Problemas do SNS em versão ‘pescadinha’
Oque veio primeiro: o ovo ou a galinha? É isto que o governo discute, em lugar de se dedicar a resolver os problemas do Serviço Nacional de Saúde, que se tornam mais graves a cada dia. Perante o encerramento de várias urgências obstétricas, deixando desamparadas as grávidas de um país a viver uma crise demográfica sem comparação na Europa, vem a ministra da Saúde sublinhar que os problemas são pontuais e circunscritos àquela especialidade. Que tudo o mais corre bem no SNS – à exceção, claro, de todo o tipo de cirurgias, que vão ficando por fazer porque não há pessoal que chegue para responder a urgências e agendamentos, e dos constantes adiamentos de consultas, e das demissões em bloco de sucessivas equipas de chefia de hospitais de todo o país porque não têm meios para trabalhar nem o respeito de quem os tutela.
Para responder à muito específica crise nas urgências obstétricas, Marta Temido anuncia então que vai anunciar um plano. Esse plano, revela enfim, é criar uma comissão para olhar, acompanhar e fazer um plano para resolver os problemas. Mas é claro que a tutela também está atenta. Sabe, por exemplo, que é preciso mais profissionais e até está disposta a ir contratá-los lá fora, enquanto as vagas que promete adicionar ao curso de Medicina não produzem frutos. Quer formá-los e importá-los, ainda que saiba que há mais de 1200 recém-especialistas só à espera que o governo lhes abra a porta para poderem começar a trabalhar no SNS. Diz que não é por dinheiro que se movem médicos, enfermeiros, especialistas e auxiliares, mas sabe que lhes paga uma miséria e até promete dar mais, fazer melhorias a brevíssimo trecho.
Do lado das Finanças, entende-se que há falta de pessoas no SNS mas recusam-se questões de financiamento. Claro que, para as contratar e as convencer a ficar, é preciso pagar. E o governo não consegue convencer os representantes desses profissionais a aceitar só mais umas moedas. Parece que querem ganhar o mesmo que os tarefeiros, que são chamados, quando o circo já arde, para apagar o fogo. Ora, o Executivo o que queria mesmo era que estes também viessem em versão low-cost...
A questão, que é complexa, no que se ouve ao governo, resume-se a isto: há serviços de saúde que não são prestados porque faltam médicos. Para pagar aos médicos é preciso dinheiro. O governo não quer gastar muito mais do que já despende, logo não consegue profissionais. Mas o dinheiro não é um problema. O problema é a falta de médicos. Entendeu?