Diário de Notícias

Conceição, um professor na austeridad­e

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“Venho para ensinar, não para aprender.” Cinco anos depois da sua chegada ao Dragão para orientar o FC Porto, Sérgio Paulo Marceneiro Conceição cumpriu a promessa inicial. Conquistou agora o 30.º título nacional da história do clube, onde chegou aos 16 anos, e o seu “ensino” passou, acima de tudo, por mostrar como superar um ciclo austero a nível financeiro, obtendo resultados desportiva­mente relevantes. Com este triunfo – duplamente especial, tendo em conta que Francisco, um dos seus cinco filhos (quatro são futebolist­as) também se sagrou campeão – entra, com apenas 47 anos, num lote restrito de treinadore­s portuguese­s que venceram a I Liga por três vezes. Antes dele, apenas Artur Jorge, Jesualdo Ferreira e Jorge Jesus (o seu primeiro treinador na I Divisão) tinham conseguido tal feito.

A opção de Pinto da Costa acabou por resultar num casamento (quase) perfeito. Tão perfeito que já dura há cinco anos, quando se sabe que o presidente do FC Porto não costuma manter os técnicos além dos três anos – a única exceção foi mesmo Jesualdo, com quatro. Aliás, é preciso recuar a 1942 para encontrar um treinador que estivesse tanto tempo à frente da equipa: na altura foi o húngaro Mihály Siska que se aguentou no cargo cinco temporadas.

Natural de Ribeira de Frades, terra de sportingui­stas, católico praticante, cedo teve de enfrentar grandes adversidad­es: perdeu o pai aos 16 anos, num acidente depois de o ter levado ao Porto, e a mãe quase a seguir. Talvez por isso, determinaç­ão, para o bem e para o mal, nunca lhe faltou, fosse nos treinos, nos jogos ou nos gabinetes. Extremo raçudo, 56 vezes internacio­nal A, foi diretor desportivo e adjunto antes de abraçar a sua vocação de treinador principal, estreando-se ao serviço do Olhanense e deixando logo a sua marca, como recordou Fernando Alexandre, seu jogador nos algarvios: “Se alguém mete os seus interesses à frente dos da equipa, isso tem consequênc­ias.” E, acompanhad­o por uma equipa técnica que faz sempre questão de enaltecer, nisso nunca mudou.

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