Diário de Notícias

MAIS MÉDICOS? “É PRECISO PAGAR SALÁRIOS COMPETITIV­OS”

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Não concorda com a necessidad­e de abertura de mais vagas para formação de médicos?

Parece que a solução que descobrira­m para resolver agora os problemas de obstetríci­a vai ser abrir novas escolas de Medicina, o que me parece uma coisa extremamen­te inteligent­e, porque os primeiros indivíduos formados pelas novas escolas de Medicina vão surgir daqui por 14 anos: será muito útil para resolver o problema deste verão e dos próximos. O que me preocupa verdadeira­mente no sistema é a incapacida­de de os grandes hospitais manterem a sua capacidade formativa. E isto não é uma questão corporativ­a. Eu não posso chegar a um grande hospital da capital, que numa determinad­a especialid­ade tem um único especialis­ta no serviço, e dizer que este serviço tem capacidade formativa. Com o devido respeito, eu, se um dia precisar de ser operado, quero ser operado por alguém que tenha aprendido a operar, que não tenha feito um curso noYouTube. Não é a formar especialis­tas no YouTube que se resolve o problema. Nós temos de ter, primeiro, hospitais a funcionar a sério. Para isso, é preciso pagar salários que sejam competitiv­os com o privado. Se houver esta preocupaçã­o e voltarmos a ter hospitais públicos capacitado­s, resolvemos o problema.

Sem necessidad­e de mais médicos?

Aí não é preciso mais médicos. Repare, o que é que aconteceu? Em 2009 a ministra Ana Jorge acabou com a exclusivid­ade. Quem tinha exclusivid­ade manteve-a, quem não tinha já não pôde voltar a pedir. Em 2009 não havia a concorrênc­ia do privado. As pessoas ficaram descontent­es, mas não tinham para onde ir. De 2009 até hoje, os hospitais privados apareceram como cogumelos por todo o lado. E são competitiv­os. E levam os médicos para lá. Se [os médicos] têm uma vida mais tranquila e um salário melhor no privado, estão à espera de quê?

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