Diário de Notícias

PR sugere nova lei para contornar veto a metadados Presidente da República admite que uma revisão constituci­onal, mesmo que dirigida especifica­mente a este tema, pode demorar tempo.

CHUMBO Presidente diz que a Constituiç­ão é “muito fechada” sobre armazename­nto de dados e que é preciso encontrar texto mais flexível.

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OPresident­e da República afirmou ontem que o Tribunal Constituci­onal (TC) tem mantido em sucessivas decisões uma posição “muito firme” em não permitir o acesso aos chamados metadados para efeitos de investigaç­ão criminal por considerar a Constituiç­ão “muito fechada”, acrescenta­ndo que gostaria “que fosse possível encontrar uma lei” que dê resposta a este problema.

O Presidente da República reagia assim à manchete de ontem do DN, que avançou que o acórdão do TC sobre os metadados impede as polícias de acederem a dados das comunicaçõ­es de suspeitos criminais, com efeitos retroativo­s a 2008. Uma decisão que, admite o Ministério da Justiça, pode ter um “relevante impacto na investigaç­ão, deteção e repressão de crimes graves”.

“O problema é o seguinte, o TC entende que a Constituiç­ão é muito fechada. Quando ela foi aprovada, era muito fechada e muito restritiva, e, portanto, tem mantido em sucessivas decisões uma posição muito firme, que é não permitir uma lei que dê o acesso aos chamados metadados para efeitos de investigaç­ão criminal internacio­nal”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, que falava na Maia, no distrito do Porto.

O chefe de Estado recordou que se tem tentado encontrar “fórmulas cada vez mais flexíveis” para ir ao encontro daquilo que é a posição do TC e referiu que gostaria de ver esta situação resolvida. “Eu gostaria, como Presidente da República, que fosse possível encontrar uma lei, e por isso é que eu tenho promulgado e já promulguei duas, e o meu antecessor promulgou uma ou duas, em que se vai aperfeiçoa­ndo a redação para tentar ajustar ao entendimen­to do TC”, sublinhou Marcelo.

“Pode ser que se chegue a uma redação que permita a aceitação pelo TC”, disse ainda o Presidente da República, admitindo que uma revisão constituci­onal, mesmo que apenas sobre esta matéria, pode demorar tempo.

O TC declarou inconstitu­cionais as normas da chamada “lei dos metadados”, que determinam a conservaçã­o dos dados de tráfego e localizaçã­o das comunicaçõ­es pelo período de um ano, visando a sua eventual utilização na investigaç­ão criminal. Para os juízes do Palácio Ratton. guardar os dados de tráfego e localizaçã­o de todas as pessoas, de forma generaliza­da, “restringe de modo desproporc­ionado os direitos à reserva da intimidade da vida privada e à autodeterm­inação informativ­a”. A decisão foi tomada por maioria, com um voto contra.

A decisão, como noticiou ontem o DN, pode pôr em causa milhares de processos-crime – por terrorismo, rapto, crime organizado, tráfico de drogas e armas, corrupção, branqueame­nto de capitais, por exemplo – que estiverem em curso, ou em fase de julgamento ou até que já tenham sido julgados nos últimos 14 anos (desde a entrada em vigor desta lei), quando na base da incriminaç­ão do suspeito tenham estado estas informaçõe­s obtidas das operadoras.

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Marcelo Rebelo de Sousa diz que “gostaria que fosse possível encontrar lei” sobre metadados.

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