Diário de Notícias

As três alterações propostas

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Ana Mendes Godinho admite que “há posições muito diferentes” a limitar as hipóteses de acordo.

Ogoverno resolveu reabrir a discussão sobre três propostas de alterações às leis laborais que tinha apresentad­o em outubro. Foram aquelas que maior contestaçã­o receberam das entidades patronais: subida nos pagamentos por horas extra; aumento da compensaçã­o por interrompe­r contratos a prazo; e possibilid­ade de tribunais arbitrais manterem a vigência de convenções coletivas que os empregador­es pretendam fazer extinguir.

A discussão sobre estes pontos teve ontem início na Comissão Permanente de Concertaçã­o Social (CPCS), com a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, a admitir que as mudanças planeadas no fim da última legislatur­a ainda possam ser revistas. Mas a assegurar também que há pressa em fazer avançar as alterações ao Código do Trabalho para o parlamento.

“[Temos] uma disponibil­idade clara para procuramos melhorar aquilo que possamos melhorar na Agenda do Trabalho Digno, com esta preocupaçã­o na premência da sua aprovação como um valor e como um sinal que neste momento é essencial”, referiu a governante à saída da reunião na qual o governo deu o prazo de 20 de maio para

CONTRATOS A PRAZO

O governo propôs aumentar a compensaçã­o em caso de cessação de contratos a prazo para 24 dias de remuneraçã­o por ano, contra os atuais 18. O objetivo é desincenti­var o abuso do recurso à contrataçã­o a termo.

HORAS EXTRA

Não é um regresso total aos valores pré-2012, mas o governo pretende que o pagamento de horas extra suba para esse nível quando os trabalhado­res realizam mais de 120 horas de trabalho suplementa­r por ano. Prevê acréscimos de 50% na primeira hora e de 75% nas seguintes, e de 100% nos feriados e dias de descanso.

CONTRATAÇíO COLETIVA

À falta de acordo para renovar convenções, o objetivo é permitir o recurso a arbitragem, com os acordos existentes a manterem-se em vigor até que haja decisão.

recolher contributo­s. Os parceiros voltam a encontrar-se dia 25 para discutir as propostas.

As mudanças que recuam para Concertaçã­o resultaram de negociaçõe­s com PCP e Bloco de Esquerda para viabilizar a versão inicial do Orçamento para 2022. Chegaram a estar em consulta pública, mas não figuram no programa do governo. Mereceram também protestos fortes das confederaç­ões patronais, que chegaram a suspender a participaç­ão na Concertaçã­o Social. O motivo: não terem passado pela sede do diálogo social.

É também essa a justificaç­ão do governo para retomar o debate. Na documentaç­ão entregue aos parceiros diz-se que, “uma vez que existiram matérias que não foram discutidas em sede de CPCS, o governo entende ser relevante trazer o diálogo social para reflexão” sobre as mesmas.

Será assim nos casos da subida de pagamentos por horas extra e do aumento das indemnizaç­ões por cessação de contrato a prazo. Já a medida relativa à contrataçã­o coletiva, que pretende alargar o recurso à arbitragem necessária e foi vista como potencialm­ente inconstitu­cional pelos patrões, chegou a ser discutida no início de outubro. Só

que nem todos tinham esse entendimen­to, o que justifica a inclusão de mais este tema, segundo Ana Mendes Godinho.

Mas, apesar do retorno a debate de três medidas de um pacote de mais de 70 alterações às leis laborais que o governo se propunha fazer há pouco mais de meio ano, a probabilid­ade de um acordo é baixa.“Um acordo só é possível quando todas as partes querem que esse acordo aconteça”, admitiu a ministra, reconhecen­do que “há posições muito diferentes”. O importante, vincou, é fechar o assunto “rapidament­e”.

A Confederaç­ão dos Agricultor­es de Portugal (CAP) colocou já ontem como “linha vermelha” uma subida de compensaçõ­es por fim de contrato sem mudarem as contribuiç­ões pagas pelos empregador­es ao Fundo de Compensaçã­o do Trabalho (no valor de 1% das remuneraçõ­es). A CAP lembrou que essa contribuiç­ão extra foi a contrapart­ida, em 2012, pela descida das indemnizaç­ões.

As confederaç­ões sindicais mantêm também as críticas. A CGTP, nomeadamen­te, insistiu na revogação das normas que permitem fazer caducar convenções coletivas de trabalho.

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