Diário de Notícias

Divisões sobre abordagem a Moscovo

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As recentes declaraçõe­s do presidente francês e o pedido de trégua a Moscovo por parte do chanceler alemão abriram brechas na frente unida pela Ucrânia. O próprio presidente ucraniano repreendeu Emmanuel Macron.

“Isto é exatamente o que líder ocidental algum deve fazer – oferecer a Putin parte da soberania da Ucrânia para permitir que este salve a face”, comentou o economista sueco Anders Aslund, autor de Russia’s Crony Capitalism, sobre a iniciativa do Eliseu. Na segunda-feira, Emmanuel Macron disse que a paz terá de ser construída sem “humilhar” a Rússia, o que foi mal recebido em Kiev. “Não devemos procurar uma saída para a Rússia, e Macron está a fazer isso. Em vão”, comentouVo­lodymyr Zelensky em entrevista ao canal italiano RAI. “Sei que ele quer obter resultados na mediação entre a Rússia e a Ucrânia. Mas não obteve nenhum. Até que a Rússia queira e entenda que precisa [terminar a guerra], não procurará nenhuma saída”, disse ainda o presidente ucraniano.

O Eliseu desmentiu que o chefe de Estado francês tenha tentado obter “concessões diplomátic­as”. Para o ministro dos Negócios Estrangeir­os Jean-Yves Le Drian, há que “manter um meio de diálogo, um vetor de possível discussão”, até porque, lembra, “o presidente Putin não quer falar com o presidente Zelensky, que considera ser irresponsá­vel, não representa­tivo, e portanto não legítimo”.

O pedido de uma trégua por parte de Olaf Scholz a Putin também foi visto por vários comentador­es como “inapropria­do” numa altura em que as tropas russas dão sinais de poderem vir a ter o mesmo destino no leste da Ucrânia como tiveram em Kiev. E expõe a diferença de abordagem entre Londres e Washington, de um lado (Joe Biden chegou a dizer que Putin “não pode continuar no poder”), e de Paris e Berlim, do outro. “O mundo anglófono está a salvar a Ucrânia, enquanto a União Europeia está a salvar-se a si mesma”, afirma o investigad­or irlandês Eoin Drea, do centro de reflexão Martens Centre, em Bruxelas, ao Politico.

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