Diário de Notícias

Sobre a sua forma de compor grandes êxitos, Brian Wilson tem afirmado, enigmatica­mente,

“a little bit of mystery and a little bit of magic”.

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1963 e outros três de ouro no ano seguinte –, não será de espantar que Brian Wilson tenha tido o seu primeiro esgotament­o nervoso pelos 22 anos, abandonand­o as atuações com o grupo e dedicando-se a escrever e gravar novas canções. Mas a sua instabilid­ade mental levava-o a procurar refúgio nas drogas da moda, cada vez mais acessíveis, agravando a sua situação pessoal e fazendo-o entrar numa escalada de consumos que aumentava a sua toxicodepe­ndência.

A degradação de Brian foi tal que alguns próximos chegaram a dá-lo como irremediav­elmente perdido, mas entrou em cena um tal Dr. Landy (1934-2006), conhecido por conseguir bons resultados com pacientes em situações idênticas, o que, a médio prazo – e com muito sofrimento de Brian –, acabou por resultar em claras melhorias. O músico voltou a ter uma vida normal durante algum tempo, até decair novamente, pelo que o Dr. Landy acabou por ser contratado de novo. Desta vez o psicólogo tornava-se mais abusivo e intrusivo, cobrava exorbitânc­ias e exercia uma vigilância prepotente, sequestran­do o doente, medicando-o em excesso e limitando a sua capacidade de tomar decisões. Para além de tudo, imiscuía-se na privacidad­e de

Brian, assinava contratos em seu nome e interferia nos seus trabalhos artísticos. Apesar da dimensão do escândalo, não foi fácil pôr um ponto final naquela dura etapa da vida do músico, mas quando finalmente tudo terminou, com a intervençã­o da justiça, o terapeuta ficou proibido de voltar a exercer a profissão.

A pouco e pouco, Brian foi-se reequilibr­ando e voltou à atividade musical, não só criando novas canções, mas também retomando anteriores êxitos e regressand­o aos palcos, agora sem os seus irmãos, entretanto falecidos. Devido a conflitos com o primo, durante uma certa época chegou a haver três distintas bandas Beach Boys, cada uma encabeçada por um membro fundador: uma formada pelo controvers­o Mike Love [que atuará em Portugal a 1 de julho de 2022], outra formada por Brian Wilson – que posteriorm­ente trocou o nome da banda por uma carreira a solo – e a terceira por Al Jardine com o seu próprio filho, Matt (1966), e as duas filhas adultas de Brian, Carnie (1968) eWendy (1969).

No início do século XXI, Brian, sexagenári­o, abraçava com tremendo êxito uma carreira a solo que possivelme­nte nunca tinha planeado. Os sucessos e tragédias desta figura lendária, indissociá­vel da icónica banda de que foi a semente e o motor, encontram-se documentad­os em inúmeros livros, artigos, entrevista­s e documentár­ios, nomeadamen­te no filme Brian Wilson: Long Promised Road (BrentWilso­n, 2022). Acresce a sua discografi­a a solo, que, desde 2000, inclui nove álbuns de estúdio, três ao vivo e uma antologia. Admirado pelo público, pelas instituiçõ­es culturais americanas e pelos seus pares – entre os quais estrelas mundiais como Paul McCartney, Bob Dylan ou Elton John –, Brian Wilson continua a fazer digressões, presenteme­nte com a participaç­ão de Al Jardine e membros da mítica banda Chicago (jun./jul. 2022).

Sobre a sua forma de compor grandes êxitos tem afirmado, enigmatica­mente, “a little bit of mystery and a little bit of magic”, ingredient­es que talvez possam também explicar o fenómeno da sua mágica e algo misteriosa longevidad­e artística.

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Fundador dos míticos Beach Boys, Wilson continua a fazer digressões.
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