França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, como futuro chefe de governo. Se tal acontecer, será a primeira vez em 20 anos que haverá “coabitação” entre um presidente de uma cor política e um primeiro-ministro de outra.
O escolhido ou a escolhida tem que ser um nome de futuro, mas ar
risca ficar menos de dois meses no cargo, com a imprensa francesa a indicar que Macron já terá ouvido algumas rejeições. Desde logo do próprio Castex, que o presidente queria que ficasse no cargo até às legislativas. E também, alegadamente, da ex-chefe de gabinete do ex-primeiro-ministro Manuel Valls, Véronique Bédague, ou da presidente do grupo socialista na Assembleia Nacional,Valérie Rabault (foi a própria que disse ter recusado, mas próximos do Eliseu alegam que não foi convidada).
Macron estará apostado em nomear desta vez uma mulher – Édith Cresson foi a única a ser primeira-ministra, entre 15 de maio de 1991 e 2 de abril de 1992, na presidência de François Mitterrand. Mas dizia-se o mesmo já em 2017 e não se veio a confirmar. “Não vou escolher um primeiro-ministro porque é uma mulher. Escolherei o primeiro-ministro mais competente, o mais capaz possível. Com o desejo e a vontade que seja também uma mulher”, disse na altura, acabando por nomear primeiro Édouard Philippe e depois, em 2020, Castex.
Sabendo que ganhou a Marine Le Pen graças ao voto da esquerda, depois de Mélenchon ter falhado a ida à segunda volta por apenas meio milhão de votos, Macron estará apostado em nomear um primeiro-ministro “comprometido com a questão social, ambiental e produtiva”. Com este perfil, um nome tem-se destacado: o da ministra do Trabalho, Élisabeth Borne. A ex-chefe de gabinete da socialista Ségolène Royal no Ministério do Ambiente, juntou-se em 2017 ao projeto de Macron, tendo sido ministra dos Transportes e também da Transição Ecológica.
Outro nome de que se fala é o de Christelle Morançais, presidente do conselho regional de Pays-de-la-Loire e membro d’Os Republicanos, ou o de Nathalie Kosciusko-Morizet, ex-ministra da Ecologia de Nicolas Sarkozy e mais tarde candidata à câmara de Paris. Outra hipótese seria Christine Lagarde, atual presidente do Banco Central Europeu. Caso Macron opte por um primeiro-ministro, surge recorrentemente o nome do ministro da Agricultura, Julien Denormandie, apresentado como um dos mais próximos do presidente. Também de fala de Alexis Kohler, atual secretário-geral do Eliseu. Esta semana se conhecerá o escolhido.
Cerimónia sóbria
A cerimónia de posse, que começa às 11.00 locais (10.00 em Lisboa) no Eliseu, contará com cerca de 450 convidados, entre os quais os ex-presidentes Nicolas Sarkozy e François Hollande. Depois de o presidente do Conselho Constitucional , Laurent Fabius, proclamar os resultados eleitorais, Macron receberá de novo o colar de grão-mestre da Ordem da Legião de Honra e discursará.
Segundo o Eliseu, no discurso irá falar das razões por que foi eleito e o que pretende fazer e “sublinhar quais serão as principais orientações do quinquénio”. Durante esta cerimónia, o chefe de Estado fará questão de “fazer parte da história do país e abrir-se ao futuro”. A cerimónia inclui ainda uma salva de canhões nos Inválidos e uma revista às tropas, que inclui a pedido do presidente um destacamento do navio Monge, que é usado para “testar e manter a dissuasão nuclear” francesa, numa referência à atual situação de guerra.