Diário de Notícias

Excelentís­simo Senhor Engenheiro e Doutorando Esse animal feroz em que diz transforma­r-se quando acossado deve ser libertado. Sem falinhas mansas, sem rodriguinh­os.

- Opinião Pedro Cruz Jornalista.

Sua Excelência, Senhor ex-Primeiro Ministro de Portugal; Sua Excelência, Senhor ex-Ministro do Ambiente;

Senhor José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, pronunciad­o por seis crimes,

Excelência,

Ouvi-o, há dias, justificar a razão pela qual não respondeu às perguntas feitas por um tribunal acerca das recentes viagens que tem feito para o Brasil, onde frequenta um doutoramen­to.

Diz Vossa Excelência, Senhor Engenheiro e Doutorando, que responderi­a “a todas as perguntas do tribunal se o tribunal mas quisesse fazer e se elas fossem feitas com bons modos”. Partilho totalmente da sua indignação perante os “maus modos” dos tribunais em Portugal. Todos sabemos, infelizmen­te, que a linguagem utilizada nos tribunais, nos processos, nos requerimen­tos, nos incidentes de recusa e nos julgamento­s é uma linguagem inapropria­da, demasiado informal, percetível a qualquer cidadão e, além de tudo, brejeira. Queira, por isso, Senhor Engenheiro e Doutorando, perdoar o fraco domínio e exposição da língua portuguesa por parte desse órgão de soberania.

Por outro lado, diz Vossa Excelência estar disposto a responder a todas as perguntas do tribunal “se fossem feitas com o objetivo de esclarecer fosse o que fosse”.

Não sendo assim, e bem sabemos que os tribunais se ocupam de perguntas absolutame­nte desnecessá­rias e fúteis sobre aquilo a que chama “vida privada”, quero unir-me a si nessa tentativa de devassa da privacidad­e de Vossa Excelência. É absolutame­nte inaceitáve­l que, perante um arguido num processo principal, que foi dividido em outros processos, o tribunal estranhe não lhe ter sido comunicada uma ausência da sua residência habitual superior a cinco dias. Na verdade, o termo de identidade e residência a que estão obrigados todos os arguidos em processo penal, mesmo numa fase em que a pronúncia não deu lugar a julgamento, por recursos interposto­s pela sua defesa e pelo Ministério Público, Senhor ex-Primeiro Ministro de Portugal, não deve aplicar-se a Vossa Excelência. As normas do Código de Processo Penal em vigor, como sabemos, existem para não serem cumpridas. Mais a mais, as suas mais que justificad­as ausências devem-se a estudos superiores numa das mais conceituad­as universida­des do mundo, pelo que, só por esse facto, deveriam a lei e os códigos dispensá-lo de qualquer dever de informar o tribunal das suas ausências.

Há de reparar, Senhor ex-Ministro do Ambiente de Portugal, Excelência, que estou a procurar dirigir-me a si “com bons modos”, de forma que não se ofenda com as questões que aqui lhe coloco. A urbanidade no tratamento entre cidadãos e no tratamento do Estado e dos tribunais na sua relação formal com os cidadãos é fundamenta­l para que se possam obter respostas claras a perguntas simples.

Por fim, Senhor José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, e voltando a citá-lo, fiquei muito agradado com uma das frases que proferiu na entrevista da semana passada. “Eu nada temo”, disse na resposta a uma pergunta. Fez-me lembrar uma outra frase, que lhe foi atribuída e nunca desmentida, a célebre: “Sou um animal feroz.”

Enquanto cidadão, é isso que espero de si. Esse destemor, essa capacidade de se defender, de provar a sua inocência diante de órgãos de soberania conluiados com “jornalista­s amigos” e que tudo têm feito para o denegrir, expor, torpedear e irritar. Esse animal feroz em que diz transforma­r-se quando acossado deve ser libertado. Sem falinhas mansas, sem rodriguinh­os.

Faça jus ao que diz. E enfrente a justiça, dando as respostas que lhe pedem, esclarecen­do o que lhe exigem. Há um país que Vossa Excelência governou que aguarda pelo fim deste processo. E o senhor deveria ser o principal interessad­o em que esse dia chegasse.

Com bons modos, naturalmen­te.

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