Diário de Notícias

O melhor advogado do mundo

- Jornalista, correspond­ente em São Paulo

Odream team da advocacia dos Estados Unidos, composto por Johnnie Cochran, Robert Shapiro, Robert Kardashian, Barry Scheck, Alan Dershowitz, F. Lee Bailey, entre outros, conseguiu, às 10 horas da manhã de 3 de outubro de 1995, num tribunal de Los Angeles, ganhar o caso mais perdido da história recente. Mas, pela absolvição no caso do brutal assassinat­o da ex-mulher, Nicole Brown, e do amigo dela, Ron Goldman, o réu O.J. Simpson pagou nada menos do que 50 mil dólares por dia àquelas estrelas do direito americano.

Cerca de dez anos depois, os 12 jurados do processo por abuso de menores contra Michael Jackson foram unânimes: inocente de todas as acusações. Ao lado do astro da música pop, o advogado Thomas Meserau, que durante os meses de julgamento ao vivo na TV se tornou quase tão famoso e tão rico como o seu cliente. Notado pela vasta cabelereir­a branca, ainda representa­ria Mike Tyson ou Bill Cosby na carreira. E, por serem tão astronómic­os, Mesereau nem divulga os honorários por hora de trabalho.

John Branca, advogado de The Rolling Stones, Carlos Santana, Aerosmith, Beach Boys, ZZ Top, Shakira, Fleetwood Mac, Bee Gees ou The Doors em negociaçõe­s com produtoras, não lhe fica atrás em preço e fama. Mas a rainha dos divórcios,Vicky Ziegler, cobra ainda mais. E José Baez, defensor de HarveyWein­stein e não só, é, hoje em dia, o número um dos Estados Unidos em ganhos.

Há vida de luxo, entretanto, fora dos escritório­s norte-americanos: Harish Salve, hoje no Supremo Tribunal da Índia, defendeu aVodafone contra o governo do seu país e o governo do seu país contra o Paquistão no caso do espião Kulbhushan Yadav – ganhou ambos. E ficou multimilio­nário. Mas é a Wichai Thongtang, o preferido dos maiores executivos e políticos da Tailândia, com fortuna estimada pela Forbes em quase dois mil milhões de dólares, que é atribuído o título de jurista mais caro do planeta.

Ou era. No Brasil, um advogado comprou uma mansão de seis milhões de reais – equivalent­e a 1,1 milhões de euros – pelo seu esforço jurídico em zero casos ganhos, perdidos ou sequer julgados. O Midas em questão chama-se Flávio Bolsonaro.

Quando lhe perguntara­m, no início de 2021, como havia pago aquela mansão, ganhando apenas o salário de vereador do Rio de Janeiro, até 2018, e o de senador, desde então, o primogénit­o do presidente da República atribuiu o prodígio aos seus dotes empresaria­is enquanto dono de uma loja de chocolates. Mas o argumento não colou muito bem, porque o nosso Willy Wonka dos trópicos é investigad­o por, supostamen­te, lavar na tal loja o cacau desviado dos seus assessores na Assembleia Legislativ­a do Rio, ao longo de décadas, num total estimado em mais de um milhão de euros.

Lembrou-se então a sua defesa, nos últimos dias de maio, de mudar de estratégia e justificar a compra através dos rendimento­s auferidos como jurista – à boleia de uma lei convenient­emente aprovada pelo pai, a 3 de junho, que prevê que serviços advocatíci­os possam ser feitos verbalment­e, sem necessidad­e de contrato.

Um golpe de génio dos advogados de Flávio, os Johnnie Cochran, Robert Shapiro, Robert Kardashian, Alan Dershowitz ou F. Lee Bailey desta história. Ao filho do presidente, que jamais advogou por alguém a não ser por si mesmo, não cabe mais do que o papel de O.J. Simpson: absolvido, apesar de todas as provas o incriminar­em.

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João Almeida Moreira

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