O que é que o Banco de Fomento (não) tem?
Um ano depois de fechar a lista de nomes – incluindo nove administradores e 24 diretores – para liderar a instituição que permitiria dar vida à recuperação pós-covid, entre garantias e milhões do PRR, o Banco de Fomento permanece um corpo estranho. Tão estranho que aparentemente ninguém se lembra ou quer alguma coisa com ele. Seja porque os programas não convencem, porque os requisitos são demasiado apertados para as empresas poderem recorrer e eles ou porque o desajuste entre oferta e necessidades é desproporcional. Tão estranho que se revela incapaz até de atrair um profissional com créditos dados que aceite o cargo de presidente do conselho de administração.
A indicação e retirada de cena de Vítor Fernandes para chairman pelo governo – em poucos dias colado ao caso que envolve Luís Filipe Vieira e descartado, apesar de ter tido carta branca do governador do Banco de Portugal – aconteceu no verão passado e hoje, com novo verão à porta, o lugar continua por ocupar, sabendo-se por estes dias que o novo ministro da Economia ficou sem cartas na manga à primeira recusa.
O Banco de Fomento está “no terreno, está operacional”, só precisa de um chairman que tenha “visão estratégica e ligação ao mundo empresarial”, explicava o ministro da Economia, António Costa Silva, há um mês, assegurando que tudo estava bem com a instituição, anunciada como chave para nos salvar a todos, a arma ideal para encaixar os milhões da ‘bazuca’ europeia e disparar sobre a economia.
Mas aparentemente o homem do plano só reconheceu um português que encaixasse na job discription. O reconhecido salvador do Lloyds, herói do sistema financeiro britânico, banqueiro de créditos mais do que reconhecidos no mundo e com uma folha profissional que nem os cambalachos do Crédit Suisse (que acaba de somar mais uns 250 milhões de euros de prejuízos depois de correr com quem queria limpar-lhe as contas) conseguiram manchar.
O ministro da Economia apontou ao nosso melhor, é verdade, mas não pecava se tivesse um plano B. Mesmo porque era uma num milhão a probabilidade de Horta Osório aceitar liderar uma instituição portuguesa na esfera estatal, dispondo-se a aguentar as incongruências e inconsistências do sistema público português, vendo as suas decisões questionadas diariamente por governo, deputados e opinião pública, ao sabor da polémica do dia e das necessidades eleitoralistas do momento.