Catequistas e freiras entre os abusadores sexuais da Igreja portuguesa
Maioria dos crimes foram cometidos por sacerdotes. Dos 338 testemunhos já validados, 17 de padres em funções foram enviados para o Ministério Público.
Os membros da Igreja Católica em Portugal que abusaram sexualmente de crianças e jovens são “maioritariamente” padres, mas também há “catequistas e religiosas (freiras)” entre os abusadores, revelou Ana Nunes de Almeida, socióloga e membro da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica em Portugal, ontem, numa conferência de imprensa, em Lisboa. A comissão já validou 338 testemunhos e encaminhou 17 casos de padres em funções em várias dioceses do país para o Ministério Público (MP).
A Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica em Portugal fez, ontem, na Fundação Gulbenkian, um balanço dos seis meses de atividade. Segundo Ana Nunes de Almeida, “a esmagadora maioria dos abusos é praticada por padres e não tanto por catequistas e acólitos”, embora estes, assim como freiras, também figurem entre os abusadores. Os episódios aconteciam nas sacristias e nos confessionários e ainda em “colégios particulares, instituições, seminários e escuteiros”, adiantou Pedro Strecht, coordenador da Comissão.
Baixas expectativas
Desde o último balanço, em maio, só foi enviada mais uma queixa, além das 16 iniciais, à Procuradoria-Geral da República. Os 17 casos dizem respeito a padres que estão no ativo, mas há “poucas expectativas quanto ao êxito de uma investigação criminal”, porque a “esmagadora maioria” dos testemunhos recebidos são anónimos.
“Não identificamos, em muitos deles, o abusador nem o local do abuso. Por outro lado, chegamos à conclusão, ainda que não confirmada, que a baixa idade de algumas vítimas não as liberta para a decisão de testemunharem autonomamente pelo que, sendo assim, importará atuar junto das famílias para que também sejam elas a fazê-lo”, explicou Laborinho Lúcio que integra a comissão, num documento escrito lido por Pedro Strecht.
Vítimas em idade ativa
Em 68% dos 338 depoimentos recebidos, os denunciantes referiram que à data do abuso “sabiam que havia mais” crianças e jovens a serem vítimas do mesmo agressor e no mesmo local. A comissão apelou, por isso, à denúncia e lamentou que as queixas não estejam a chegar de algumas zonas do país “mais isoladas”, pedindo a colaboração de instituições locais.
A socióloga Ana Nunes de Almeida salientou que “os abusos podem ter sido há muitas décadas, mas estamos longe de estar a lidar com uma população muito idosa”. “Há sobreviventes que têm hoje, em 73% dos casos, até 65 anos. Estão em plena idade ativa”, destacou, acrescentando que “52,3% das pessoas que testemunharam têm licenciatura e um quarto da população ensino superior”. Por isso, também no meio académico se deve reforçar o apelo à denúncia.
Há “poucas expectativas quanto ao êxito de uma investigação criminal”. “52,3% das pessoas que testemunharam têm licenciatura e um quarto da população ensino superior”, explicou socióloga.